TSE lança campanha nacional para levar mais jovens às urnas
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) enviará esta semana para as redes de TV uma campanha para atrair os jovens entre 16 e 18 anos de volta às eleições. Os filmes devem ser lançados pelo canal MTV. A decisão foi tomada após o tribunal perceber uma diminu
Publicado 07/10/2007 22:09
Em 1992, ano em que os ''caras pintadas'' pediram o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, mais de 3,22 milhões de pessoas de 16 e 17 anos fizeram título de eleitor-o que representava 3,57% do eleitorado, de cerca de 90,2 milhões.
Em 2007, até junho, o número caiu para 2,09 milhões de pessoas nessa faixa etária (1,66% do eleitorado, de quase 126 milhões). O prazo limite para o pedido da documentação é março de 2008.
A comparação com a retirada de títulos eleitorais durante o período do movimento ''Fora Collor'' com os dias atuais, no entanto, deve levar em consideração as diferenças dos dois momentos políticos, já que o ano de 92 marcou o último grande acenso do movimento estudantil no país.
Mazelas de conduta
''As mazelas têm aflorado, os desvios de conduta. Isso conduz aqueles que não são otimistas a uma visão retrógrada, como se tudo estivesse perdido. Não está. Eu vejo o período que nós vivemos como alvissareiro, sinalizando dias melhores'', diz o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello.
''O que vemos é que os jovens, até certo ponto, estão desiludidos com a política. Isso é uma visão, a meu ver, míope, porque a apatia não conduz a nada. O que nós precisamos é de perseverar e procurar a correção de rumos. E a forma de se corrigir rumos é participando ativamente, fazer uma revolução pelo voto, bem escolhendo aqueles candidatos que devem nos representar nos diversos cargos'', completa Mello.
Para Lúcia Stumpf, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), ''a juventude ainda tem muita disposição de participar das decisões do rumo político''.
''Há uma campanha no Brasil que tenta desestimular a participação política, porque hoje na grande mídia o que a gente vê é a política ser sinônimo de corrupção. Para nós, a política é muito além disso. A participação da juventude junto aos movimentos sociais organizados é um movimento importante e também na escolha dos nossos representantes'', afirma Lúcia, para quem não houve perda de ''espírito crítico''.
A campanha
A campanha – que foi desenvolvida pela TV Cultura, de São Paulo – terá versões para rádio, internet e duas opções para TV, ao custo de R$ 40 mil cada. Um dos filmes mostra cenas de protestos com adolescentes, mas sem nenhum som. O slogan que aparece escrito é: ''Se você tem 16 e 17 anos pode dizer o que pensa, mas sem título de eleitor, você não será ouvido''.
A queda verificada pelo TSE acompanha uma diminuição da participação dos jovens no total da população, algo que tem ocorrido em ritmo menos acentuado comparativamente. Em 1992, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quem tinha entre 15 e 17 anos representava 6,% da população total. Houve uma queda até 2006, quando a parcela chegou a 5,5%.
A União da Juventude Socialista (UJS), uma das entidades responsáveis pela aprovação da lei do voto aos 16 anos em 1984, saudou a iniciativa do TSE. ''Independente do motivo da campanha estar ligada a baixa de títulos em 2007, vemos com muita alegria a inicitiva do TSE. São iniciativas como essa que farão com que idéias em defesa do voto nulo ou contra a participação percam força entre a juventude'', registrou ao Vermelho, Marcelo Gavião, presidente da organização.
Ele também disse que a entidade ajudará na divulgação da campanha do TSE e que o próximo congresso da UJS terá como tema central a participação da juventude na política. ''O 14º Congresso da UJS, a se realizar em junho de 2008, terá como tema central a participação da juventude na política. Também já estamos preparando a nossa tradicional campanha ''Se liga 16'' para o próximo ano. Queremos que cada vez mais a juventude perceba que a sua participação na política pode mudar o país'', concluíu.
Descrença
Para o cientista político da Universidade de Brasília Ricardo Caldas há um processo de ''descrença nas instituições'' que ocorreu nos anos 90, mas que se agravou recentemente.
''Em 1993, cerca de 30% da população confiava na Câmara e no Senado; em 2005, eram 20%, e em 2007, em torno de 12 a 14%. Seguindo o mesmo ritmo, a confiança pode chegar a menos de 10% em dois anos. Os jovens estão nesse caldo de cultura'', diz Caldas.
Apesar desse cenário atual, houve aumentos significativos de retiradas de títulos eleitorais em 2004 e 2005: 3,66 milhões (3,01% do total do eleitorado) e 4,2 milhões (3,5% do total), respectivamente.
Debate estimula participação
Ao lembrar que, em 2005, aconteceu o referendo sobre o desarmamento, Miguel Perosa, professor de psicologia do adolescente da PUC-SP, ressalta: ''Houve muita discussão naquele ano. O dado é interessante porque, na hora que a cultura propõe debate coletivo, esse jovem embarca imediatamente''.
''Mas, de maneira geral, eles hoje têm preocupações mais individualistas. E a existência do grupo, que é importante, não está ligada fortemente a política e eleições'', diz Perosa.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, publicada em agosto, aqueles que têm 16 e 17 anos tendem a ser mais críticos com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto no total da população, 48% consideram o governo ótimo ou bom, esse número cai para 40% na menor faixa etária pesquisada. A avaliação ''regular'' sobe de 36% para 45%.
Porém, são em anos eleitoriais que a retirada de títulos entre 16 e 17 anos costumam ter maior adesão. A campanha eleitoral e o debate realizado nas ruas contribui para ajudar a desmistificar a idéia de que política é sinônimo de corrupção.