Che vira símbolo oficial na Venezuela e na Bolívia
Mais do que jogar luz sobre a trajetória do companheiro de Fidel Castro na Revolução Cubana de 1959, as celebrações na Bolívia e na Venezuela em torno dos 40 anos da morte do guerrilheiro Ernesto Che Guevara, completados nesta segunda (8), reve
Publicado 07/10/2007 22:39
Embora não tenha a mesma identidade com a Venezuela do que heróis nacionais Simón Bolívar e Francisco de Miranda, o argentino já é parte do panteão do país. Um busto seu figura há dois anos no centro de Caracas, e ele empresta seu nome a ações oficiais como a Missão Che Guevara, de cursos profissionalizantes.
Nesta segunda (8), Chávez inaugura, no topo do pico andino Águia, um monumento de granito de 2,40 m, onde se poderá ler o trecho do diário de Guevara que faz referência à sua breve passagem pela Venezuela, em 1952, ainda antes de ele virar “Che”.
“Nos últimos seis anos, muitos eventos sobre Che têm sido realizados, mas nunca como agora”, diz o escritor Oscar Perdomo, 70, envolvido nas celebrações oficiais. Autor de uma “entrevista fictícia” com Che, Perdomo afirma que, ao contrário do que acontece na Bolívia, “aqui a relação com Che é tangencial, sua passagem não deixou rastros físicos”.
Na Bolívia, a celebração oficial tem nome pomposo e programação singela. Desde anteontem, comemora-se o Encontro Mundial Che Guevara em Vallegrande, um isolado casario de não mais de 10 mil habitantes, no sudeste do país, perto de La Higuera, onde o guerrilheiro foi preso.
As atividades, ao longo de cinco dias, incluem uma caminhada na “Rota do Che” -convertida em atração turística-, apresentações teatrais e até um campeonato de futebol “Copa del Che”. O presidente Evo Morales, que tem um retrato de Che feito com folhas de coca em seu gabinete e o citou no discurso de posse, deve chegar a Vallegrande amanhã.
Na Bolívia, a passagem do guerrilheiro deixou uma ferida ainda aberta. Militantes da época em que Guevara tentou implantar um movimento guerrilheiro no país participam do governo Morales e têm de conviver com militares que atuaram na perseguição ao comunista.
Dívida histórica
De acordo com o senador socialista Antonio Peredo, 71, até dez anos atrás o aniversário da morte do Che era uma data quase clandestina: “Havia uma romaria, os estudantes levavam um busto de gesso de Che, e dois ou três dias depois uma patrulha militar o derrubava e pisoteava”. Ex-membro do Partido Comunista, ele teve dois irmãos mortos em 1967, quando participavam da guerrilha com Che, a quem conheceu.
Nos 30 anos da morte de Che, o então presidente, general Hugo Banzer, homenageou os militares responsáveis pela captura, hoje à margem. “Em vez de homenagear um homem que veio para invadir o país, deveríamos honrar os soldados que o defenderam”, disse à France Presse o general aposentado Gary Prado, comandante da unidade que capturou Che.
Para o americano Jon Lee Anderson, biógrafo de Guevara, a evocação do guerrilheiro na região se explica porque ele “simboliza um tipo de ideal de mudanças radicais, às quais boa parte do mundo, a América Latina sobretudo, ainda se atém”.
“Não é por acaso que Chávez recorre a Che Guevara quando tenta invocar a presença de uma entidade que dê um caráter quase que espiritual à sua revolução bolivariana”, disse Anderson durante visita a Porto Alegre (RS), há seis dias.
Cuba fez tributo a Guevara
Cuba deu início neste domingo (7) às homenagens ao guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara, com um concerto comandado por Silvio Rodríguez e outros músicos latino-americanos, que será seguido de uma intensa jornada cultural e política.
O tributo continua até a manhã de segunda-feira (8), com um ato que começará às 8h locais (12h GMT), na praça da cidade de Santa Clara, onde Guevara liderou sua principal batalha em 1958, e onde estão sepultados seus restos mortais desde 1997.
O ato de segunda-feira será liderado por um “dirigente da revolução”, anunciou neste domingo o jornal Juventude Rebelde, sem informar se trata-se de Raúl Castro, líder interino de Cuba desde julho de 2006 devido à doença de seu irmão Fidel, que há dez anos presidiu em Santa Clara a cerimônia de exumação dos restos.
A esposa de Che, Aleida March, e seus quatro filhos; ex-combatentes e moradores de Santa Clara assistirão ao ato central na esplanada do Memorial que leva o nome de Guevara.
No teatro da Universidade Central de Villa Clara acontecerá uma virada cultural, encabeçada pelos cantores cubanos Silvio Rodríguez e Vicente Feliú.
Cuba e Bolívia lideram uma série de homenagens ao legendário guerrilheiro argentino, capturado na selva boliviana em 8 de outubro de 1967 e executado no dia seguinte pelo soldado Mario Terán, que cumpria ordens superiores.