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Futebol: heroísmo de cubanos diante de assédio americano

Após um empate considerado heróico contra a seleção de futebol dos Estados Unidos, em competição pré-olímpica, vários jogadores da seleção de Cuba foram aliciados por dirigentes da equipe de Miami, um time da “segunda” divisão americana de futebol, a U

Foi um resultado histórico. Jogando nos Estados Unidos, Cuba conseguiu um empate por 1 a 1 contra o time da casa na primeira rodada do Pré-Olímpico da Concacaf. Um placar inesperado diante de um rival político que contava com jogadores de projeção internacional como Freddy Adu e Altidore, o que atesta o crescimento do futebol cubano desde a virada do século. Por um instante, pensou-se até que os caribenhos teriam alguma possibilidade de se classificar para os Jogos Olímpicos. Uma possibilidade que praticamente morreu no dia seguinte.



Ao mesmo tempo em que o empate despertou o sonho olímpico, ele também serviu para abrir portas do futebol profissional aos jogadores cubanos. O goleiro José Manuel Miranda, os defensores Erlys García, Loanni Cartaya, Yenier Bermúdez e Yendry Díaz e os meio-campistas Yordany Alvarez e Eder Roldán abandonaram o hotel em Tampa no qual a delegação cubana estava hospedada. Foram vistos em Boca Ratón, esperando fazer algum teste em um time norte-americano.



Casos de deserção já se tornaram comuns em competições que envolvem Cuba. O estranho é ver isso no futebol – em geral, quem foge são atletas de ponta no cenário mundial, como boxeadores e jogadores de beisebol – e o modo resignado como a delegação ilhéu tratou o caso. Não houve ameaça de abandonar a competição ou promoção de caça aos desertores.



No âmbito diplomático, Cuba se disse surpresa, comentou que era uma desonra aos atletas e confirmou que continuaria no Pré-Olímpico. A Concacaf divulgou um comunicado em que dizia não ter relação com o sumiço dos jogadores. Dirigentes do Miami, da USL (segunda liga mais importantes dos Estados Unidos, abaixo da MLS), assumiram que seduziram os cubanos com propostas de testes após o empate na estréia do Pré-Olímpico.



Sobraram 11 jogadores no elenco cubano. Considerando que um estava suspenso (Linares, autor do gol contra os Estados Unidos, foi expulso na estréia), o time caribenho entrou em campo com 10 homens para enfrentar Honduras na segunda rodada. Uma situação inusitada, pois, além de ter um jogador a menos, os caribenhos não podiam realizar substituições por falta de banco de reservas.



Além disso, o técnico Raúl González seria obrigado a escalar Cuba com o esquema tático possível com os 10 que sobraram na delegação. Considerando que a maior parte dos desertores eram defensores e atacantes, o sistema de jogo contra os hondurenhos seria um inédito 2-5-2. Com a improvisação de dois meias, ficou um 3-3-3. Para piorar, metade do time titular não estava disponível. Ou pela suspensão de Linares, ou pelo fato de cinco dos sete desertores serem titulares da equipe.



Nesse cenário, o que poderia ser uma histórica campanha para o futebol cubano se transformou em um ato de bravura de 10 jogadores. E aqui não cabe julgar o mérito político das deserções ou da sedução do Miami, mas observar o inegável esforço dos atletas, que tentaram superar todo esse cenário para, em campo, deixar uma imagem mais honrosa de si próprio.



Contra os hondurenhos, Cuba resistiu durante quase 70 minutos, cometeu apenas três faltas e perdeu só por 2 a 0. Um resultado excepcional diante das condições, mas que praticamente selou a eliminação da equipe caribenha. Um fim melancólico para jogadores que mostraram amor à camisa e, sobretudo, ao esporte. Independentemente de ideologias políticas.



FICHA TÉCNICA


HONDURAS 2 x 0 CUBA


Primeira fase do Pré-Olímpico da Concacaf 2008
Data: 13 de março de 2008
Local: estádio Raymond James (Tampa)
Árbitro: Roberto García (México)



Honduras: Hernández; Arzú, Molina, Norales (Daniel Álvarez) e Padilla; Mario Martinez (Ruiz), Marvin Sánchez, Thomas e Óscar Morales; Bernárdez (Luis Alfredo López) e Guity. T: Alexis Mendoza



Cuba: Arguelles; Pozo, Juan Carlos Martínez e Urgelles; Vasconcelos, Carrazana, Villaurrutia; Coroneaux, Duarte e Rosales. T: Raúl González
Gols: Marvin Sánchez (23/2º) e Thomas (31/2º)