Nuvens de intolerância turvam clima político boliviano
O brusco obscurecimento dos céus da Bolívia, sinal do início iminente da temporada das chuvas, coincide com a piora do clima político, obscurecido pela sedição e a ignorância. Fulminantes aguaceiros e chuvas de granizo já banham o país, mas sem esfriar
Publicado 22/11/2007 22:41
Os prefeitos da chamada Meia Lua (departamentos de Pando, Beni, Tarija e Santa Cruz, na parte oriental da Bolívia) chamam à desobediência civil. No mais puro estilo ditatorial, ameaçam declarar uma autonomia de fato. Enquanto isso, a Assembléia Constituinte (eleita em julho de 2006) continua a ter seu funcionamento adiado.
Um golpe em 25 anos de democracia
A Assembléia Permanente dos Direitos Humanos da Bolívia pediu a Evo Morales que inicie ações legais contra as autoridades da meia Lua que ameaçam a estabilidade nacional. Diversos setores sociais reclamam o julgamento da ação sediciosa de prefeitos como Rubén Costas ou Manfred Reyes Villa – fundadores do chamado Conselho Nacional democrático (Conalde).
Alez Contreras, porta-voz do governo, confirmou que os pais do Conalde pretendem desestabilizar a democracia conquistada pelo povo boliviano 25 anos atrás. ''A pretensão desses prefeitos é redigir uma nova Carta Magna desconhecendo e sabotando o trabalho dos constituintes, é outro golpe no sistema democrático'', denunciou Contreras.
Racismo antiindígena em Sucre
Também crescem as críticas ao racismo imperante na cidade de Sucre, onde grupos de vândalos impediram, pelo terceiro dia consecutivo, o desejado reinício da Constituinte. O adiamento ameaça o êxito da assembléia, em suspense devido ao conflitivo tema da ''capitalidade'' – como se denomina na Bolívia a reivindicação de que Sucre sedie todos os poderes estatais.
Grupos de supostos universitários e funcionários da prefeitura sucrenha, instigados pelo Comitê Interinstitucional de Chuquiasca, agrediram verbal e fisicamente camponeses que realizavam uma vigília pacífica na cidade em apoio à Constituinte. O governo Evo pediu aos indígenas que abandonem as manifestações e regressem a suas comunidades, para evitar a todo custo qualquer tipo de enfrentamento.
Ponchos Vermelhos
Embora os movimentos indígenas suportem essas privações estoicamente, sua paciência está no limite. Os chamados Ponchos Vermelhos já debatem a possibilidade de marchar para Sucre, visando defender a Constituinte com seus terríveis chicotes de nós nas extremidades.
Na quarta-feira (21), uma legião de indígenas, camponeses e moradores da cidade de El Alto reclamaram o fechamento do Senado e a aprovação da aposentadoria universal por idade, denominada ''Dignidade''. A multidão exigiu a aprovação de quase 90 projetos de lei travados no Senado por parlamentares oposicionistas, que pretendem tratar assim o governo renovador de Evo Morales.
Com tantas trovoadas, muitos perdem o sonho na Bolívia. Os partidos tradicionais atuam com desespero face à onda revolucionária que varre com os resquícios neoliberais.
* Fonte: http://www.prensa-latina.cu/; intertítulos do Vermelho