China e Tibete: O que a mídia não conta
Por Regina Abrahão*
Desde o acirramento das manifestações separatistas, tento buscar informações sobre a real gravidade do que está ocorrendo no Tibete. As notícias fornecidas pela mídia “oficial”, dão conta de intensas manifestações, mas as informa
Publicado 28/03/2008 10:01 | Editado 04/03/2020 17:11
O que vemos, então, são cenas de enfrentamento, onde as túnicas laranja dos monjes destacam-se no enfrentamento ao exército chinês. Curiosamente, dizem que apenas as imagens censuradas pela TV chinesa são transmitidas, mas não temos uma única entrevista das autoridades chinesas, nem dos monges nacionalistas anti-separatistas, nem aos documentos oficiais do governo.
As informações contrastam. Segundo o Dalai Lama, são mais de cem tibetanos mortos; segundo o governo chinês, são desesseis.
Para a Folha on Line, o Estado de São Paulo, o site 10 em Tudo e outros inúmeros outros disponíveis na Internet, o Tibete seria uma espécie de paraíso, habitado por democráticos e pacíficos budistas, que apenas buscam a independência de sua “pátria”. As cenas de paisagens, ora bucólicas, ora de montanhas geladas é sempre associada à religiosidade e a não violência.
Mas mesmo as emissoras que adotam a estética fotográfica de paraísos idílicos esquece de lembrar que até meados de 1950 o Tibete era uma sociedade extremamente desigual, onde 5% da população, a camada “superior”, formada por lamas e leigos nobres, que detinham cerca de 60% das terras agricultáveis. Os governantes, também cerca de 5%, ficavam com outra parcela das terras, em torno de 38%. Nobres, lamas e governantes detinham poder de vida e morte sobre servos e escravos (sim, em 1950 cerca de 5% da população do Tibete era escrava). Não só isto: lamas e nobres podiam também ter suas “cadeias” particulares, determinavam quem ocuparia cargos públicos. Não havia nenhum tipo de assistência ou serviços públicos para os setores não-nobres ou religiosos. Havia diferenças inclusive entre as seitas religiosas, sendo a do Dalai Lama detinha privilégios em relação às demais. Casamentos entre classes diferentes eram proibidos e punidos.
A participação do governo central da China no Tibete resultou em avanços significativos para estes 90% da população que vivia num regime de dominação e terror. Com o fim dos privilégios legais, todos passaram a ter os mesmos direitos e deveres, extinguiram-se as cadeias particulares, os regimes de servidão e escravidão. A terra foi redistribuída, e, em muitos casos, indenizada. Acabado o regime teocrático, foram eleitos governantes leigos, incluindo aí mulheres, religiosos, ex-servos.
Certo que quem perde privilégios raramente se contenta com a nova situação. Ao mesmo tempo em que a experiência socialista do leste europeu se fragmentava, o imperialismo mundial se assombrava com a perspectiva de uma nova bipolaridade mundial. Aos E.U.A. não interessava e não interessa que a China desponte como nova potência mundial. Os “levantes populares” de que nos fala a mídia, nunca foram mais do que a antiga classe dominante, insuflada pelo imperialismo, na tentativa de desestabilizar a China aos olhos da opinião pública. Da mesma forma em que a mídia nos engana com falsas matérias sobre trabalho escravo, parca remuneração e nenhum direito trabalhista enquanto a China dispõe de uma das mais avançada legislação trabalhista do mundo.
O site www.rebelion.org nos dá a lista de livros e publicações sobre as atividades da CIA no Tibete, e cita registros interessantes: Em Los gerreros de Budha – La historia de los combatientes tibetanos de la libertad apoiados por la CIA, Mikel Dunham explica como a CIA levou aos E.U.A centenas de tibetanos, deu-lhes formação paramilitar, e os reenviou ao Tibete com armas e táticas de guerrilha, para que iniciassem a “revolução”.
Há uma velha máxima que diz: Conhecendo os inimigos de um homem, poderemos conhecer seu caráter. Pois bem, neste momento em que a China se prepara para mostrar ao mundo sua organização social e política nas Olimpíadas, e que parte do presidente de direita da França a indicação de boicote ao evento, após os rasgadops elogios de Bush ao Dalai Lama e aos “revolucianários” do Tibete, nada mais natural para quem acredita e busca o socialismo do que posicionar-se contra o separatismo dos nem tão plácidos monges tibetanos.
Regina Abrahão
Diretora do SEMAPI RS