Laudo confirma que advogado foi agredido no DPJ de Vitória: traumatismo craniano causou a morte

Cheio de cuidados, como se estivesse pisando em ovos, o secretário de Segurança, Rodney Miranda, admitiu que o advogado Geraldo Gomes de Paula foi agredido no Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vitória e que morreu em conseqüência de um traumatis

Rodney estava muito cuidadoso a responder às pergunta dos jornalistas, enquanto a médica foi bem objetiva em suas declarações. Disse que as circunstâncias do episódio só serão esclarecidas em detalhes pela perícia técnica, mas que o laudo cadavérico afasta, de vez, a hipótese de o advogado ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e por isso ter caído, sofrendo então o ferimento que lhe tirou a vida.


 


A médica garantiu que a morte decorreu do choque da cabeça da vítima com o tal objeto contundente. Ou seja, o advogado foi empurrado com violência, batendo com a cabeça em algum objeto, ou foi espancado pelo tenente que o prendeu. Este, que estava designado para funções administrativas, agora está preso administrativamente, conforme Rodney anunciou.


 


As marcas de violência no rosto do advogado Geraldo Gomes de Paulo, notadas pela deputada e advogada Aparecida Denadai, indicam que ele foi espancado e não vítima de queda no Departamento de Polícia Judiciária de Vitória. Em clima de indignação e revolta, o advogado Geraldo Gomes de Paula, de 63 anos, foi sepultado no início da tarde. Ele morreu no hospital São Lucas, depois de ter sofrido a violência no Departamento de Polícia Judiciária de Vitória (DPJ), na noite de quinta-feira última (22). O sepultamento aconteceu no início da tarde desta segunda-feira (26), no cemitério de Santo Antônio. “Nós advogados estamos de luto. Exigimos Justiça já”, dizia folheto distribuído durante o sepultamento, realizado a pé desde o prédio da Ordem dos Advogados do Brasil do Espírito Santo (OAB/ES), no edifício Ricamar, Centro, com acompanhamento de aproximadamente 500 pessoas, e assistido por centenas de pessoas ao longo do trajeto. Entre essas pessoas, havia algumas que diziam ter sido vítimas de violência policial e que faziam comentários sobre o despreparo da polícia capixaba no trato com os cidadãos. Um ambulante disse ter sido violentamente espancado por um soldado PM e que só não morreu porque gritou ser irmão de um militar. Outro cidadão comentou: “Se eles espancam e matam advogado, imaginem o que não fazem com a gente.” A deputada e advogada Aparecida Denadai disse ter visto sinais de espancamento no rosto de Geraldo, quando chegou para o velório e viu o corpo.


 


“Eram umas três marcas roxas, típicas de espancamento” – afirmou. Nenhum dos advogados que acompanhou o sepultamento disse acreditar na versão do policial apontado como responsável pelo espancamento do advogado morto, tenente Rafael Bonicen da Silva, que serve no Batalhão de Missões Especiais (BME) do governo do estado do ES. O próprio presidente da OAB capixaba, Antônio Augusto Genelhu Júnior, afirmou que a versão da família da vítima tem mais consistência. “Vamos aguardar a divulgação do laudo, mas nós estamos propensos a acreditar que houve mesmo espancamento, como sustentam a esposa e os filhos do doutor Geraldo”, declarou.


 


Marco Antônio Gomes, criminalista e crítico do comportamento policial em várias situações, disse já ter vivido situação idêntica à do colega morto, e acha que a história do tenente “é mentirosa”. Ele disse que os policiais violentos sempre contam a mesma história quando matam alguém.


 


O criminalista Homero Mafra, que preside a Comissão de Prerrogativas da OAB capixaba, estava indignado. “Um profissional do direito foi morto no exercício de suas atividades, tendo assim suas prerrogativas constitucionais violentadas. O governo tem o dever de apurar esse fato com rigor e punir os responsáveis de maneira exemplar.”


 


Ao longo de toda a noite de domingo, o corpo de Geraldo foi velado na sede da OAB, tendo levado grande número de pessoas ao local, e não apenas advogados, mas políticos, amigos e colegas da vítima, parlamentares e outras autoridades.


 


Antecedentes


 


O tenente Bonicen não tem ficha limpa na corporação. Consta que responde a cinco processos – e não só por violência, mas também por improbidade (corrupção). Uma de suas vítimas foi o promotor Luiz Alberto Nascimento, agredido por uma equipe da PM e cuja ocorrência foi registrada pelo tenente. “Ele foi omisso, para dizer o mínimo”, contou o promotor, que disse ter sido algemado e espancado por uma equipe da Polícia Militar sem que Bonicen tenha tomado qualquer atitude para investigar o fato e punir os colegas responsáveis.


 


“Esse tenente Rafael já mostrou ser um despreparado há muito tempo. Já deveria ter sido afastado do policiamento de rua, ou mesmo excluído da corporação”.


 


Foi muito comentado, durante o velório e o sepultamento, o tratamento que a imprensa capixaba deu ao caso desde o início. “A Gazeta” encampou a versão de queda, dada pelo tenente Rafael Bonicen, no título e no corpo da matéria sobre o que chama de “confusão na delegacia”.


 


A suspeita da família de que houvera espancamento ficou perdida no meio do texto, embora a família tenha revelado o teor de uma conversa telefônica da vítima com sua esposa ainda na delegacia, na qual Geraldo dizia: “Não me agridam! Não me agridam!”


 


E, mesmo depois da morte do advogado, o título da manchete de “A Gazeta” ainda falava na tal queda inventada pelo tenente. Já “A Tribuna” preferiu destacar a versão da família, no título “Família culpa PM por morte”.


 


O presidente do Conselho Federal da OAB, César Britto, foi ao velório e afirmou que irá pedir a federalização da investigação. “Compreendemos que quem está encarregado de investigar pode proteger os envolvidos”, declarou.


 


Fonte: Século Diário.