Mais protestos no 2º dia de votação do PDDU de Salvador

Militantes dos movimentos populares de Salvador ocuparam as galerias da Câmara Municipal nesta quinta-feira (27/12) para protestar contra a aprovação da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). No 2º dia de votação do polêmico projeto re

A sessão de hoje começou às 14h com muita confusão e tumulto. Participantes contrários e a favor da votação do PDDU se enfrentaram na galeria com empurra-empurra e distribuição de socos e pontapés em alguns momentos. A discussão do plano só recomeçou após a interferência policial, que isolou os dois grupos. No entanto, a sessão esteve longe de ser tranqüila. Logo após a abertura, o vereador Celso Cotrim (PT) apresentou um requerimento pedindo a anulação da sessão do dia anterior e o afastamento de Valdenor Cardoso da presidência da Câmara por quebra de decoro parlamentar. Segundo Cotrim, Cardoso infringiu diversas vezes o regimento da Casa, principalmente por prosseguir a sessão da meia noite até ás 4h da manhã sem o quorum necessário.


 


Os debates prosseguiram com discursos, em sua maioria, dos vereadores contrários à aprovação do plano. A defesa da proposta limitou-se ao líder do governo Sandoval Guimarães (PMDB) que teve seu discurso interrompido várias vezes pela platéia que gritava “você pagou com traição e quem sempre lhe deu a mão”. Os manifestantes acusaram ainda os vereadores e o prefeito de terem se vendido ao mercado imobiliário, jogando dinheiro de mentira no plenário. “PDDU é traição. Tem construtora pagando um R$ 1 milhão” dizia um cartaz improvisado.


 


Os vereadores do PCdoB se mantiveram firme na defesa dos interesses de Salvador e durante toda a sessão manifestaram posicionamento contrário a aprovação deste projeto de PDDU. “Não somos contra o planejamento da cidade, mas sim contra o atual projeto, construído escondido do povo e para atender aos interesses da especulação imobiliária”, afirmou Reginaldo Oliveira em seu discurso. “Queremos o desenvolvimento da cidade, com projetos para a geração de emprego e renda. Isto não está contemplado no PDDU”, acrescentou Everaldo Augusto.


 


A líder da bancada comunista, Aladilce Souza, reforçou ainda a necessidade de mais detalhamento do projeto sobre o desenvolvimento sustentável da cidade e ações para a diminuição da desigualdade social. ”O PDDU também precisa apresentar propostas concretas para a preservação do patrimônio ambiental, cultural e histórico da cidade. Não podemos apostar apenas na construção de prédios precisamos refletir sobre o que isso significa para a vida de Salvador”, declarou. A vereadora Olívia Santana também tentou sensibilizar os colegas para a necessidade de mais debate sobre o PDDU. “Este é um projeto muito sério para ser votado ás pressas. Precisamos rever pontos, discutir emendas e só depois votarmos o PDDU”, concluiu.


 


Polêmicas e pérolas


 


A votação do PDDU de Salvador começou ontem com muita polêmica. Entidades do movimento social organizaram uma vigília na frente na Câmara Municipal para tentar sensibilizar os vereadores sobre a necessidade de ampliar o prazo de discussão do plano diretor. Abacaxis foram distribuídos aos parlamentares para lembrá-los das conseqüências danosas para cidade da aprovação de alguns pontos do projeto como a mudança no gabarito da orla marítima e a destruição das últimas áreas verdes de Salvador.


 


Os manifestantes denunciaram a tentativa da prefeitura de sufocar os discursos contra o PDDU, colocando um trio elétrico para tocar samba durante todo o dia e estacionando quatro ônibus de forma irregular em frente ao elevador Lacerda, manobra repetida hoje. Os governistas tentaram ainda ocupar totalmente as galerias com pessoas a favor do PDDU. A farsa foi desmontada logo que a imprensa e o movimento social organizado denunciaram a ocupação irregular e tentaram invadir o plenário. Os militantes foram agredidos pelos mesmos policiais militares que facilitaram o ingresso dos partidários do projeto.


 


Durante a sessão de ontem, o vereador Everaldo Augusto denunciou mais um erro gritante no projeto. No mapa 7, os autores do PDDU localizaram as praias da Ribeira e da Penha no bairro da Mata Escura, que fica a quilômetros de distância do mar. “Isto só demonstra a falta de preocupação do projeto com os outros bairros da cidade. As únicas coisas que interessam são a orla e a Paralela”, desabafou Everaldo.  Outra pérola sobre a discussão do projeto foi proferida pela secretária municipal de Planejamento, Kátia  Karmelo, que declarou à imprensa que muitas das 266 emendas apresentadas ao PDDU serão acatadas, embora sequer os vereadores tenham conhecimento destas emendas.



De Salvador,
Eliane Costa