Um novo modelo de desenvolvimento
A destruição do planeta vem se intensificando em níveis crescentes, como tem sido comprovado por pesquisas científicas em todo o mundo. Entre as formas de mitigar os impactos e desacelerar esse processo, o desenvolvimento sustentável na agricultura col
Publicado 09/02/2008 19:01 | Editado 04/03/2020 16:43
No último relatório do IPCC/ONU (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) pode-se constatar o impacto de atividades como a indústria e a agropecuária no aquecimento global. Essas atividades são responsáveis pela emissão de gases como o CO2 (gás carbônico), N2O (óxido nitroso) e CH4 (gás metano), estes últimos apresentam um efeito equivalente a cerca de 270 e 25 vezes, respectivamente, em relação ao do CO2 no aumento da temperatura da Terra (porém, a enorme quantidade desse gás emitido pelas indústrias dos países desenvolvidos é apontada como a principal causa do fenômeno). Vale informar que o N2O e o CH4 são liberados em conseqüência da decomposição de adubos químicos no solo, no intuito de “enriquecê-lo”. Outros fatores importantes a serem considerados nesse contexto estão as queimadas e o desmatamento que contribuem, ainda, com o processo de desertificação, colocando em risco a sobrevivência de milhares de seres humanos.
Segundo Ignacy Sachs, o desenvolvimento sustentável deve priorizar os aspectos sociais, ambientais e econômicos (“tripé da sustentabilidade”). Entretanto, esta discussão tem sido difundida pelas grandes empresas transnacionais e sedimentada pela grande mídia de forma oportunista e irresponsável, como de costume. As propostas de utilização de “boas práticas”, “manejo integrado” e “tecnologias limpas” têm sido defendidas por especialistas renomados no meio acadêmico, muitas vezes patrocinados por grandes grupos econômicos interessados em legitimar suas intenções. A história deixa claro e o presente continua comprovando o protagonismo de estrangeiros (com a cumplicidade de autoridades brasileiras), mais recentemente representados pelas transnacionais, no esgotamento dos recursos naturais, empobrecimento da população e extermínio de humanos. Questão de soberania, o capital internacional prepara uma nova ofensiva para se expandir em nosso território, sobretudo no que diz respeito à implantação de monoculturas para a produção de biocombustíveis (considerados “ambientalmente corretos” pelos seus defensores). Este não é o modelo de desenvolvimento que precisamos. Aceitar esse processo é pensar que ainda existe lugar no “bonde do capitalismo”.
A bandeira ambientalista tem sido explorada por países desenvolvidos como forma de impedir a conquista da auto-suficiência das populações historicamente subjugadas. Além disso, utilizam essa ferramenta como pretexto para intervenções em terras alheias. Basta citar o caso da Amazônia, “jóia preciosa” cobiçada há décadas pela burguesia internacional, onde a ganância do latifúndio e a omissão do Estado brasileiro têm permitido a ocorrência desastrosa de queimadas e desmatamento, deixando margem para a invasão estrangeira, favorecida pelos resultados divulgados recentemente sobre as mudanças climáticas em conseqüência dessas ações.
Como se já não bastasse, o Projeto de Integração da Bacia do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional (nome sutil para o termo “transposição”), conjugado às transformações no clima da Terra e tecnologias agrícolas inapropriadas adotadas pela agricultura empresarial, também traz consigo equívocos que poderão ocasionar, em médio e longo prazo, a formação de verdadeiros desertos na região Nordeste. Sem falar dos inúmeros aspectos negativos apontados pela própria equipe contratada pelo Ministério da Integração Nacional para a realização do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), disponível no endereço http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/rima.asp .
Vale enfatizar que não estamos nos posicionando contrariamente à realização de grandes obras que visem a autodeterminação dos povos, muito menos defendendo um caráter de intocabilidade aos recursos naturais. Nesse caso, o investimento em mecanismos que estimulem práticas de convivência com o semi-árido apresenta-se como alternativa perfeitamente viável. Podemos citar como exemplo as experiências positivas implantadas pela ASA (Articulação do Semi-Árido Brasileiro) em comunidades rurais, inclusive em terras capixabas.
Conferência Estadual de Meio Ambiente
Nos dias 28 e 29 de fevereiro de 2008 ocorrerá a II Conferência Estadual de Meio Ambiente, no Centro de Convenções de Vitória. Com o tema “Mudanças Climáticas”, convergirão, nessa oportunidade, as discussões e propostas apresentadas pela sociedade civil organizada nas diversas regiões do estado do Espírito Santo, através das Conferências Regionais e Municipais.
Apesar do alto grau de destruição dos recursos naturais em nosso território, ainda são gritantes os crimes ambientais e a degradação praticadas em nome do agronegócio, sob tutela da impunidade. Pesquisas científicas na área de Agroecologia estão comprovando sua viabilidade como alternativa de desenvolvimento e diminuição dos impactos da agropecuária no aquecimento global. Portanto, o desenvolvimento rural sustentável deve ser tratado com a seriedade que merece durante esse evento, preparativo para a III Conferência Nacional de Meio Ambiente.
* Marcelo Brandão é mestre em Economia Aplicada e membro do Comitê Estadual do PCdoB-ES.
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