Força? Ecológica? Prá Inglês Ver!

Está marcada para acontecer entre os dias 5 e 7 de novembro, em Sant'Ana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), a segunda edição da Conferência Internacional do Bioma Pampa. A realização é da Força Sindical-RS. A organização está a cargo da  d

Talvez por lembranças de 2007, quando, nas “audiências públicas” da SEMA para discutir o zoneamento ambiental no estado, voltado para a silvicultura, o movimento e entidades ambientalistas foram ofendidos, agredidos, tiveram seus carros depredados. E ouviram acusações disparatadas, proferidas por uma massa que nem bem sabia o que estava fazendo, mas sob a batuta da Força Sindical (sim, esta mesma que agora organiza o evento) recebiam, ao descer dos ônibus, um vale-quentinha. Pensavam, e diziam, que estavam ali porque plantar eucaliptos “era emprego e ia dar dinheiro”.


 


 


O bioma Pampa, no Rio Grande do Sul  ocupa 63% do território do estado.  Composto basicamente por gramíneas e árvores de pequeno porte, com riquíssima diversidade de fauna e flora, nos últimos de 300 anos,  foi utilizado  na criação extensiva de gado. Mesmo com esta atividade econômica desenvolvida, as características do pastoreio permitiram a continuidade das espécies, incluindo o crescimento de espécies arbóreas de menor porte nas matas ciliares. Pelas condições do bioma, a pouca disponibilidade de água e condições de solo e relevo, árvores de grande porte nunca foram ali desenvolvidas.


 


 


O desequilíbrio ambiental que acompanha a silvicultura ou o plantio de árvores exóticas, proposta como alternativa econômica “mais viável” no Pampa traria como conseqüências imediatas o desaparecimento de algumas espécies, alterações graves no ecossistema, além de não propiciar o crescimento econômico propagado. Sabe-se que  uma área de 35 ha utilizada para agricultura familiar permite o sustento de uma família de quatro pessoas, e gera alimentos apara o consumo de mais de 50 produzindo durante todo o ano. A agricultura familiar faz ainda o rodízio de culturas, proporcionando um consumo equilibrado dos nutrientes, necessitando, portanto, menor ou nenhuma adição de insumos.


 



 A mesma área ocupada pela silvicultura empregará uma pessoa, durante o plantio, necessitará do uso de agrotóxicos para controle de pragas (formigas e cupins, os únicos seres capazes de sobreviver ao contato com a resina altamente tóxica) e, depois, levará cerca de sete anos até a época de corte. Durante este período, nem mesmo capinas eventuais são necessárias.  Como o eucalipto proposto pelas papeleiras para plantio é geneticamente modificado, atinge mais rapidamente as medidas para corte que as espécies comuns, necessitando, porém, maior quantidade de água e recursos minerais.  Além disto, para onde irá este gaúcho, expulso do pampa pelo eucalipto? Certamente para as periferias das grandes cidades, engrossando as estatísticas de miserabilidade e êxodo rural.


 



A transformação do eucalipto em pasta de celulose não ocorre próximo aos locais de plantio, ou seja, a mão-de-obra excedente não será aproveitada em atividades fabris. Depois de transformada, a pasta limpa é exportada para o exterior, onde agregará valor ao produto, para ser, quem sabe, exportada para o Brasil sob a forma de papéis finos.


 


Quem lembra das posições historicamente defendidas pela Força Sindical deve estranhar, e muito, esta repentina preocupação com o ambiente. Mas, ao buscarmos mais elementos, chegaremos à conclusão que, com boa defensora dos direitos patronais, esta entidade deve estar sendo muito útil às papeleiras e ao latifúndio, uma vez que são estes dois setores os únicos a lucrar com o plantio de eucaliptos e o fim da diversidade do bioma pampa. Cabe ressaltar também aqui o vergonhoso papel de uma secretaria de estado, criada para defender o ambiente natural, e os interesses da população, e que se entrega aos caprichos gananciosos de multinacionais.
Sem contar que o horizonte do gaúcho é o pampa, com suas coxilhas, planícies e pequenos capões. Esta é a história e a cultura do homem da terra.


 



Alternativas ao plantio de eucaliptos existem sim. O kg do boi verde atinge ótimos preços no mercado; a agricultura familiar, além de fixar o homem no campo, produz alimentos para as cidades. O ecoturismo, o artesanato, a pesca, a  indústria da alimentação até hoje garantiram a sobrevivência dos habitantes da região.
Por fim, sabemos que nem o latifúndio, nem o grande capital internacional estão preocupados em garantir nem igualdade, nem desenvolvimento sustentável. Muito menos nos países utilizados para culturas e indústrias poluentes e degradadoras. Cabe ao movimento ambiental organizado agora, responder com muita organização e luta a mais este absurdo patrocinado pelo “velho jeito de governar”.


 



Regina Abrahão
diretora do SEMAPI RS