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Um caricaturista de mão cheia em São José do Rio Preto

O Diário da Região, de São José do Rio Preto, a 440 km da capital paulista e 190 km da fronteira sul-matogrossense, abriga há anos um caricaturista de mão cheia: Lézio. Também cartunista, chargista, ilustrador, confeccionador de cartões de cas

Já me ocorreu que a internet permite uma relação inédita com a arte e a peça de arte. Tome um artista de primeiro time, um Michelangelo, um Pixinguinha, um Picasso. Agora imagine um primo desafortunado de Picasso, tão genial como este mas sem as portas que se abriram para ele e o revelaram ao mundo. A humanidade nunca saberá quantos Michelangelos, Piuxinguinhas e Picassos tortos já perdeu. Mas no século 21 eles pelo menos têm a janela da internet. Pode-se supor que um dia uma obra de arte abra caminho assim, sem editora para publicar, sem galeria para expor, sem orquestra para tocar, pela pura força da gravidade de sua qualidade intrínseca.



Na internet vale a pena visitar o site de Lézio Junior, que descobri neste domingo (23) por um golpe do acaso. Ele é chargista de um diário interiorano, em um país com uma tradição mais que sesquicentenária de caricatura, charge e cartum em sua imprensa, uma veia de desenho de humor respeitável, que sobreviveu à ditadura rindo dela e continua muito viva. A concorrência é forte portanto. Ainda assim vale a pena conhecer o trabalho de Lézio, que ombreia com os muito bons.



Lécio não é um anônimo. Formou-se pela Unilago, que já revelou outros bons traços na mesma São João do Rio Preto. Já foi premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba e na Expocom, publicado no Pasquim e no Estado de S. Paulo. Sua produção exposta na internet tem lá seus altos e baixos, como acontece irremediavelmente com o desenhista que desenha para ganhar seu pão. Mas os altos são de tirar o chapéu.



Sobretudo as caricaturas. Quantos Geraldos Alckmin já publicados valem o que ilustra esta crítica? E o que dizer deste Orlando Villas Boas? Não se trata apenas do virtuosismo técnico, que este fica cada vez mais fácil na era do computador; existe também um pedaço da alma do velho sertanista flutuando no traço de Lézio, perceptível até na reprodução acanhada que a internet permite.



Há ainda umas aquarelas de humor comportamental que merecem a visita – mais que as políticas, onde a irregularidade é pronunciada. O humor de costumes, digamos, impressiona mais. É mais penetrante, meio lírico, meio triste às vezes, já que o humor tem essa vertente esquisita que foge da esfera do cômico sem abandonar a do bem-humorado.



O Diário da Região informa ter tiragens de 23 mil exemplares nos dias úteis e 29 mil aos domingos. Que bom que com a internet já não são só eles que podem conhecer esse trabalho. Clique aqui para ver mais.