África do Sul faz opção à esquerda e elege Zuma para CNA
O ex-vice-presidente da África do Sul Jacob Zuma, derrotou nesta terça-feira (18) o presidente, Thabo Mbeki, em renhida disputa pela presidência do CNA (Congresso Nacional Africano), que lidera o país desde a derrubada do regime racista em 1994. Zuma, con
Publicado 18/12/2007 21:36
Os delegados ao Congresso receberam o resultado com canções e danças. Mbeki admitiu a derrota e somou-se ao líder eleito na mesa do evento, para congratulá-lo. O comitê de campanha de Zuma encomendou toneladas de cerveja para festejar o resultado, no seu quartel-general em um hotel da Rua Marshall.
Com a vitória desta terça-feira, Zuma é o virtual candidato do CNA à presidência do país, nas eleições de 2009. Mbeki, que já não podia concorrer por estar em seu segundo mandato presidencial, dificilmente recuperará as condições para fazer o seu sucesso.
Mandela grava mensagem mas não toma partido
Este foi o 53º Congresso do CNA, fundado em 1913, e que tem Nelson Mandela como o seu mais célebre militante. Dirigiu a luta vitoriosa contra o regime racista do apartheid, que incluiu desde mobilizações de massas e greves operárias até uma forte guerrilha. E tem obtido confortáveis vitórias eleitorais desde que a maioria negra do país conquistou o direito de voto.
Internamente, no entanto, o CNA tem vivido uma tensão crescente, sobretudo depois que Mandela retirou-se de funções públicas e Mbeki ascendeu à presidência. Diante dos conflitos bem conhecidos dos brasileiros, entre desenvolvimentistas e seguidores dos fundamentos neoliberais, o governo pendeu para os últimos – ao menos pelo critério da aguerrida militância do CNA, como evidenciou a votação.
Mandela não tomou partido diante da disputa no interior do CNA. Limitou-se a enviar uma fita gravada ao Congresso. ''Naturalmente nos entristece ver e ouvir sobre a natureza das diferenças atuais na organização'', comenta o herói da resistência ao racismo. ''Qualquer que seja a decisão que vocês tomarem nesta conferência, inclusive deliberações sobre posições de liderança na organização, que a nobre história do CNA os oriente'', agrega.
Desemprego atinge 40%
No plano organizativo, o Congresso Nacional Africano é uma grande frente progressista, com numerosas tendências, embora apenas três organizações formais participem em seu interior – o PC Sul-Africano, a Liga da Juventude Comunista e a Kosatu, poderosa central sindical que no passado desafiou o apartheid e manteve sua combatividade no novo regime.
Mbeki fez sua campanha afirmando, em um discurso de duas horas e meia, que o país está batendo recordes em todos os domínios da economia, exceto a agricultura. Mas teve de admitir que os índices de crescimento fracassaram em conter o desemprego (que ronda os 40%), ou enfrentar as crises na habitação e na saúde, com a pandemia de aids.
O PC Sul-Africano, que atua principalmente através do CNA, endureceu suas críticas aos rumos do governo durante os preparativos do 53º Congresso. Na abertura do evento, o líder do partido, Blade Nzimande, alertou por escrito que o que estava ''na balança'' do debate era ''a própria natureza da orientação do país''.
Jacob Zuma, mais conhecido como JZ
Dotado de forte carisma, Jacob Zuma é muito conhecido nas camadas populares, que preferem chamá-lo pelas iniciais JZ. Tem 65 anos e é da etnia zulu, enquanto Mandela, Mbeki e a maioria dos líderes do CNA pertencem à etnia chosa. Milita no CNA aos 17 anos e aos 21 foi condenado a 10 anos de prisão pelo regime racista. pena que cumpriu no célebre presídio da Ilha Robben, junto com Mandela. Libertado, continuou atuando no exílio e na clandestinidade. Após a vitória sobre o racismo, foi o vice de Mandela em seu mandato presidencial.
O líder recém-eleito do CNA teve de deixar a vice-presidência da república em 2005, na esteira de um escândalo de corrupção que ele denunciou como uma conspiração e teve muitos pontos de semelhança com o ''Mensalão'' brasileiro. Também chegou a ser processado e julgado por estupro, porém terminou absolvido. O 53º Congresso do CNE pode indicar uma notável volta por cima.
Da redação, com agências