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Chico e Caetano roubam a cena em homenagem a Jorge Amado

Como era esperado, Caetano Veloso e Chico Buarque foram os destaques do evento de lançamento da reedição das obras completas de Jorge Amado (1912-2001), pela Companhia das Letras, nesta terça-feira (25) à noite, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Se, por um lado, ambos frustraram a expectativa do público, que, fartamente munido de câmeras, esperava ver os dois cantores juntos no palco, por outro envolveram a platéia, cada um de seu modo peculiar.



O carioca entrou no palco de jeans, tênis e camisa branca, com seu jeito tímido. Sentou-se à mesa para ler trecho de Dona Flor e Seus Dois Maridos e corou, soltando risadinhas, ao comentar o ar safado da protagonista depois que o finado Vadinho volta dos mortos.



Já Caetano, também de jeans e exibindo seu farto cabelo grisalho, cantou Dorival Caymmi (É Doce Morrer no Mar, cuja letra é de Amado) e tropeçou na letra de Milagres do Povo, composição sua para a trilha da minissérie Tenda dos Milagres (baseada em obra do escritor baiano). “Quando é para cantar uma letra do Caymmi eu faço tudo certo, nas minhas, eu erro”, disse o cantor. “Isso é coisa do Jorge.”



Dirigido por Vadim Nikitin, o espetáculo mesclou leituras de trechos de obras — por Chico (Dona Flor e Seus Dois Maridos), Milton Hatoum (A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água), e Caetano (Mar Morto), — homenagens — do escritor moçambicano Mia Couto e do historiador Alberto da Costa e Silva, e dramatizações. Também foram exibidas cenas do documentário Jorge Amado, de João Moreira Sal- les, e de um depoimento gravado pela viúva Zélia Gattai, que não pôde comparecer.



Em sua fala, Gattai lembrou que, perto de terminar Dona Flor, Amado estava “aflito” com o desenlace da trama. Ela então sugeriu matar a personagem. O escritor se recusou e, após perder a noite escrevendo, acordou a mulher com a solução: “Ó, Zélia, essa sua amiga se revelou uma boa descarada. Vadinho voltou nu, ela dormiu com ele e Dr. Teodoro, e achou ótimo”. O público aplaudiu.



Jeito açucarado



O mestre-de-cerimônias foi o ator baiano Luis Miranda. A ele, juntaram-se no palco os atores Marat Descartes, Luah Guimarãez e Edna Aguiar.



Costa e Silva salientou que o que distingue um escritor de romances de um verdadeiro romancista, como Amado, são seus personagens, “que vivem durante a leitura e depois que o livro é fechado”. Já Mia Couto ressaltou que, por meio da obra do escritor baiano, “o Brasil regressava à Africa”, e devolvia ao continente a fala [o português] “num jeito açucarado”.



A noite acabou com Caetano contando um episódio curioso: convidado para entrevistar o escritor para O Pasquim, ele perguntou se sua relação com o candomblé era política, ideológica, cultural ou se tinha dimensão religiosa. O escritor respondeu que, diferentemente do amigo Caymmi, não acreditava em nada. Mas que já tinha visto “muitos milagres no candomblé, milagres do povo brasileiro”.



Fonte: Folha de S.Paulo