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EUA: intervenção na economia divide presidenciáveis

O senador e presidenciável democrata Barack Obama comparou nesta quinta-feira (27) a atual crise econômica dos Estados Unidos à Grande Depressão dos anos 30, e propôs uma maior regulamentação, por parte do governo e dos mercados financeiros e um aumento d

O plano econômico assinala uma postura mais agressiva de Obama, que tem se mostrado menos disposto a abraçar uma ativa intervenção governamental no aperto de crédito e na crise imobiliária dos EUA do que sua rival pela candidatura do Partido Democrata, a senadora Hillary Clinton.



Em seu pronunciamento mais detalhado sobre a economia até agora, Obama, senador de Illinois, elencou uma série de iniciativas para impedir que os problemas do mercado imobiliário se avolumem e para evitar crises futuras por meio de uma regulamentação mais rigorosa.



Obama criticou a atual estrutura regulatória dos EUA, qualificando-a de desconjuntada e ineficaz e dizendo ser necessário haver um regime mais consolidado para melhor lidar com os riscos nos mercados.



“Quando o crédito imobiliário 'subprime' (de alto risco) tomou um rumo irresponsável e insustentável, uma colcha de retalhos de regulamentadores foi incapaz ou não teve a disposição de proteger o povo americano”, afirmou Obama para uma platéia de 150 pessoas em Manhattan.



“Apólice de seguro”



Seu plano mais ambicioso permitiria que o Fed definisse exigências de capital e liquidez para os bancos de investimento e corretoras que tomam dinheiro emprestado do banco central. Atualmente, o Fed só tem esse poder sobre bancos comerciais.



“Quando o Fed entra em ação, está fornecendo aos financiadores uma apólice de seguro subscrita pelo contribuinte americano”, disse. “Em troca, os contribuintes têm todo o direito de esperar que essas instituições não assumam riscos excessivos.”



Além disso, Obama sugeriu a criação de uma “comissão de supervisão do mercado financeiro”, que monitoraria os riscos ao sistema financeiro. Isso está de acordo com uma proposta do presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, o deputado democrata Barney Frank, de que o Fed ou outra autoridade deveria ter esse tipo de poder.



Na quarta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, recomendou que o Fed seja capaz de obter mais informação das corretoras que tomam dinheiro emprestado do banco central.



Obama criticou a multiplicidade de autoridades regulamentares que supervisionam no momento o sistema financeiro americano e disse que o número de entidades deveria ser reduzido, e seus esforços mais bem concentrados. Mas não especificou de que maneira. Ele também sugeriu que houvesse uma investigação de potenciais conflitos de interesse nas agências de classificação de risco, porque elas são pagas pelas entidades às quais atribuem notas.



Nas últimas semanas, a combinação de aperto de crédito com aumento das execuções judiciais de imóveis ganhou lugar de destaque na campanha presidencial americana, especialmente agora que os dois candidatos democratas brigam pelos votos da Pensilvânia, que realiza eleições prévias em 22 de abril. Hillary precisa de uma vitória para manter viva sua campanha e convencer os superdelegados indecisos a apoiá-la.



Outros pontos de vista


 


Na segunda-feira, Hillary propôs que o governo esteja pronto para comprar financiamentos imobiliários com problemas, se outras medidas fracassarem.



Obama e Hillary parecem fazer um jogo de ver quem dá o salto mais longo em termos de política econômica. A senadora propôs na segunda um pacote de US$ 30 bilhões que forneceria dinheiro e crédito a localidades para adquirir imóveis confiscados, fazer melhorias e vendê-los. O objetivo é evitar grandes bolsões de casas arrestadas que prejudicariam os bairros.



Nesta quinta-feira, Obama respondeu com seu próprio pacote de US$ 30 bilhões, embora diga que ele ajudaria mutuários em dificuldades financeiras a manter suas casas, por meio de auxílio individual. O dinheiro seria usado para ajudar os Estados a lidar com projetados déficits orçamentários por causa do enfraquecimento da economia.



Tanto Hillary quanto Obama comprometeram-se a apoiar projetos de lei que estão sendo preparados por Barney Frank e pelo senador Christopher Dodd (também democrata) que estabeleceriam um sistema de leilão financiado pelo governo para financiamentos imobiliários não pagos, e ambos propuseram uma expansão de US$ 10 bilhões do programa de títulos de receita hipotecária que oferece juros abaixo dos de mercado para quem compra a casa própria.



O senador John McCain, o candidato republicano, é a favor de intervenção limitada do governo e criticou seus rivais democratas por recorrerem a planos bilionários. Na terça-feira, ele disse que investidores que agiram irresponsavelmente não deveriam ser resgatados pelos contribuintes e que o governo deveria intervir “unicamente para prevenir risco sistêmico”. Não descreveu planos específicos.



“As reformas deveriam se concentrar em melhorar a transparência e a imputabilidade em nossos mercados de capitais”, disse ele num comunicado ontem – pontos que os outros candidatos e a Casa Branca também fizeram.



O principal porta-voz econômico de McCain, Douglas Holtz-Eakin, disse que as propostas de Obama não representam novas idéias. “Essas são palavras maravilhosas e são palavras que você poderia ouvir de republicanos e palavras que você poderia ouvir de democratas”, disse.



Fonte: The Wall Street Journal