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Dossiê Valdoim: mídia não trabalhou com seriedade, diz dirigente

“Desconhecimento e desinteresse em ouvir o outro lado”. Assim classificou o presidente da Unitrabalho, Arquimedes Ciloni, a falta de interesse da mídia de publicar os fatos reais sobre o caso conhecido como “Dossiê Valdoim”. A  indignição do presi

“Finalmente estou sendo ouvido, e peço especial atenção aos colegas da imprensa aqui presentes, porque, desde que citada, a Unitrabalho não conseguiu se fazer ouvir, desde o momento em que foi instalada a chamada crise do dossiê Valdoim até a presente data”.  Dessa forma, o presidente da ONG Unitrabalho iniciou sua fala da comissão. 



Durante sua apresentação, o dirigente apresentou dados dos trabalhos desenvolvidos pela entidade. Em sua apresentação, Ciloni fez questão de apresentar alguns erros cometidos pela imprensa na cobertura do fato.



Entre os dados apresentados, o mais relevante é relacionado à acusação da compra de um dossiê, pela entidade – no valor de R$ 1,7 milhão –, que supostamente era para prejudicar candidatos do PSDB nas últimas eleições em São Paulo.



Ciloni mostrou que o depósito de cerca de R$ 3,7 milhões – dinheiro que, segundo a mídia, teria sido usado para pagar o dossiê – foi feito pelo governo federal na conta da ONG três dias depois do escândalo, no dia 18 de setembro. Ele lembrou que a apreensão do dinheiro pela Polícia Federal, em um hotel paulista, ocorreu no dia 15 de setembro de 2006.



O dirigente diz que tentou apresentar aos jornalistas os fatos, mas não foi ouvido. O senador Heráclito Fortes (DEM – PI) questinou o dirigente da Unitrabalho por que não foram divulgadas notas para imprensa. Como resposta, Ciloni afirmou que três notas foram divulgadas, sendo que somente um jornal publicou o fato e mesmo assim sem destaque. “O fato concreto é que uma instituição que congrega 70 instituições de ensino superior foi posta em cheque injustamente”.



Perguntado pelo relator da CPI, senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), como a organização foi arrastada para o escândalo, o presidente não soube responder. “Se tivessem dado maior atenção para o fato de que o dinheiro só foi depositado no dia 18, isso nao teria acontecido”, lamentou o presidente.



Para reforçar sua tese, Arquimedes apresentou um ofício do Ministério Público de São Paulo que demostra que a Unitrabalho não estava envolvida no caso.  “Essa conclusão da auditoria sequer foi divulgada e, desde essa data, nós lutamos para sermos ouvidos”.



“O referido documento, produzido com finalidade específica de concluir por eventual envolvimento das verbas da fundação no demoniminado dossiê Valdoim, resultou em conclusão negativa, uma vez que, à luz da análise pericial bancária e de documentos da Unitrabalho, não surgiu qualquer prova ou indício de aplicação indevida de valores da entidade fundacional na empreitada referida”, revela a auditória.



Arquimedes Ciloni mostrou que a entidade nunca praticou tráfico de influência junto ao governo Luiz Inácio Lula da Silva para obter mais recursos federais. Segundo ele, a Unitrabalho recebeu do governo Lula cerca de R$ 25 milhões.  E creditou os recursos conseguidos pelo alto grau de qualidade dos projetos apresentados. “Não é verdade que a instituição recebeu 20 vezes mais recursos no governo Lula”.



Negou também que Jorge Lorenzetti tenha auxiliado a entidade a angariar recursos junto ao governo federal. Lorenzetti – ex-dirigente da Unitrabalho –, teria usado o seu prestígio pessoal junto ao presidente da República para conseguir recursos para a ONG que ajudou a fundar.



Entre os prejuízos na imagem da entidade, está o congelamento de um convênio com uma instuição holandesa, a ICCO.  Os senadores Inácio Arruda e Wellington Salgado (PMDB-MG) lembraram que foi isso que eles queriam evitar ao rejeitar o requerimento do senador Alvaro Dias (PSBD-PR) que pretendia convocar uma série de fundações ligadas a universidades. “Isso colocaria as instituições sob suspeição”, disse Wellington.



Jorge Lorenzetti



Ao depor nesta quarta-feira (5), na CPI das ONGs, o ex-dirigente da Unitrabalho, Jorge Lorenzetti, negou que tenha feito qualquer tipo de intermediação junto ao atual governo no sentido de solicitar recursos federais para a entidade. Ele também negou participação na elaboração de projetos em comum acordo com o Palácio do Planalto, no período em que participou da direção da Unitrabalho.



“Não sei quanto o governo Lula repassou à Unitrabalho e não conheço sequer um projeto envolvendo a ONG e o Palácio do Planalto”, resumiu Jorge Lorenzetti, ao lembrar que, na entidade, exercia apenas ''um trabalho técnico profissional''.



Lorenzetti também classificou de ''denúncia vazia'' notícia de que tenha participado da compra de um dossiê, que conteria informações prejudiciais aos candidatos da oposição nas eleições de 2006, em São Paulo. Para ele, as notícias não passam de ''calúnia e difamação''.



Tentando intimidar o depoente, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), surpreendeu a todos ao entregar a Jorge Lorenzetti um pedido, por escrito, no qual solicitava ao depoente autorização para a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dele dos últimos cinco anos para cá. A base do governo protestou e o senador Sibá Machado (PT-AC) chegou a classificar a solicitação de Arthur Virgílio de um ''constrangimento''. É que, pela legislação que rege as CPIs, não é permitido o pedido de quebras de sigilo de depoentes que estão na comissão na condição de testemunha, como era o caso de Lorenzetti.



Jorge Lorenzetti, que não assinou o pedido formulado por Arthur Virgílio, justificou sua decisão lembrando que todos os seus sigilos já haviam sido quebrados pela Polícia Federal, pela Receita Federal e pelas respectivas companhias telefônicas, ''sendo que não encontraram nada que incriminasse'', disse. Na próxima semana, os senadores da CPI votam, nominalmente, a transferência, para o colegiado, de todas as quebras dos sigilos de Lorenzetti.


 


De Brasília
Alberto Marques