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Azenha lembra por que mídia persegue a liderança padre Júlio

Na última sexta-feira (26), a principal liderança da Pastoral da Rua, o padre Julio Lancelotti, esteve no centro das atenções da midia. O motivo foi Anderson Marcos Batista, 25, que após ter sido preso, afirmou ter feito sexo com padre em tro

O padre e as rampas antimendigo


 


Independentemente do resultado das investigações policiais, o padre Júlio Lancelotti já estava na mira da mídia. No início de 2006, a Veja publicou o seguinte artigo:


 


''O pecado da Demagogia


 


O padre Julio Lancelotti líder de uma organização política ligada ao PT, chamada Pastoral da Rua (atenção, papa Bento 16), comete todos os dias um pecado mortal – o da demagogia. Ele é o criador de uma categoria que leva o nome de 'Povo da Rua'.


 


É a denominação de Lancelotti para mendigos, menores abandonados e loucos que vagam pelas ruas de São Paulo. A pretexto de defender o 'Povo da Rua', o padre quer transformar uma situação precária – a dos sem-teto e que tais – em permanente. Toda e qualquer iniciativa para colocar esse pessoal em abrigos, custeados pela prefeitura, limpar os logradouros públicos de barracas e excrementos e livrar os transeuntes do risco de assaltos protagonizados por pivetes é torpedeada por Lancelotti com a classificação de 'prática higienista'.


 


Os motivos do padre estão longe de ser religiosos. O que ele quer mesmo é ter a sua disposição um rebanho de manobra para fazer política. Se Lancelotti fosse mesmo sensível às necessidades de seu 'Povo da Rua', começaria por oferecer abrigo na igreja da qual é pároco: a de São Miguel Arcanjo, no bairro paulistano da Mooca.


 


A igreja, porém, tem grades nas portas e cerca elétrica nos muros – um aparato suficiente para definir aquela casa de Deus como um 'bunker antimendigo'. 'Antimendigo' é a expressão usada por ele – e por jornalistas amigos seus – para classificar pejorativamente a iniciativa da prefeitura de São Paulo de colocar rampas de superfície áspera sob o viaduto que leva à Avenida Paulista.


 


A administração municipal recorreu a esse expediente para desalojar os marginais que, instalados no local, assaltavam as pessoas que transitam por ali. Lancelotti continua a esbravejar que 'as rampas antimendigo' fazem parte de uma 'visão higienista'. Pois bem, propõe-se aqui um acordo: a prefeitura retira as rampas e o padre abandona o seu bunker e passa a morar debaixo do viaduto. Lá, poderá controlar os assaltantes e encontrar a santa felicidade junto ao 'Povo da Rua'''.


 


Fonte: Veja, 11 de janeiro de 2006, página 92, Repórter: Camila Antunes


 


Na época Fernando Altemeyer, professor e ouvidor da Pontifícia Universidade Católica, respondeu:


 


''Monsenhor Júlio Renato Lancelotti é o Vigário episcopal do povo de rua, há mais de dez anos, com muitas virtudes e particularmente a virtude da caridade vivida na esperança. Padre Júlio é fiel servidor da Igreja de Cristo há vinte anos como presbítero. É homem de confiança do Cardeal Arcebispo de São Paulo e do Papa Bento 16.


 


Se a repórter de Veja não fosse tão demagoga, teria entrado na pequena Igreja da Rua Taquari e visto a fé viva do povo da Moóca, guiada por um sacerdote de missa diária e compromisso eterno. Teria visto a luta dos amigos de S. Miguel Arcanjo contra o pecado e a injustiça. Teria visto como senhores e senhores se cotizam para ajudar a emancipar pessoas de situações de miséria e de exclusão.


 


A categoria 'povo de rua' não é uma criação sua, nem neologismo, mas um conceito válido para compreender estas milhares de pessoas que vivem nas ruas paulistanas. Bastaria ler clássicos como: O mito da desterritorialização, de Rogério Haesbaert; ou Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, de Fernando Braga da Costa; ou ainda, São Paulo, segregação, pobreza e desigualdades sociais, de Eduardo Marques e Haroldo Torres, organizadores.


