Messias Pontes: Que ditador é esse?

Os conservadores, em todo o mundo, estão comemorando a derrota do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no referendo do último domingo, por pouco mais de um por cento. A mídia conservadora, venal e golpista brasileira ocupa todos os seus espaços para afir


Mas aqui cabem algumas poucas perguntas: que ditador é esse, que sofre um massacre diário da mídia conservadora de direita, de setores reacionários da igreja católica, da ingerência indevida de outros países, notadamente dos Estados Unidos, cujas embaixadas em Caracas são centros de conspiração golpista, e todos continuam em liberdade?  


 



 


Que ditador é esse, que foi caluniado, injuriado e difamado por quase toda a mídia venezuelana, em especial pelo principal canal de televisão, no caso a RCTV, sendo por ela chamado, diariamente, de macaco, cachorro, ladrão e todo tipo de impropério, que participou diretamente do golpe de Estado de abril de 2002 que levou o mega-empresário Pedro Carmona ao poder por 48 anos, voltando Chávez nos braços do povo e não manda prender ninguém, e ainda espera cinco anos e meio até que expire o prazo da concessão do canal golpista (RCTV) para dizer que a concessão não seria renovada? 


 



 


Que ditador é esse, que toda importante decisão no seu país é tomada consultando o povo através de plebiscito e referendo?  Que ditador é esse que o dinheiro do petróleo, que antes ia para o bolso de meia dúzia, hoje é utilizado para erradicar a pobreza que ainda é muito grande naquele país? Que ditador é esse que é derrotado na votação do referendo por pouco mais de um por cento, reconhece a derrota e ainda parabeniza os adversários? Cadê o golpe que haveria após o dia dois, com a vitória ou a derrota do sim, como afirmaram alguns colunistas, inclusive daqui da terrinha? Cadê a fraude proclamada pela direita? 


 



 


Na realidade, de certo modo foi até bom que a derrota do referendo acontecesse agora. Quem não se lembra da campanha infame da mídia conservadora, venal e golpista durante o primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado, no Brasil? Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tivesse sido reeleito com uma diferença de apenas um por cento no primeiro turno, toda a direita iria dizer que o País estava dividido e que a governabilidade seria impossível. Daí para a tentativa de golpe de Estado seria apenas um passo. 


 



 


Com o segundo turno entre Lula e o candidato das elites mais retrógradas, Geraldo Alckmin, a eleição tornou-se plebiscitária, tendo Lula a oportunidade de mostrar muito claramente – o que não fez no primeiro turno – que a vitória do tucano representaria um tremendo retrocesso para a democracia, para o Brasil e para toda a América Latina; seria o retorno do neoliberalismo com o conseqüente desmonte do que restou do Estado depois de dez anos de traição nacional – dois de Collor de Mello e oito do Coisa Ruim, o  maior desastre que atingiu o Brasil depois da escravidão, da ditadura do Estado Novo e da ditadura militar. 


 



 


Durante todo o período que antecedeu a votação do último domingo, a direita encetou uma violenta campanha de terror, afirmando que Chávez pretendia se amparar na Constituição para acabar definitivamente com a propriedade privada e implantar uma ditadura no país, o mesmo fajuto argumento aqui utilizado por setores atrasados do clero e a direita e sua mídia conservadora, venal e golpista para apear do poder o presidente João Goulart, constitucionalmente eleito. O resultado é o que todos conhecemos. 


 



 


A bem da verdade, o que estava sendo proposto na reforma constitucional já aprovada pelo Congresso Nacional daquele país era o fortalecimento do poder popular, o fim do monopólio e do latifúndio, a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, a universalização da previdência social a todos os venezuelanos, aí incluídos os trabalhadores informais. Propunha também o direito à reeleição indefinida, mas isso não quer dizer que Hugo Chaves iria se perpetuar no poder. Isso quem iria decidir era o povo venezuelano. De Gaulle propôs o mesmo na França e nem por isso foi considerado ditador, e só ficou no poder durante 11 anos, não continuando porque o povo francês não quis. 


 



 


Hugo Chávez cometeu alguns erros na condução do processo. Precisa mostrar que a pobreza nos  seis primeiros anos do seu governo foi reduzida em mais de 12%, passando de 49,4% para 37,1%; que o poder aquisitivo das classes D e E subiu 150%; que o analfabetismo foi erradicado do país com a ajuda de professores cubanos, e muitas outras importantes conquistas sociais. Precisa denunciar que uma montanha de dinheiro foi derramada pela CIA e que isso é uma ingerência indevida do império do Norte. 


 



 


Hugo Chávez ainda pode corrigir os erros cometidos e dar a volta por cima, e assim desmascarar as forças conservadoras internas e externas. 


 


 


Messias Pontes é jornalista