Passeata da SL e protesto anti-Bush encerra Campus Party
Uma passeata bem humorada e liderada por um robô reuniu cerca de 300 participantes dos 3.300 inscritos no Campus Party neste sábado (16), último dia de atividades no segundo pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Fantasiados com chapéus e narizes de palhaço
Publicado 16/02/2008 00:31
Entre as personalidades presentes ao protesto, que percorreu todo o segundo pavilhão, estavam Sérgio Amadeu, Mário Teza e Jon “Maddog” Hall, entre outros ícones do movimento pelo livre conhecimento no Brasil e no mundo.
Ao final da passeata, games e geeks (pessoas ligadas às novas tecnologias e mídias) dançaram ao som da intervenção realizada por Djs e Vjs no principal espaço da Campus Party.
Através do rock, do reggae, do hip-hop, entre outros estilos musicais, artistas urbanos se revezaram na apresentação de “Porque Luchamos?”, trabalho do Bijari já exposto na 1a Bienal do Fim do Mundo, em Ushuaia, na Argentina em 2007. Com imagens e sons, a intervenção questionou o acordo sobre o etanol entre o Brasil e os EUA e repudiou a presença americana na América Latina.
Tucano quer controlar internet
Segundo a petição da Associação de Software Livre (ASL) ao Senado Federal, “o projeto do senador Azeredo representa uma série de custos para a sociedade brasileira. Depois de quase 15 anos de acesso público à internet no país, o Brasil ainda não definiu qual é o marco regulatório civil da rede no país. Esse marco regulatório é fundamental para inovação e foi o primeiro passo definido pelos países desenvolvidos. A definição de um marco também é fundamental para a definição dos aspectos criminais da rede. Privilegiar a regulamentação criminal da Internet antes de sua regulamentação civil tem como conseqüência o aumento de custos públicos e privados, o desincentivo à inovação e, sobretudo, a ineficácia”.
Segundo a comunidade, está faltando debate sobre o projeto do senador tucano. “É inadmissível que um projeto de lei tão amplo e complexo como o que está sendo proposto, que afetará diretamente a vida de mais de 32 milhões de internautas no Brasil, seja aprovado sem um profundo, amplo, democrático e transparente debate com todas os setores da sociedade brasileira. Aprová-lo com açodamento, sem analisar e discutir com profundidade e de forma transparente as inconsistências e vícios de constitucionalidade existentes, é cometer um verdadeiro atentado à Democracia e às liberdades civis de milhões de brasileiros”, conclui a petição.
Outro grande palco para a comunidade de Software Livre denunciar o projeto do senador Azeredo e ampliar a luta por mais debates públicos sobre o tema será o 9o Fórum Internacional de Software Livre (Fisl ), a se realizar de 17 a 19 de abril, na PUC-RS, em Porto Alegre. Maior que o Campus Party em número de participantes, o último Fisl reuniu cerca de cinco mil participantes, o encontro também discutirá propriedade intelectual e inclusão digital.
Campus Party no Brasil em 2009
Para a felicidade dos brasileiros apaixonados por novas tecnologias e mídias, os organizadores da Campus Party confirmaram neste sábado que em 2009 a maior feira de tecnologia do mundo continuará no Brasil e também em São Paulo.
A expectativa da organização é que o número de ''campuseiros'' dobre no ano que vem. Neste ano, cerca de 3.300 pessoas se inscreveram na Campus Party (a um preço de R$ 100). Destas, 1.800 ficaram acampadas na Bienal. A área aberta ao público –grátis– recebeu cerca de 30 mil visitantes.
Entre os inscritos no evento, que iniciou nesta segunda (11) e termina no domingo (17), 26% são mulheres e 74% são homens. A média de idade é de 23 anos. Entre os inscritos, a maioria foi ao evento para a área de software livre, que recebeu 23% dos participantes, seguida por games (16%) e desenvolvimento (15,5%). Depois vêm, pela ordem: música (11%), criatividade (9%), robótica (7%), blogs (6%), modelagem de computadores (5%), simulação (4%) e astronomia (3%).
Fenômenos tupiniquins
Embora parte da grande mídia tenha valorizado pequenos problemas organizativos e a proibição de álcool durante o evento, outros foram os fatos que mais marcaram os participantes. Sem dúvida, duas questões ficaram latentes ao compararmos a Campus Party tupiniquim com as realizadas desde 1997 na Espanha.
A primeira diz respeito ao embate entre os blogueiros e a mídia. “Enjaulados” em um aquário no centro da Campus Party os jornalistas dos grandes portais e jornais do país sofreram todo tipo de brincadeiras e achaques por parte dos participantes. A “galera” dos blogs, que pela primeira vez teve um espaço oficial na feira, não conquistou, digamos assim, a plena simpatia dos hackers ou geeks – tanto que um deles até lhes pregou uma peça durante o evento – mas com certeza causou com a grande mídia ao questionar a sua legitimidade e credibilidade na hora de fazer notícia.
A segunda questão já esteve presente desde a abertura do Campus Party Brasil. Lá no início, na segunda-feira (11), o nosso ministro da Cultura, Gilberto Gil, provocou e provou que sabe mesmo do “espírito digital” do brasileiro. “Mais importante que o download é o upload”, disse Gil. Assim, ao contrário do que era esperado, a tão aclamada conexão de 5 GB não foi utilizada para downloads e sim para uploads. O público preferiu postar conteúdo na rede –por blogs e sites de vídeo, por exemplo– do que ficar baixando arquivos da internet. Pela medição dos organizadores, 70% da conexão foi utilizada para uploads e 30% para downloads.
Entre erros e acertos é possível dizer que a Campus Party no Brasil mais acertou do que errou. Essa é a sensação que se tem no apagar das luzes do segundo pavilhão da Bienal. Cansados, mais felizes, a geração tecnológica do futuro provou que muito mais do que fazer o “download” da história, quer mesmo é fazer o “upload” do seu destino.
Por Carla Santos,
Do Campus Party 2008