 


Aliás, eivada de preconceitos está é a própria repórter ao classificar de forma simplista estes seres humanos de mendigos, menores abandonados e loucos. Pesquisa de orgãos de governo e de Universidades desmentem-na facilmente. Há famílias, há jovens, há gente desempregada, há drogados, há crianças, há estrangeiros, há negros, brancos, mestiços, há gente pobre e migrante, há gente que foi rica e há até aqueles com universidade feita. Há muitos alcóolatras. Há muitos jovens. Há catadores de papel. Há trabalhadores e albergados. E há muitos: algo como dez a quinze mil pessoas. É, portanto, realidade complexa que exige respostas complexas.


 


Ela comete o pecado original do mau jornalista: matéria sem pesquisa e comprovação de dados. Criou ficção e não foi capaz de ver a realidade. Este é um paradoxo terrível para um orgão semanal que denomina-se Veja. As críticas do Padre Júlio quanto aos moldes higienistas da prática administrativa do candidato a prefeito da cidade de São Paulo, Sr. Andrea Matarazzo, são corretas e deixaram o rei tucano nú. Este é o nó da questão.


 


O que falta mesmo na cidade é política pública para esta população e as rampas não são de forma alguma solução para nada. Não solucionam nem o problema dos pobres, nem dos demais cidadãos como eles, e, muito menos a grave situação da segurança pública, a que todos (os que tem teto e os que não tem) estamos expostos. Nesta mesma semana em que estamos são os policiais que estão sendo aniquilados e metralhados em nossas ruas.


 


Os motivos de Padre Júlio são religiosos, antropológicos, políticos, humanos, filosóficos, teológicos, sentimentais, e sobretudo, éticos. Por que tanta dicotomia entre religião e política? Medo da denúncia? Quem quer construir um bode expiatório é a repórter, seu editor e a Veja ao permitir esta matéria mal feita.


 


A Igreja de Padre Júlio sempre foi abrigo, pequenina que é, desde seu nascedouro, pois os católicos da Móoca e Belenzinho, sempre souberam acolher os mais pobres com amor e carinho. Nenhuma grade jamais existiu nesta Capela e Igreja para impedir de receber qualquer ser humano. Se alguém dúvida, que vá e veja. Sem o tampa-olhos da Veja e sem demagogia.


 


Dezenas de comunidades na Zona Leste, particularmente aquelas que existem nas favelas se cotizaram para construir a comunidade S. Martinho. Para apoiar a Casa Vida, para acompanhar a Liberdade Assistida, para visitar a Febem, para valorizar as crianças, para apoiar os portadores de HIV-Aids, para recolher e apoiar migrantes e sem teto. Tudo fizeram para rezar e partilhar na Catedral de Oração no bairro da Luz, esta construída com doação de budistas japoneses da Fundação Niwano. Fizeram com o Padre Júlio aquilo que todos sempre quiseram e buscaram numa cidade digna: transformar as vidas e construir igualdade social.


 


Padre Júlio é Doutor Honoris Causa pela PUC-SP.
Padre Júlio acaba de receber no Rio de Janeiro, o Prêmio Alceu Amoroso Lima, das mãos do reitor da Universidade Candido Mendes.
Padre Júlio é diretor da Casa Vida 1 e 2.
Padre Júlio é da Pastoral do Menor. E de inúmeras Comissões de Direitos Humanos.
Padre Júlio Renato Lancelotti é um homem transparente. Não é conivente com o pecado nem com a injustiça.


 


É lamentável que a repórter Camila Antunes não tenha sido capaz de ver isto com discernimento e respeito. Ficam, portanto, algumas perguntas: Teria sido ela e sua matéria manipulada pela direção da Veja? Muitos dizem que isto é a praxe corriqueira deste periódico? Teria sido esta uma matéria encomendada por políticos incomodados? Quem a teria pago? Quantos foram os trinta dinheiros a trair o seguidor de Cristo? Por que nenhuma linha foi transcrita sobre os assassinos da população de rua passado já mais de um ano da chacina? Seria isto conivência com a mentira? A demagogia é de quem, afinal? A revista quererá induzir seus leitores ao ódio e à discriminação? Se isto for verdade é muito grave. Merece de todos nós leitura crítica. Continuarei a recomendar a todos que cancelem suas assinaturas desta revista.


 


Prof. Fernando Altemeyer Junior
Professor universitário e atual Ouvidor Público da PUC-SPR.''


 


Publicado em 28 de outubro de 2007