Pau que bate em Chico: a imprensa diante do mensalão mineiro
Por Luiz Weis
No antepenúltimo dos dez parágrafos da matéria de quarta-feira (26) do Estado em que o governador tucano Aécio Neves se manifesta pela primeira vez sobre o mensalão mineiro – do qual teria sido um dos 159 alegados beneficiários,
Publicado 27/09/2007 19:02
“Não dá para indiciar o Azeredo (Eduardo Azeredo, então candidato a governador e atual senador) sem indiciar o Lula”, se ficar demonstrada a equivalência entre o mensalão de Minas e o mensalão do PT.
Pelo visto, faltou combinar com os russos, no caso com o próprio Azeredo. Ele aparece no Estado, discretamente, no parágrafo anterior àquele, e na Folha, destacadamente, numa entrevista exclusiva, envolvendo ninguém menos do que Fernando Henrique.
Ao Estado ele disse que, “para começar”, a campanha em questão “não foi minha, foi do PSDB todo, inclusive de Fernando Henrique à reeleição” – o que o repórter Eduardo Kattah interpreta como uma cobrança de solidariedade.
Pode ser outra coisa. Quando o mensalão mineiro emergiu pela primeira vez, em 2005, Fernando Henrique foi o primeiro a pedir a saída de Azeredo da presidência do PSDB, que então ocupava.
Já na Folha, perguntado pela repórter Andreza Matais se o dinheiro de sua campanha “financiou a de FHC em Minas”, Azeredo não hesitou. “Sim, parte dos custos foram bancados pela minha campanha.”
E se pelo menos parte desses recursos teve a origem que lhe atribui agora a Polícia Federal – envolvendo dinheiro público ilicitamente arrecadado pelo publicitário e operador Marcos Valério, prefigurando a sua atuação no plano federal seis anos depois -, o argumento de Paulo Renato teria de ficar assim:
“Não dá para indiciar o Azeredo sem indiciar o Lula e não dá para indiciar o Lula sem indiciar o Fernando Henrique.”
Como é mesmo o ditado? Pau que bate em Chico bate em Francisco.
O observador de mídia só não entende por que a Folha, na chamada de 35 linhas de coluna que se segue à bem escolhida manchete de primeira página “Walfrido afirma inocência e diz que fica no ministério”, não incluiu nenhuma referência ao fato de Azeredo ter posto FHC na roda do infortúnio, na mesma edição.
De qualquer forma, a presença de Aécio, Azeredo e, por tabela, Fernando Henrique, no noticiário do dia sobre o mensalão 1.0 tira gás da teoria de que a mídia só fala de Walfrido – para atingir Lula, de quem é ministro, e proteger a tucanada, de quem seria cúmplice.