Brasil deve ser generoso com o Paraguai, diz Emir Sader
Os candidatos que disputam as eleições para presidente no Paraguai questionam, em maior ou menos intensidade, o valor que o governo brasileiro paga pelo uso da cota de energia gerada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu – localizada no estado do Paraná, na d
Publicado 27/03/2008 15:22
Cada país tem direito a 50% da energia gerada pela usina, mas o Brasil consome 95% do total, comprando do Paraguai o excedente de energia não utilizada pelo país. O Paraguai reivindica que o Brasil pague melhores preços pela energia fornecida.
Entre os candidatos à presidência, o ex-bispo, Fernando Lugo é o que tem um discurso mais incisivo sobre o assunto. Em entrevista à Radioagência NP, Sader sugere que essa questão seja discutida dentro do âmbito da integração regional.
As reivindicações paraguaias são justas?
Há controvérsias. O Paraguai alega que está recebendo muito menos e que teria direito a renegociar. O Brasil diz que considera essa hipótese só depois que fossem pagos os custos da construção da usina, pois o Brasil arcou sozinho com eles. O que é preciso considerar é que o acordo foi feito por dois regimes militares, portanto, a questão da legitimidade política desse acordo pode ser questionada e rediscutida. Além disso, existe uma dívida histórica de todos os países da região para com o Paraguai.
Ao que você se refere?
Não vamos voltar a abrir feridas, mas é óbvio que esse país foi destruído na Guerra do Paraguai. Eles tiveram 70% da população masculina morta. Eles foram massacrados e passaram a viver em uma situação de isolamento e atraso. Então existe uma dívida do continente para com o Paraguai. O Brasil tem que ser muito generoso e solidário com o Paraguai. Não dá pra discutir essa questão em termos de custo e benefício, porque na verdade se trata de um processo de integração continental. É preciso construir um destino comum e pensar a região como um todo e não nos interesses específicos dos Brasil, particularmente do empresariado brasileiro que vai ficar levantando temas de que isso vai aumentar o preço.
Qual a imagem do Brasil no Paraguai?
A imagem do Brasil no Paraguai é muito ruim. É a imagem de um país imperialista que se aproveita e que explora. O Paraguai é um dos países que tem utilização de transgênicos em maior proporção no mundo. O rei da soja lá é um brasileiro. Ele [Marcos Moura de Souza] é a pessoa de maior importância econômica na região. O Brasil tem lá um processo muito grande de exploração da terra com os transgênicos. Então [tudo isso faz com que] essa questão de [Itaipu] tenha que ser discutida globalmente, mas muito vinculada à discussão da renegociação de preços em Itaipu.
Se o candidato Fernando Lugo ganhar as eleições paraguaias, ele pode dar boas perspectivas para o futuro do país?
Com certeza. Depois de 60 anos de ditadura do partido colorado, o Paraguai vive a melhor situação para superar esse estado de dominação por esse partido. Isso vai fazer bem para a América Latina e faz parte de um processo agora vivido por outros países da região, preocupados com a recuperação dos seus recursos naturais, [a discussão sobre] o papel das populações de diferentes etnias, a democracia social e o antineoliberalismo.