Em discurso, Carlin homenageia 86 anos do PCdoB e centenário do Atlético
Com referências a poetas, escritores e revolucionários, intercalando comparações do esporte e da politica, o deputado Carlin Moura fez nesta terça-feira (18), no Plenário da Assembléia Legislativa, um pronunciamento ho
Publicado 24/03/2008 13:22 | Editado 04/03/2020 16:52
“Pois me atrevo a dizer que se Marx e Engels tivessem tido a oportunidade de ir ao Mineirão assistir a um jogo do Galo, teriam feita a seguinte observação: Quando está em campo onze jogadores trajando um manto alvinegro, uma multidão se une de tal forma que parece cessar a luta de classes durante 90 minutos e, durante esse período, todos se apaziguam em torno de um objetivo comum que é levar o seu querido Clube Atlético Mineiro a mais uma vitória, embalados por um grito de amor que entoa quatro letras: G.A.L.O. Nesse momento, somente nesse momento, parece dar tréguas a luta de classes, e todos se irmanarem em torno de um objetivo maior, misterioso e apaixonante”, disse o deputado.
Abaixo, leia íntegra do discurso:
Senhor Presidente, Senhoras Deputadas, Senhores Deputados, público presente, amigos e amigas das Gerais:
Na próxima terça-feira, 25 de março, é o dia do aniversário do meu partido, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Mas, peço licença para homenagear outra agremiação popular: o Clube Atlético Mineiro. Também fundando num dia 25 de março, nosso querido alvinegro mineiro comemora um século de existência.
Quem já foi a um jogo do Galo (como é conhecido mundialmente o Clube Atlético Mineiro em alusão ao fato de lutar até o fim durante uma partida de futebol) sabe muito bem como é apaixonada sua torcida. Torcedores que mais deviam ser chamados de seguidores, adeptos, romeiros, devotos, fiéis. Simplesmente “A Massa”, como é conhecida a torcida atleticana, é o maior patrimônio desse time e um dos maiores orgulhos do povo mineiro.
Quem já leu o clássico Manifesto do Partido Comunista, redigido em 1848 pelos fundadores do socialismo científico, Karl Marx e Friedrich Engels, deve lembrar a passagem em que os autores se referem à luta de classes: “Até hoje, a história de todas as sociedades é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e aprendiz; em resumo opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta…” Essa é uma das teses mais vigente no mundo atual, onde presenciamos no dia a dia a fúria do capital contra o trabalho. Quem pode refutar a atualidade dessa tese que ademais de tudo isso é tão defendida por meu partido, o PCdoB?
Pois me atrevo a dizer que se Marx e Engels tivessem tido a oportunidade de ir ao Mineirão assistir a um jogo do Galo, teriam feita a seguinte observação: Quando está em campo onze jogadores trajando um manto alvinegro, uma multidão se une de tal forma que parece cessar a luta de classes durante 90 minutos e, durante esse período, todos se apaziguam em torno de um objetivo comum que é levar o seu querido Clube Atlético Mineiro a mais uma vitória, embalados por um grito de amor que entoa quatro letras: G.A.L.O. Nesse momento, somente nesse momento, parece dar tréguas a luta de classes, e todos se irmanarem em torno de um objetivo maior, misterioso e apaixonante.
Talvez essa brincadeira ajude a ilustrar quão apaixonada é essa torcida que aprendeu como poucas a suportar as maiores adversidades. Para ser atleticano e atleticana necessariamente precisa ser forjado nas mais duras provações. Nenhuma conquista vem fácil para nossa torcida. Cada vitória só é alcançada depois de muita luta e, por isso mesmo o caráter imprescindível da Massa nos estádios, empurrando o time até o minuto final.
Quem já viu um jogo do Galo da arquibancada ou da popular geral sabe bem por que a Massa é a Massa. Um batalhão de torcedores e torcedoras anônimos que nunca se esmorecem ou fraquejam diante dos tropeços. Seguem firmes e resolutos em defesa do Clube Atlético Mineiro mesmo enfrentando a maior crise financeira de sua história, um triste legado que a atual administração tenta contornar. Mas o Galo é como a fortaleza da cidade de Stalingrado, na União soviética – duramente bombardeada pelo exército invasor de Hitler e que foi poetizada pelo nosso eterno conterrâneo e também comunista Carlos Drummond de Andrade: “…Saber que resistes. Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes. Que quando abrirmos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página…” “…sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto? Uma criatura que não quer morrer e combate, contra o céu, a água, o metal, a criatura combate, contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate, contra o frio, a fome, à noite, contra a morte a criatura combate, e vence”.
E desta mesma forma diz nosso hino atleticano, escrito por Vicente Motta, que às vezes mais parece uma oração: “vencer, vencer, vencer, esse é o nosso ideal. Honramos o nome de Minas, no cenário esportivo mundial.”
