Diplomadas da Unipalmares ajudam a incluir negros no mercado
A analista Sonia Maria da Silva e a servidora Benvinda Pereira fazem parte da primeira turma de 126 administradores formada pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo, todos afrodescendentes declarados.
Publicado 16/03/2008 19:02
Negras, ambas fazem parte da primeira turma de 126 administradores formada na última quinta-feira (13) pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo — todos eles afrodescendentes declarados.
Com o diploma na mão, elas prometem ajudar para que outros afrodescendentes alcancem posição menos desprivilegiada na sociedade brasileira. “Podemos ajudar a combater a discriminação no nosso trabalho”, afirma Sônia.
“Depois de passar pela Unipalmares, o negro que não ajudar o outro saberá que está cometendo um pecado”, diz Benvinda. A servidora é a mais velha recém-formada da universidade, que têm 87% dos seus alunos negros.
Estáveis no trabalho, as duas admitem que já poderiam estar planejando sua aposentadoria. No entanto, neste momento, não almejam a tranqüilidade. Elas têm novos planos profissionais, e a longo prazo: as duas fixam seu olhar em um horizonte mais distante, o da pós-graduação.
“Quero estudar até os 90 anos”, diz Benvinda. Ela conta que voltará a universidade no próximo semestre, desta vez para estudar direito. Assim que concluir mais um curso superior, vai se dedicar a uma especialização em recursos humanos.
“Um dia, sonhei em ser funcionária pública, depois, em estudar em uma universidade. O que impede que um vá mais longe?”, indaga, lembrando as dificuldades para conseguir seu primeiro diploma universitário.
Ela conta que concluiu o ensino médio em 2002, em um supletivo, quase 35 anos depois de deixar a escola para ajudar no sustento da família quando ainda morava em Belo Horizonte. “Meu pai dizia que as pessoas deviam estudar só para aprender a ler e a escrever. Nunca tive apoio.”
Primeira aluna matriculada na Unipalmares, Sonia é outra que se mostra orgulhosa com sua nova conquista. Escolhida a melhor aluna da turma, ela também faz planos. “Quero ser auditora da Caixa”, afirma.
Funcionária do banco há 26 anos, ela pretende também colaborar em iniciativas pró-diversidade propostas pela empresa, que ela diz já conhecer bem. “Posso nortear ações para diminuir a distância que existe entre os mais e os menos favorecidos.”
Para as duas, a formatura celebrada em no Ginásio do Ibirapuera foi um momento de grande felicidade. Em entrevista à Agência Brasil concedida um dia após a cerimônia, elas recordaram os obstáculos superados durante os últimos quatro anos.
“Tive que adaptar meu corpo a dormir quatro horas por dia e aguentar o trabalho e o cuidado com minhas filhas”, disse Sonia, que tem duas filhas, uma de 10 e outra de 17 anos. “A formatura foi a realização plena e absoluta”, lembra.
“Trabalhar durante o dia, estudar de noite, pegar o ônibus para chegar em casa à meia-noite não é fácil”, complementa Benvinda. “Parecia que estava flutuando quando entrei no ginásio. Eu tinha que me mexer para ter certeza que estava ali.”