'NYTimes': EUA caminham para recessão
As estatísticas de emprego e do mercado de títulos se combinaram para enviar um alerta que foi ouvido apenas raramente nas duas últimas décadas: os Estados Unidos estão caminhando para uma recessão. A conclusão aparece na edição deste sábado (15) do
Publicado 15/09/2007 09:51
Os números constituem um duplo alerta. Ambos sinalizaram uma desaceleração econômica antes das recessões de 1990 e 2001 — e estão fazendo o mesmo novamente. Apesar de cada um já ter registrado falsos alertas individualmente, eles nunca o fizeram juntos.
No mercado de títulos, o alerta veio das diferenças entre o rendimento dos títulos do Tesouro de dois anos e a taxa básica do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para os fundos federais – a taxa para os empréstimos entre bancos. Em tempos normais, a taxa do Tesouro geralmente é mais alta. A condição oposta representa uma curva invertida de rendimento. E quando está muito invertida, o alerta de recessão é dado.
No spread (diferença) mais alto nesta semana, na segunda-feira, o rendimento dos títulos do Tesouro de dois anos caiu para 3,854%, enquanto a taxa básica dos fundos federais era de 5,25%. Tal diferença, de 1,396 ponto percentual, é a maior desde janeiro de 2001.
Também foi em janeiro de 2001 que o Fed surpreendeu o mercado com uma redução de meio ponto percentual na taxa básica dos fundos federais. Tal medida animou brevemente o mercado de ações, mas não impediu a recessão que teve início em março.
125 mil empregos a menos
O alerta dos dados do emprego veio das mudanças de seis meses no número de pessoas empregadas, como informado pela pesquisa domiciliar do Departamento do Trabalho. Em uma economia em crescimento, com um aumento da população em idade de trabalho, o número de empregos quase sempre aumenta.
Mas não agora. Os números do emprego em agosto, informados na semana passada, mostraram 145.794.000 pessoas empregadas, ou 125 mil a menos do que em fevereiro. Quando tal número entra em território negativo, é um alerta de desaceleração.
O alerta do emprego foi enviado em julho de 1990, o mês em que a recessão teve início. Um alerta da recessão de 2001 veio em julho de 2000, mas poucos o levaram a sério. Ocorreram apenas duas recessões em duas décadas, o que não é suficiente para validar qualquer conjunto de ferramentas de previsão.
Mas, se uma ocorrer, haverá críticas de que o Fed foi lento demais em reduzir as taxas de juros ao ter ignorado a ameaça da curva de rendimento invertida, assim como de ter se concentrado demais na inflação.
“Com o núcleo da inflação confortavelmente próximo de 2%, e com o mercado de títulos do Tesouro implorando por um alívio há mais de um ano, se uma recessão se confirmar, também será um erro de política”, disse Robert Barbera, o economista-chefe do ITG.
Mudança de curso
Às vezes um indicador ou outro parece fraco sem a ocorrência de uma recessão. O número do emprego parecia ruim em 1995, mas não houve confirmação do indicador de taxa de juros.
De forma semelhante, em 1998 o indicador de taxa de juros chegou perto de soar um alarme em meio aos temores causados pelo socorro a um grande fundo hedge, o Long-Term Capital Management.
Mas a diferença entre as taxas nunca chegou a 1,3 ponto percentual, e de toda forma os números de emprego permaneciam fortes. Agora ambos parecem fracos. Isto não é garantia de recessão, mas pode ajudar a explicar por que se espera que o Fed mude de curso e reduza a taxa dos fundos federais na próxima semana.