Certamente nosso Galo e sua fanática e vibrante torcida merecem ser objeto de estudo e melhor investigado pela sociologia. A CAPES e o CNPq precisam investir em uma nova linha de pesquisa para estudar essa fanática torcida centenária. Essa torcida é como a cachaça mineira que a cada ano, quanto mais velha fica, mais estimável e ludibriante se torna. É um fenômeno peculiar de paixão popular que os séculos são incapazes de apagar.
Mas afinal, a quem homenageamos nesse 25 de março? Ao Clube ou a sua torcida? É a mesma coisa. Clube e torcida atleticana é um amálgama fundido no ventre de nosso quadrilátero ferrífero e exportado para todo o mundo. É o preto e o branco, impossível de viverem separados.
Um dos mais importantes comandantes dos comunistas na América Latina, Che Guevara, disse certa vez: “se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.
Nós, atleticanos, somos todos companheiros. Lutamos permanentemente contra toda espécie de injustiças. E quantas injustiças já fizeram a Massa sofrer de indignação? Quando ouvimos alguém citar o ano de 1980, o que surge como um raio na cabeça de todo(a) atleticano(a)? Como esquecer o nome de José de Assis Aragão e o papel manipulador de toda grande mídia quando fomos assaltados no Maracanã? Não teria sido essa uma outra versão do Maracanaço de 1958? E 1981 no Serra Dourada? Que foi aquilo que nos aprontou o hoje comentarista global?
Também os grandes meios de comunicação por várias vezes fazem valer do seu poder de influência para promover os clubes sediados junto às emissoras matrizes, normalmente em centros econômicos mais poderosos. Para as filiais resta transmitir os jogos locais apenas quando são clássicos ou jogam em horários alternativos. Emissoras de São Paulo difundem para o sul de Minas jogos de equipes do estado bandeirante, e emissoras cariocas fazem o mesmo com os times do Rio, projetando-os para a Zona da Mata mineira, por exemplo. Seria um bairrismo meu? De forma alguma. Compartilho da mesma luta de minha colega de Partido, Jandira Feghalli, que luta pela democratização dos meios de comunicação e há muito vem defendendo resguardar pelo menos 30 por cento da programação de cada estado à cultura, tradições e especificidades locais. O mesmo vale para o estado do Pará onde se transmite quase todos os jogos do Flamengo e quase nada do Papão da Curuzu.
Respeitamos todos os times do Brasil, mas no nosso terreiro que deve sempre cantar mais alto é o Galo das Alterosas.
O Atlético é um patrimônio de nosso povo. Esse é o entendimento de meu Partido que também considera o futebol como uma das máximas expressões culturais do povo brasileiro. A visita do Ministro do Esporte Orlando Silva, de meu Partido, à Cidade do Galo, foi uma demonstração de como o PCdoB encara a necessidade de auxiliar o Galo e os demais clubes a se reerguerem economicamente e combater a fuga de talentos que acomete nosso país.
O lançamento da Timemania também foi outro golaço do governo do presidente Lula que pode ajudar muito não apenas o Atlético, mas tantos outros clubes que terão uma oportunidade histórica para equilibrar suas dívidas sem prejuízos aos cofres públicos e muito menos ao contribuinte.
Aproveito aqui o espaço para pedir para que as empresas mineiras invistam mais nos nossos times e endosso a contrariedade do nosso presidente Ziza que reclamou da Fiat Automóveis que goza de incentivos fiscais bancados, sobretudo pelos mineiros, e mesmo assim, em pleno ano do centenário do Galo, prefere apostar com somas muito mais vultosas em outra equipe de São Paulo.
Amigos e amigas, essa é uma data muito especial. Se o Santos de Pelé foi capaz de até cessar temporariamente uma guerra na continente africano, sejamos capazes de fazer unir todos os amigos do Galo, independentes de credo, partido, orientação sexual ou seja lá o que for. No centenário do Galo o que vale mesmo a pena (quando a mesma não é pequena) é que seja ela preta e branca.
E quem perguntar como fui capaz de falar do Galo sem ter mencionado uma única vez o nosso grande rival, escapulo com outra tese marxista que aqui também se encaixa como uma luva: o que seria do Galo sem o Cruzeiro (ou vice-versa) na eterna luta dos contrários?
E para finalizar. Tivessem nosso prefeito e nosso governador assistido pela primeira vez a um jogo do Galo ao invés do nosso rival, não estariam hoje tentando fazer o cruzamento híbrido da vaca com o jumento, pois atleticano mesmo gosta é de cantar bem alto a música de Beth Carvalho que elegeu como segundo hino: “Você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”.
Reverências ao saudoso atleticano Roberto Drumont, que permanece presente em nosso meio com sua máxima:
“Se houver uma camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.”
VIVA O CLUBE ATLÉTICO MINEIRO