Aracruz Celulose: em novembro, 40 anos de destruição do Estado do ES
A transnacional Aracruz Celulose comemora no mês que vem 40 anos do início dos plantios de eucalipto no Espírito Santo. A empresa foi implantada com favores da ditadura militar e, nestas quatro décadas, sua monocultura destruiu o solo e a água, além da bi
Publicado 24/10/2007 16:20 | Editado 04/03/2020 16:43
Por Ubervalter Coimbra
Sobre suas atividades no Espírito Santo, a Aracruz Celulose registra em seu site: “novembro de 1967, implantação dos primeiros plantios de eucalipto”. A Aracruz Celulose é um projeto do empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei Harald V.
Lorentzen conseguiu seu intento no Brasil aliando-se às mais altas figuras da ditadura militar, como o general-presidente da República Ernesto Geisel. E com a ajuda dos representantes dos militares no Espírito Santo, os governadores biônicos (não eleitos pelo povo e nomeados pelo governo federal) Arthur Carlos Gerhardt Santos e Cristiano Dias Lopes. Gerhardt começou a preparar o terreno para o domínio da Aracruz Celulose, fundada em abril de 1972.
Arthur Carlos, à frente do Banco de Desenvolvimento do Estado, atual Bandes, no governo Christiano Dias Lopes Filho (final dos anos 60), foi quem fez toda a trama para entregar grande parte do território capixaba à Aracruz Celulose. A preço praticamente simbólico, as terras públicas ou assim consideradas pelo governo arbitrário foram vendidas a 10 décimos de centavos o metro quadrado (a moeda, da época, era ainda o cruzeiro).
Mesmo antes das negociatas com o governo federal, a Aracruz Celulose já estava em campo. Com a proteção e os poderes conferidos pela ditadura militar tanto no plano federal como no estadual, a empresa ao longo de sua história sempre empregou a violência contra os índios, quilombolas e pequenos produtores rurais.
Na fase de implantação da empresa, o processo de ocupação do território indígena foi comandando pelo major PM Orlando Cavalcante, que pertencia ao Sindicato do Crime. O major era temido por torturar, antes de matar suas vítimas, e sua atuação foi também contra posseiros que ocupavam parte das terras indígenas no município de Aracruz.
Dos índios, a Aracruz Celulose tomou mais de 40 mil hectares de terras. O próprio governo federal, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), reconhece como terras indígenas 18.070 hectares. Desde a ocupação, os índios mantêm luta de resistência para recuperar suas terras.
Contra os quilombolas no norte do Estado, a Aracruz Celulose usou os serviços do tenente Merçon, do Exército. Este tomava as terras dos descendentes dos negros tornados escravos a força ou pagando a preços vis. A empresa é a maior ocupante do território negro no Espírito Santo, de cerca de 50 mil hectares, como comprovam pesquisas científicas realizadas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Essas terras, por lei, têm de ser devolvidas aos quilombolas, que vêm lutando para refazer seu território no Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
A empresa também tomou terras de agricultores que eram donos de posses. Sem contar as terras devolutas, que por lei devem ser destinadas à reforma agrária. E, até hoje, emprega policiais militares e civis ligados ao crime para manter seus plantios e instalações, como denunciou este ano o Conselho Estadual dos Direitos Humanos (CEDH).
A Aracruz Celulose destruiu no Espírito Santo pelo menos 50 mil hectares de mata atlântica e toda a sua biodiversidade. Em seu lugar plantou eucalipto.
Nos seus 40 anos de exploração do solo capixaba, a Aracruz Celulose comemora o plantio de 1 bilhão de árvores de eucalipto, que planta para produzir a matéria prima que exporta para produção de papel higiênico na Europa e nos Estados Unidos da América.
Para propaganda, a empresa lançou no último Dia da Árvore, em 21 de setembro, uma ação interativa na web convidando os internautas a plantar uma árvore virtual e a participar de um concurso de frases, com a pergunta: ''O que representa 1 bilhão de árvores para você?''.
A empresa informa que “o lançamento da ação envolveu peças de mídia, com o objetivo de gerar visibilidade para a marca e estimular o plantio das árvores virtuais. A campanha obteve mais de 2 milhões de exibições, gerando quase 70 mil cliques para acesso ao hotsite da campanha, quase o dobro do previsto”. O concurso foi encerrado nesta segunda-feira (22).
A transnacional Aracruz Celulose praticamente não paga impostos, pois seus produtos são exportados: a empresa pagou de ICMS, em 2005, apenas R$ 6,3 milhões, um montante pago por muitas médias empresas capixabas.
Atualmente Haakon Lorentzen substituiu Erling Sven Lorentzen na Aracruz Celulose. A empresa é presidida pelo engenheiro químico Carlos Augusto Lira Aguiar, natural do Ceará.
Fonte: Século Diário.