Comunistas indianos condenam acordo nuclear com os EUA
O Partido Comunista da Índia abriu neste fim de semana seu 20.º Congresso partidário. Com 800 delegados representando 600 mil militantes de todos os estados, o evento propõe a criação de uma alternativa democrática e de esquerda para a Índia, além de cond
Publicado 24/03/2008 12:36
“Acompanhamos com profunda preocupação a política do governo de estabelecer uma parceria estratégica entre a Índia e os Estados Unidos. O nosso Partido opõe-se energicamente a que seja dado esse passo. Os debates sobre a assinatura de um acordo nuclear enre a Índia e os Estados Unidos não são inocentes. O Partido opõe-se a esse acordo”.
A afirmação é de A.P. Bardhan, secretário geral do Partido Comunista da Índia na abertura do 20.º Congresso desse partido, que esta tendo lugar na cidade de Hyderabad, Andrah Pradesh, desde o ultimo domingo (23), transcorrendo até sexta-feira (27).
O secretario geral do PC da Índia acrescenta ainda que essa pretendida parceria estratégica “é uma maneira de os Estados Unidos interferirem na região e jogarem a cartada indiana contra a China”.
As afirmações do secretário-geral do PC da Índia obtiveram ampla repercussão na imprensa local. Ganham relevo na medida em que , mesmo sem participar do governo, o PC da Índia , ao lado do PC da Índia (Marxista), do Partido Democrático Socialista Revolucionário e do Bloco Avante, uma frente denominada Esquerda Unida, assegura maioria parlamentar ao governo do Partido do Congresso (centro) a fim de impedir que o governo seja tomado pela direita.
Os comunistas indianos afirmam mesmo que tal parceria estratégica com os Estados Unidos constitui uma violação do Programa Mínimo Comum, firmado entre o partido do Congresso e as forças de esquerda, em que se estabelece o compromisso do governo de implanter uma política externa independente, promover a multipolaridade e se opôr ao unilateralismo.
O congresso do PCI faz duras críticas tambem à política econômica, considerada neoliberal. “Os resultados do crescimento econômico nao chegam ao povo”, disse o secretário-geral Bardan. O país continua exibindo enorme desigualdade social, é um dos recordistas em concentração de renda e ocupa o 128.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano.
Orientação política
O Congresso do PCI, que reúne 800 delegados representando os 600 mil militantes de todos os estados, propõe a criação de uma alternativa democrática e de esquerda, baseada na união entre as forças de esquerda, para tirar o país da bipolaridade entre o Partido do Congresso (de centro) e a direita fundamentalista do BJP.
A unidade da esquerda está sendo construída com base numa plataforma democratica e antiimperialista e tem por base os governos estaduais de Bengala Ocidental, Kerala e Tipura.
Para impedir que a direitar tome o poder, o Partido admite continuar assegurando apoio parlamentar sem participar do governo. Ao todo a esquerda tem 61 deputados, sendo 10 do PCI e 45 do PCI (Marxista). As outras seis cadeiras pertencem ao Partido Socialista Revolucionário e ao Bloco Avante.
O Congresso do PCI recebeu uma representativa delegação internacional. Estão presentes 29 partidos de 26 países. Entre estes os partidos comunistas no poder na China, no Vietnã, na Coréia e em Cuba. O PCdoB é representado pelo seu secretário de Relações Internacionais Jose Reinaldo Carvalho.
Nesta segunda-feira (24), Reinaldo saudou o Congresso. O dirigente brasileiro destacou que “Embora muito distantes geograficamente, a Índia e o Brasil têm muitos traços em comum. São dois grandes países em desenvolvimento, com imenso potencial físico, econômico e humano, cujos povos desenvolvem lutas comuns na arena internacional contra o hegemonismo imperialista norte-americano, contra o protecionismo das grandes potências, por uma nova ordem econômica internacional, por um mundo de progresso social e paz, em que prevaleçam a soberania nacional dos países independentes e o direito internacional”.
O representante brasileiro lembrou a passagem do quinto aniversário da agressão norte-americana ao Iraque, condenou a política de guerras preventivas, que os Estados Unidos querem lever para a América Latina e disse que o mundo hoje está mais inseguro e são maiores e mais perigosas as ameaças de guerra contra outros países.