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Mensalão tucano vai finalmente ser julgado pelo STF

Após muita protelação, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, finalmente resolveu oferecer denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra 15 acusados de envolvimento com o mensalão tucano, entre eles o o senador Eduardo Azeredo

A denúncia tem cerca de 80 páginas e os acusados devem responder por peculato e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. No Supremo, o relator do caso é o ministro Joaquim Barbosa.



Ao contrário do que fez quando o alvo de suas denúncias eram integrantes do PT, desta vez o procurador preferiu não designar o conjunto dos acusados como “quadrilha”.



Ainda assim, no documento que apresentou ao STF, Zouza diz que “Com o aprofundamento da investigação desenvolvida no âmbito do Inquérito n.º 2245, percebeu-se que o modus operandi dos fatos criminosos ali apurados teve a sua origem no período da campanha para Governador do Estado de Minas Gerais no ano de 1998”.
(http://www.estadao.com.br/ext/especiais/2007/11/denuncia.pdf)


Segundo o procurador, o esquema tucano, operado pela empresa de publicidade SMP&B desviou pelo menos três milhões e quinhentos mil reais dos cofres públicos do Estado de Minas Gerais, através de empresas estatais, para a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo.



O senador nega as acusações e, em nota, alega que “os empréstimos feitos pela SMP&B junto ao Banco Rural não tiveram meu conhecimento ou autorização. Também não contaram com minha assinatura, meu aval ou de membros do PSDB. Além disso, as estatais mineiras citadas têm autonomia financeira.”



Os quinze denunciados pela Procuradori-Geral são Eduardo Azeredo, Walfrido Mares Guia, Cláudio Mourão da Silveira, Clésio Soares de Andrade, Marcos Valério Fernandes de Souza, Ramon Hollerbach Cardoso, Cristiano de Mello Paz, Eduardo Pereira Guedes Neto, Fernando Moreira Soares, Lauro Wilson de Lima Filho, Renato Caporali Cordeiro, José Afonso Bicalho Beltrão da Silva, Jair Alonso de Oliveira, Sylvio Romero Perez de Carvalho, Eduardo Pimenta Mundim.



Walfrido fora do governo



Ainda que demore para ser efetivamente julgada, a denúncia apresentada pelo procurador-geral já produziu um efeito imediato: a demissão do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.



O ministro Guido Mantega (Fazenda) confirmou nesta quinta-feira a saída do colega de ministério e afirmou ser uma perda para o governo federal.



“A saída do Walfrido é uma perda para o governo porque tem um papel de articulação política fundamental, que ele faz muito bem. É um companheiro solidário.”



Walfrido vai apresentar ainda hoje sua carta de renúncia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após ter sido denunciado por envolvimento com o mensalão tucano. A informação foi confirmada pela assessoria do próprio ministério.



Ele deve alegar que sai para não atrapalhar as negociações para a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).



“Nós continuaremos fazendo as negociações mesmo sem ele. Não acredito que vá haver prejuízo, porque acredito que vamos aprovar a prorrogação da CPMF. Estamos conseguindo o quórum adequado, principalmente com a base aliada. Acredito também que alguns membros da oposição poderão apoiar a CPMF, porque têm clareza de que a CPMF é boa não para o governo, mas para o país”, disse Mantega.



FHC: mui amigo



Ao chegar ao Congresso Nacional do PSDB, nesta quinta-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não assumiu a defesa do tucano Eduardo Azeredo, e ainda disse que ele tem que responder por seus atos.



“Quem tem culpa no cartório, paga…Se houver culpa, o que vai fazer? Que assuma a responsabilidade”, disse FHC.



Embora não tenha aliviado a situação do colega de partido, o ex-presidente tentou amenizar os indícios de corrupção no ninho tucano e argumentou que o esquema de financiamento de campanha denunciado hoje pelo procurador-geral da República é diferente do mensalão trazido à tona pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que envolvia partidos da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



“Não, mensalão é outra coisa, houve no tempo do presidente Lula. Significa gente recebendo dinheiro para votar com o governo. Em Minas é outra coisa, foi dinheiro para campanha. Também não é certo, mas são duas coisas diferentes. O Lula disse que todo mundo recebe, eu não concordo com isso. No caso do mensalão é mais greve porque foi a corrupção das instituições”, disse o ex-presidente.


Entenda o caso



Em 1998, segundo um relatório da Polícia Federal, a coligação do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), que disputava a reeleição e tinha como vice o ex-deputado Clésio Andrade, do PFL (atual DEM), injetou dinheiro ilegal na campanha, por meio de caixa dois. A coligação só declarou à Justiça Eleitoral R$ 8,55 milhões, dos mais de R$ 80 milhões gastos na campanha, sem contar os R$ 20 milhões que ficou devendo.



Também estão sendo investigados coordenadores da campanha de Azeredo, dirigentes de estatais mineiras e executivos de empresas, sobretudo empreiteiras, que tinham negócios com o governo e fizeram grandes doações sigilosas. O esquema teria arrecadado mais de R$ 100 milhões entre desvios de estatais e empréstimos de fachada feitos pelo empresário. Foram estes resultados obtidos pela PF, que fizeram com que a Procuradoria-Geral enquadrasse parte dos envolvidos no mesnalão tucano nos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.



O mega-esquema de corrupção só veio à tona depois que um ex-coordenador financeiro de campanha (no caso, Cláudio Mourão, da campanha malsucedida do tucano Eduardo Azeredo) ficasse aborrecido por não ter recebido R$ 900 mil do que ele dizia ser dívida da campanha. Eis que surge a ''lista do Mourão'', agora divulgada na íntegra pelo relatório da Polícia Federal que vazou pra imprensa.



Lista de Furnas



O deputado estadual Padre João (PT-MG) lembra que, nas eleições de 2002, em que os candidatos eram os tucanos José Serra (para presidente), Geraldo Alckmin (para governador de São Paulo) e Aécio Neves (para governador de Minas Gerais), o esquema se manteve e foi revelado através de uma outra lista, a chamada Lista de Furnas, ''com o caixa dois superando o valor de R$ 25 milhões somente para os cargos majoritários'', diz ele.



Esta lista veio à público através do lobista mineiro Nilton Monteiro. Ela é um conjunto de cinco folhas de papel com o logotipo da empresa Furnas Centrais Elétricas e enumera 156 políticos de 12 partidos que teriam recebido dinheiro por meio da estatal de energia.
 


O lobista disse ter recebido a lista do ex-diretor de Furnas, Dimas Fabiano Toledo, cuja assinatura está no papel, com autenticação em cartório ‘por semelhança’. Dimas nega o conteúdo e a autoria da lista. Mas uma perícia da Polícia Federal já confirmou que a lista é autêntica, embora seu contéudo ainda careça de confirmação.



Na lista, aparecem  os nomes dos tucanos José Serra como beneficiário de R$ 7 milhões, Alckmin de R$ 9,3 milhões e Aécio Neves com R$ 5,5 milhões. Além do atual governador de Minas, pessoas ligadas a ele, como a sua irmã Andréia Neves e o Secretário de Governo também teriam recebido recursos''. Clique aqui para ver a lista de Furnas.



Clique aqui para ver o especial sobre o Mensalão Tucano da revista Novae