Na Bahia, embaixador de Cuba fala da importância da integração latino- americana

O Embaixador cubano no Brasil, Pedro Nuñez Mosquera, esteve na Bahia para participar do lançamento do núcleo baiano da Frente Parlamentar de Solidariedade à Cuba, que aconteceu na Câmara de Vereadores de Salvador no último dia 5/11. Em entrevista a equipe

Vermelho – Quais são as afinidades entre a Bahia e Cuba?


 


Pedro Mosquera – Existem muitas afinidades. A Bahia como Cuba vem passando por um processo de transculturação, temos uma forte raiz ibérica, uma forte raiz aborígine, mas também uma forte raiz africana. A cultura baiana e a cubana são praticamente a mesma, enquanto as religiões, as comidas, as danças, até a forma de ser das pessoas  tem muita similitude entre o perfil baiano e o cubano, por isso, salvador é  cidade irmã de Havana.


 


Vermelho – Como o senhor vê a integração latino-americana?


 


Pedro Mosquera – Acho que a integração é essencial, é fundamental. Se não nos integrarmos, nos desintegram. Hoje mais que nunca, as possibilidades para a integração são muito grandes, temos governos de centro-esquerda em vários países da região, temos governos como uma clara postura revolucionária na Venezuela, na Bolívia. Pela primeira vez em muitos anos, há um alto número de governos da América Latina favoráveis  á integração, á  cooperação. Acho que o fortalecimento da União Americana de Nações, do Mercosul, a Comunidade do Caribe são fundamentais para potencializar esta vontade dos governos de trabalhar pela integração da região.


 


Vermelho – Qual a sua opinião sobre o processo em curso na Venezuela?


 


Pedro Mosquera – É um processo revolucionário, onde o governo de Hugo Chávez  está pela primeira vez na história, utilizando as riquezas naturais do país, os benefícios do petróleo em função do desenvolvimento econômico e social da população. O governo de Chávez e outros governos como o de Cuba promovem a alternativa Bolivariana, a ALBA, para  promover a verdadeira  integração na  esfera educacional, cultural, esportiva e comercial. São governos que promovem também a missão milagre, que destinada a fazer cirurgias de cataratas de graça a milhares de pessoas na região, que caso não sejam operados podem ficar cegas. Acho com o governo bolivariano na Venezuela a chances de integração são muito maiores.


 


Vermelho – Como estão as relações econômicas-políticas-diplomáticas entre Brasil e Cuba?


 


Pedro Mosquera – As relações bilatérias entre Brasil e Cuba estão em seu melhor momento. Nós temos ótimas relações com o governo brasileiro, neste momento, o Brasil é o segundo maior parceiro comercial de  Cuba na América Latina ( o primeiro é a Venezuela). Temos um bom relacionamento cultural, temos um ótimo entendimento em matéria de política exterior. Acho que existe um entendimento entre o governo Lula e o governo de Cuba de fortalecer ainda mais esta cooperação bilateral



Vermelho – Como o senhor vê a questão da não legalização do diploma dos estudantes de Medicina brasileiros que vão estudar em Cuba?


 


Pedro Mosquera – Este é um processo em solução. Existem milhões de estudantes da América Latina, que recebem bolsas para estudar Medicina em Cuba, são jovens de baixa renda, que têm vocação e atitude, mas possuem poucas condições financeiras de fazer Medicina em seu país de origem. Depois eles voltam para seus países para trabalhar, são médicos com formação profissional excelente.
Existe um acordo bilateral já assinado entre o Brasil e Cuba, que vai homologar os diplomas de medicina  por compatibilidade curricular. Este acordo já foi aprovado em primeira instância pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados, acho que é um processo  em marcha, que será resolvido em breve.


 


Vermelho – Como está a economia cubana?


 


Pedro Mosquera – A economia cubana passou por um período muito difícil depois do desaparecimento da União Soviética e dos países socialistas da Europa Oriental. Cuba sofreu muito, pois perdeu 85% de seu comércio internacional, o PIB caiu 34%. Foi um golpe muito forte para a economia cubana. O povo sofreu muito neste período, mas a melhor coisa que temos é o povo. O povo cubano é maravilhoso. É um povo que conhece o dilema  de Cuba, que era sua independência ou a anexação  aos EUA. É um povo culto, que resistiu e adotou toda uma serie de medidas. E hoje  a economia cubana é uma das que mais crescem na América Latina, tendo crescido 13% em 2006, este ano deve ter também um crescimento importante. Miramos para o futuro como um país que trabalha, com um governo que tem consenso da população, em função de um sistema de justiça social para todos.



Vermelho – Quais as conseqüências do endurecimento da política de embargo do governo Bush em relação à Cuba?


 


Pedro Mosquera – A origem do bloqueio faz 48 anos e teve o objetivo de asfixiar economicamente Cuba. O bloqueio tem custado a Cuba mais de US$ 89 bilhões de dólares. Além disso, 70% da população cubana tem menos de 50 anos, ou seja, nasceram após o bloqueio, que passaram toda a sua vida sofrendo as conseqüências do bloqueio, conseqüências que se faz sentir na alimentação da população, na saúde, na educação, na cultura.
A última Assembléia da ONU, em 30 de outubro, aprovou  por 184 votos o pedido do fim do bloqueio dos EUA a Cuba, esta é uma decisão que acontece a 16 anos seguidos. Este é um clamor muito forte da comunidade internacional, que é muito importante  e os EUA terão que escutar.


 


Vermelho – Como está o processo de transição entre o governo de Fidel Castro para o irmão Raul Castro? Como o povo está reagindo a esta mudança?


 


Pedro Mosquera – Cuba é um país em constante transição, nós começamos a transição há 50 anos. Transição para Cuba é aperfeiçoamento do socialismo, é o aperfeiçoamento do nosso sistema  social, de nosso sistema de governo que funciona com respaldo da população, com o respaldo da Assembléia Nacional de Cuba, pelo Conselho de Estado que trabalha com o governo. Agora com o general Raul Castro como presidente interino, o governo continua seu funcionamento normal. O presidente Fidel Castro está se recuperando, atento ás principais questões internas do país e também aos principais problemas internacionais, que afetam a humanidade.



Vermelho – Gostaríamos que o senhor falasse um pouco dos 40 anos da morte de Che Guevara ?


 


Pedro Mosquera – Eu queria falar para vocês que Che Guevara está vivo, em sua idéia, em seu pensamento em sua ação. O Che Guevara vive em cada jovem brasileiro de baixa renda que vai estudar Medicina em Cuba e volta para trazer saúde e esperança para a sua comunidade. Che Guevara vive em cada jovem venezuelano que conquistou a condição bolivariana de um futuro melhor para toda América Latina. Che Guevara vive em todos os jovens que viajam para outros países seja como palestrantes ou exercendo a função de saúde, oferecendo seus serviços para a população local. Che Guevara vive em cada jovem em todo mundo, que se rebela contra a política do neoliberalismo  e que trabalha por um mundo melhor. Acho, nesse 40º aniversário de morte, que está cada vez mais evidente, que Che Guevara é um homem que está presente em cada movimento social, em cada pessoa que faz algo por um mundo melhor.