Entre Tantos encerra temporada no Quinta com Dança do Dragão do Mar
O espetáculo Entre Tantos encerra temporada hoje, no Teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, usando o labirinto como lugar de descobertas. Nisso, estabelece um diálogo entre elementos de jazz e a dança contemporânea.
Publicado 27/03/2008 09:23 | Editado 04/03/2020 16:36
O labirinto está posto sobre o palco em forma de luz. Vazio, ele pede para ser percorrido e explorado. Desvendado, jamais. Daí as múltiplas tentativas de surpreender, com alguma forma de bloqueio, quem está em busca de uma saída. Essa é uma metáfora para a aposta no processo em detrimento ao alcance exclusivo de um objetivo. Mais importante e transformador que o fim, é o percurso. Entre Tantos, que encerra hoje à noite a temporada de março no programa Quinta com Dança, no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, conduz o público exatamente para esse lugar de incertezas e de instabilidades e, por conseguinte, também de experimentação.
Neste caso, vale se deter com um pouco mais de atenção sobre os corpos que se encontram e se cruzam nesses caminhos. O espetáculo não pertence a uma companhia ou grupo consolidado na cena local. Cláudia Pires, Elane Fonseca, Silvana Marques, Mônica Marques e Mônica Nepomuceno são intérpretes-criadoras que se reuniram para desenvolver esse projeto específico, vencedor do III Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (Secult). No entanto, é preciso lembrar que, há pouco mais de dez anos, parte desse conjunto compunha o extinto Pano de Boca. O grupo foi um dos primeiros independentes a se consolidar no Ceará e ter forte atuação do fim dos anos 80 a meados dos anos 90. Capitaneado por Vera Passos e com sede inicial na extinta Academia de Dança Cláudia Borges, o grupo nasceu calcado no jazz e evoluiu para o modern dance até chegar à dança contemporânea.
O interessante dessa história é perceber como o conhecimento e as linguagens trabalhadas pelo grupo foram sendo construídos, pouco a pouco, pelas descobertas quase intuitivas dele próprio. O palco de Entre Tantos provoca o encontro de corpos surgidos nessa esfera com outros mais jovens, modelados a partir de trabalhos de formação mais direcionados como o Curso Técnico em Dança oferecido pelo Centro Dragão do Mar e o Senac. Lúcia Machado, que dirige o espetáculo e rege a concepção coreográfica, tenta abrir caminho para um diálogo de convergência (ou mesmo de divergência) entre cada um desses corpos com processos de formação diferentes.
Esse caldo de cultura acaba produzindo uma mistura na qual elementos de jazz dance são desenvolvidos com um olhar contemporâneo, fazendo com que eles superem esquemas repetitivos para ganharem um novo potencial de significação. Essa hibridez justamente entre o jazz e o contemporâneo tem sido pouco explorada na dança feita hoje. Uma das herdeiras do Pano de Boca, Lúcia sai-se bem na hora de incitar as possibilidades de uma movimentação específica a partir desse imbróglio e aceita também as interferências provocadas pelas dificuldades surgidas no diálogo de um corpo com o outro.
Se a movimentação persegue caminhos próprios, a concepção cênica vai no sentido oposto. Colocados no labirinto, os corpos são jogados uns contra os outros repetidamente. O mesmo acontece quando eles decidem caminhar em círculo e, nisso, se esbarram sem parar. É uma fórmula que se replica demasiadamente e que, da maneira como é perseguida, pouco reflete no avanço rumo a uma etapa posterior de estado desses corpos. No entanto, essa é ainda a primeira temporada de exibição de um trabalho que, acreditando no processo, a cada apresentação, amadurece no palco.
SERVIÇO
Entre Tantos – espetáculo em cartaz hoje, às 20h, no Teatro do Centro Dragão do Mar (R. Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema), como parte da programação do Quinta com Dança. Ingressos: R$ 2 (inteira) e R$ 1 (meia). Informações: 3488.8600
Fonte: O POVO