Messias Pontes: A direita conservadora invade a UFC

Dentre os males causados pelos neoliberais tucanos-demo, capitaneados pelo Coisa Ruim, o sucateamento das universidades federais foi um dos mais perniciosos. Ao assumir o governo, em janeiro de 1995, havia a determinação de desmontar o Estado brasileir

Foram oito anos (1995 a 2002) de conservadorismo, período em que as universidades públicas federais foram tratadas a pão e água, sem aumento de investimento e principalmente de salário dos seus professores e do corpo técnico-administrativo. Foi preciso que um homem do povo, sem formação acadêmica, assumisse a presidência da República para reverter essa escabrosa situação. Nos últimos quatro anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva investiu em educação, notadamente no ensino superior, mais que os seus antecessores nas duas últimas décadas.  


 



 


Sabendo que ainda há muito por fazer, o presidente Lula, através de decreto datado de 24 de abril do corrente ano, instituiu o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais – REUNI, atendendo antiga reivindicação da comunidade universitária, da União Nacional dos Estudantes e da própria sociedade. A data limite para adesão – voluntária, diga-se de passagem – expirou anteontem, dia 29. Para a UFC, serão R$ 175 milhões até 2012, somente para o REUNI. 


 



 


A decisão de aderir ao REUNI foi tomada no último dia 19 pelo Conselho Universitário da UFC (CONSUNI), com o voto de 25 dos 27 conselheiros presentes. Os dois votos contrários foram de dois estudantes ligados ao PSOL e ao PSTU, partidos de extrema esquerda, mas que na prática atuam como conservadores de direita. Essa é a “esquerda” que a direita adora, pois defende os seus interesses como ninguém. O ex-ministro Paulo Renato e todos os neoliberais estão vibrando com a atitude dessa gente.  


 



 


Depois de mais de três horas de reunião, com a exposição feita pelo Pró-Reitor de Graduação, e de muito debate, a sala do Conselho Universitário – pela primeira vez na história da UFC – foi invadida por dezenas de estudantes contrários ao REUNI que pretendiam inviabilizar a votação, porém chegaram depois da decisão acertadamente tomada. 


 



 


Insatisfeitos com a decisão democrática da esmagadora maioria – inclusive com o voto de três outros estudantes com assento no CONSUNI – eles tentaram impedir, com ameaças, a saída dos conselheiros, numa atitude fascista. Dois estudantes que votaram a favor foram agredidos. A presidente do CA de Engenharia Civil, Paula Lordelo, também conselheira, além de xingada levou uma cuspida no rosto. A maioria deles é estudante do CEFET, da UECE e até de outros estados que participavam de encontro em Fortaleza. No último dia 25 essa súcia invadiu a Reitoria e lá permanece até hoje.


 



 


É importante ressaltar as vantagens do REUNI  para a UFC: aumento de pelo menos 40% das vagas necessárias ao cumprimento da meta de expansão em curso existentes; aumento de pelo menos 60% das vagas necessárias ao cumprimento da meta através da criação de novos cursos; alocação de pelo menos 50% das vagas dos novos cursos no turno da noite – das 1.310 vagas criadas em novos cursos, 670 serão ofertadas para o turno da noite, o que representa 51,15%, e dos cursos existentes, 22,96% das novas vagas serão ofertadas no turno da noite . 


 



 


Vale observar ainda que pelo menos 260 novos professores efetivos e 150 novos servidores técnico-administrativos serão contratados até 2011. Além dos novos docentes efetivos previstos dentro do REUNI, a UFC deverá preencher mais 165 vagas já pactuadas, chegando a pelo menos 425 novas vagas no período do programa até 2011. No tocante aos novos servidores técnico-administrativos previstos dentro do REUNI, a UFC deverá preencher mais 70 nova vagas pactuadas, chegando a pelo menos 220 novas vagas durante o programa. Isto é de uma importância extraordinária para a Universidade. 


 



 


Como não podia deixar de ser, a invasão da UFC mereceu o repúdio dos segmentos mais representativos dos estudantes, dos professores e da própria sociedade Para a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Lúcia Stumpf, maior liderança estudantil do País, os ocupantes da UFC e da UFRJ são conservadores. “Tentam impedir de forma autoritária a aprovação do REUNI”, enfatizou.  


 



 


Os outros cinco estudantes com assento no CONSUNI lançaram nota repudiando a atitude dos invasores e defendendo o REUNI. Eles destacam que, para a UFC, o projeto representa o aumento da assistência estudantil, das vagas nas residências universitárias,  reestruturação do Restaurante Universitário, com melhoria no cardápio;construção do R.U do campus do Porangabussú – reivindicação de quatro décadas. Além do aumento de pelo menos 100% do número de bolsas de assistência estudantil e 50% do seu valor. Eles enfatizam que a adesão da UFC ao REUNI deve ser mantida, conforme a vontade soberana do CONSUNI. 


 



 


A Associação dos Docentes da UFC – ADUFC, em nota intitulada “Em Defesa da Democracia e da Universidade”, também condena a invasão e mostra com muita clareza os benefícios que o REUNI trará para as universidades federais, em especial para a UFC. A nota dos professores ressalta que, no âmbito da UFC, a ADUFC foi a entidade que mais se empenhou na discussão do Programa, “usando de todos os meios possíveis – debates, artigos, jornais e divulgação eletrônica – na perspectiva de que a comunidade universitária tomasse conhecimento do projeto, debatesse e optasse pelo caminho que considerasse justo. Um dos marcos desse esforço foi o primeiro debate nacional realizado sobre o assunto envolvendo os presidentes da ANDES e do PROIFES”. 


 



 


Outro importante aspecto levantado pela ADUFC é que, “apesar do pouco tempo para as discussões, o Conselho Universitário, por ampla maioria, aprovou o projeto de adesão da UFC, considerando, entre outras coisas, que o mesmo é aberto a modificações a qualquer tempo, desde que garantidas as suas metas principais. Vale observar que a grande maioria das ações está prevista para depois de 2009 e só poderá ser efetivada após ampla discussão e, até mesmo, alterações estatutárias da Universidade”. Para a entidade máxima dos docentes da UFC, a ocupação ultrapassa todos os limites, carece de legitimidade e agride a democracia. 


 



 


A diretoria da ADUFC encerra a nota apelando ao bom senso, à tradição democrática e ao espírito de tolerância, respeito e diversidade. “Não podemos aceitar que a cegueira política de alguns macule a racionalidade e enfraqueça a democracia que tanto nos custou”. Por fim defende a Universidade pública, gratuita e de qualidade! 


 



 


Como se pode observar, os ocupantes da Reitoria da UFC são uma minoria tão insignificante que só têm o apoio dos que mercantilizam a educação e se posicionam contra a universidade pública, gratuita e de qualidade, como o ex-ministro Paulo Renato e os neoliberais de todos os matizes. Não é demais repetir que essa é a “esquerda” que a direita adora! Por isso é tão isolada. 


 


 


Messias Pontes é jornalista e membro do CONSUNI