Unegro cresce em Cachoeiro de Itapemirin no ES

O coordenador do movimento na cidade de Cachoeiro de Itapemirin, no sul do ES, Wellington Barros, destaca o crescimento da conscientização e da luta dos negros como arma principal na tarefa de combater o racismo.

Por Ilauro Oliveira


 


A União de Negros pela Igualdade (Unegro) foi fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, na Bahia, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, com a luta de classes e contra as desigualdades de gênero.


 


De lá pra cá a entidade vem ganhando corpo nos estados. No Espírito Santo existe desde 2004 e em Cachoeiro de Itapemirim desde 2005. De caráter pluriracial, plurireligioso e pluripartidário, a Unegro preserva como lema central “Rebele-se contra o racismo”.


 


“Racismo é simbólico, já que cientificamente é comprovado que ele não existe. O racismo impede que os afro-descendentes galguem seu espaço na sociedade e é o responsável por sua manutenção na base da pirâmide social. Por isso só a conscientização mudará a história”, explica Wellington.


 


Ele também defende o sistema de cotas nas universidades brasileiras, porque, segundo diz, o Estado tem uma dívida histórica com os negros. “Os alemães, os italianos, por exemplo, até receberam terras para virem para o Brasil, e enquanto isso os negros após a abolição da escravatura foram abandonados à própria sorte. Esqueceram de tudo que os negros fizeram para construir esse país. Então existe essa dívida com os negros e o sistema de cotas é um reconhecimento disso”. 


 


Wellington conta ainda que a Unegro se identifica com todos os grupos que sofreram ou sofrem algum tipo de discriminação ao longo da história e que as cotas não significam um privilégio, mas sim uma reparação: “Nós não queremos cotas para a vida toda. Vamos estipular  um prazo para que elas acabem. Mas queremos um investimento no ensino básico para que num futuro breve não precisemos de cotas, no entanto nesse momento inicial elas são imprescindíveis para diminuir a diferença que existe hoje”.


 


Ele lembra que nos Estados Unidos o sistema de cotas deu certo e que a identidade do negro americano com sua própria cultura é muito maior do que a dos brasileiros. “Aqui no Brasil o negro tem que ter uma postura de negro. A teoria do embranquecimento fez com que os negros assumissem a identidade da elite branca e nós não queremos isso. Porque ele tem que usar uma roupa de branco e não africana? Por que ele não pode ter um penteado de negro?”, pergunta.


 


Para Marionaldo Santos Penha, coordenador dos Direitos Humanos da Unegro, o Brasil tem avançado nessas questões. Após a Constituição, principalmente, houve avanços. Mas reconhece que dentro do próprio país o negro também não se conscientizou do se papel e isso dificulta muito.


 


“Importante lembrar que quando se fala em raça, a raça é uma só, é a raça humana. Lutamos contra as adversidades que existem dentro da raça. A Lei que insere no currículo escolar a cultura afro-brasileira é um avanço. Quando a gente discute o estatuto da igualdade racial é outro avanço. Mas os negros precisam ter essa consciência e cobrar mais”.


 


De acordo com Wellington o trabalho aqui em Cachoeiro é de conscientização da base e de cobrança política por ações que beneficiem os negros. “Não temos uma sede própria, mas temos cerca de 100 filiados na cidade. Estamos crescendo E aqui a gente cobra políticas públicas diferenciadas para os bairros e as comunidades constituídas basicamente por negros. Temos o bairro Zumbi, por exemplo, onde o município deveria ter política específica para esse bairro. Direcionar o setor de Saúde para adotar campanhas contra doenças que atacam mais os negros. Isso é o que nós queremos”.


 


A Unegro de Cachoeiro participa ano que vem do Congresso Nacional de Negros e Negras do Brasil (CONEG) com propostas de uma política pública para os negros brasileiros. Em fevereiro de 2008 terá uma plenária estadual onde serão tirados delegados ao Congresso nacional que culminará em uma plenária final em Salvador, de onde sairá uma carta que será encaminhada ao Governo Federal sugerindo e cobrando ações em causa dos negros do Brasil.


 


Entre os temas centrais estão: Apoio às comunidades quilombolas, repúdio à intervenção armada nas favelas do Rio de Janeiro, valorização da religiosidade e da ancestralidade.


 


Mais informações: http://www.unegro.org.br/


 


*Ilauro Oliveira é graduado em história.