Frustração geral com o fim da mediação de Chávez na Colômbia
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu nesta quinta-feira (22) ao seu colega da Colômbia, Alvaro Uribe, que volte atrás no cancelamento da delegação confiada ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, como mediador de uma troca humanitária de prision
Publicado 22/11/2007 21:52
Ingrid, que tem dupla nacionalidade, colombiana e francesa, é a mais conhecida das pessoas capturadas pela guerrilha. A proposta deusar Chávez como mediador foi feita pela senadora colombiana Piedad Córdoba, de oposição, e aceita tanto por Chávez como por Uribe, em agosto. O cancelamento foi anunciado quando as gestões pareciam começar a andar, com uma delegação de alto nível das Farc tendo chegado à Venezuela no último dia 8.
“Um balde de água fria”.
Para Piedad, a suspensão da iniciativa foi “um balde de água fria”. Ela se encontra na Venezuela, onde participou das conversações com uma delegação dos guerrilheiros e apareceu ao lado deles e do presidente bolivariano, em uma coletiva de imprensa.
Também visando retomar as negociações, o ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper propôs um encontro entre os dois presidentes sul-americanos. “Um encontro pessal entre Chávez e Uribe poderia solucionar qualquer diferença”, defendeu. Samper qualificou como “lamentável” a suspensão do acordo.
O governador do departamento colombiano de Valle del Cauca, Angelino Garzón, manifestou-se no mesmo sentido. Ele recomendou uma reunião urgente dos presidentes e dos chanceleres da Colômbia e da Venezuela, visando “canalizar os avanços no trabalho mediador”.
Carlos Gaviria, presidente do Pólo Democrático Alternativo, e principal rival de Uribe nas eleições presidenciais de 2006, considerou “exagerado” e “desconcertante” o abrupto fim do procresso de mediação humanitária. E descartou como “um incidente sem maior importância” o motivo apresentado por Uribe – um breve diálogo entre Chávez e o chefe das Forças Armadas colombianas.
Já a senadora Gina Parody, do Partido da U (nome da recém-fundada agremiação uribista), apoiou a decisão presidencial, que ao seu ver “defende a soberania nacional”.
Familiares iniciarão gestão
Os familiares das pessoas detidas pelas Farc reagiram defendendo que o sentido humanitário da mediação deve estar acima de critérios políticos ou diplomáticos como os alegados para interromper a iniciativa. Ao mesmo tempo, os familiares pediram à guerrilha que cumpra seus compromissos. Os familiares convocaram para esta quinta-feira o início de uma vigília, na Praça Bolívar, centro de Bogotá, exigindo o prosseguimento das gestões visando o intercâmbio humanitário.
“Chávez era a melhor e única esperança, disse à Associated Press uma das familiares, Jo Rosano, na sua residência em Connecticut, Estados Unidos. Ela é mãe de Marc Gonsalves, um dos três cidadãos estadunidenses capturados pelas Farc em 2003. “As Farc pelo menos estão tentando. Uribe diz que quer um acordo, mas não é confiável”, agregou.
A decisão unilateral de Uribe foi tomada na note desta quarta-feira (21), depois de uma conversa telefônica entre Chávez e o comandante do Exército colombiano, Mario Montoya. Uribe não se pronunciou pessoalmente, ao contrário de seu estilo usual. Quem fez o anúncio foi Luis Carlos Restrepo, do Comissariado para a Paz, órgão governamental colombiano. “A decisão tomada pelo senhor presidente da República em nenhum momento deve ser entendida pelos familiares como uma mudança em nosso propósito de obter a libertação dos sequestrados”, justificou-se Restrepo numa coletiva.
Venezuela manifesta “frustração”
A chancelaria venezuelana deu uma breve resposta à decisão de Uribe: “A Venezuela aceita essa decisão soberana do governo da Colômbia, mas manifesta sua frustração, pois desta maneira se aborta um processo que vinha sendo conduzido com pulso firme e em meio a grandes dificuldades, tendo se obtido grandes avanços em apenas três meses, na possível solução deste drama essencialmente humano que afeta nossa querida irmã Colômbia”, diz a nota oficial.
“O governo e o povo da Venezuela, apesar dessa lamentável decisão do governo da Colômbia, mantém seus corações e braços abertos para continuar prestando seus humildes serviços, em prol da vida e da paz”, agrega o documento. E menciona também “os incontáveis apoios de governos, organismos internacionais, personalidades políticas de todo o mundo”.
Missão de alto risco
A tentativa de mediação era vista desde o início como de alto risco, dado o impasse que se prolonga desde os anos 60 no conflito armado colombiano. A decisão de Uribe confirma essa avaliação.
No entanto, as reações negativas dentro da Colômbia e no exterior geraram a sensação de que não é impossível um reatamento das gestões pelo intercâmbio humanitário. A negociação parece ter mais chances que a solução militar, principal proposta de governo de Uribe, desde sua primeira eleição em 2002: cinco anos mais tarde, não há evidências de que as forças governamentais estejam em melhor posição no confronto.