Oposição será maioria no parlamento do Zimbábue
A Comissão Eleitoral do Zimbábue (ZEC) informou nesta quarta-feira (2) que o Movimento para a Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês) obteve a maioria das vagas em disputa nas eleições gerais do último sábado.
Publicado 02/04/2008 14:42
Segundo os resultados oficiais, o MDC conquistou 96 assentos, outra facção opositora, nove, enquanto a situacionista União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (ZANU-PF), obteve 94 vagas.
Entretanto, não foi divulgado nenhum relatório sobre a eleição para o cargo de presidente, ao qual concorre pela quinta vez consecutiva Robert Mugabe.
Os outros dois candidatos são o líder do MDC, Morgan Tsvangirai, e o independente Zimba Makoni.
Partidários de Tsvangirai anunciaram em várias ocasiões seu triunfo, baseados em pesquisas de boca de urna.
O vice-ministro de Informação, Bright Matonga, qualificou de ''irresponsável'' esse tipo de manifestação, a qual, advertiu, poderia incitar a violência.
Colônia britânica
O atual Zimbábue, antiga Rodésia, foi colônia britânica até o fim da década de 1970, quando, após uma guerra civil de sete anos e um conturbado período de transição, Robert Mugabe é eleito primeiro-ministro do país. A independência é proclamada formalmente em abril e o país é admitido na ONU.
Mugabe era um dos líderes da União Nacional Africana do Zimbábue, que na época ainda não era unida à outra força revolucionária do país, a ZAPU, resultando hoje no que é o ZANU-PF.
A antiga Rodésia é considerada um dos pilares dos regimes racistas patrocinados pelo Reino Unido na África, tendo estreita ligação com o regime de Apartheid da África do Sul e com o regime racista da antiga Rodésia do Norte, hoje Zâmbia.
Por causa disso, guerrilheiros ligados aos concorrentes de Mugabe, e mesmo antigos dissidentes do ZANU, estreitam relações com o governo racista da África do Sul e iniciam ataques terroristas contra o governo de Mugabe, com o apoio militar e logístico do regime do apartheid.
As eleições de 1985 ampliam a maioria da Zanu no Parlamento. Diante da continuidade da ajuda racista aos guerrilheiros dissidentes e correligionários do ex-primeiro-ministro Ian Smith, antigo chefe racista rodesiano, a constituição do país é reformada em 1987, eliminando as vagas reservadas aos racistas no Parlamento.
Naquele ano, Mugabe e Nkomo decidem fundir a Zanu e a Zapu em um mesmo partido, que adquire o controle político de Zimbábue. Em 1988, Mugabe amplia seu poder e acumula os cargos de presidente e primeiro-ministro.
Protestos
A oposição rearticula-se em 1990, quando o Movimento pela Unidade de Zimbábue (ZUM), formado por dissidentes da Zanu, estabelece uma coligação com a Aliança Conservadora, de Smith, apoiados pela elite branca.
Mugabe é reeleito em 1990 e a Zanu-Zapu mantém folgada maioria parlamentar. Fortalecido, Mugabe desapropria terras dos racistas da Aliança Conservadora.
Em 1991, com o fim do bloco socialista, Mugabe muda sua política e adota o plano de ajuste econômico exigido pelo FMI, com privatização de estatais, liberalização de preços e estímulo a investimentos estrangeiros.
Ian Smith
Falecido aos 88 anos em 2007, foi líder de um dos governos mais racistas do planeta. Em 1964 foi alçado à condição primeiro-ministro da colônia, fazendo uma declaração unilateral de independência no ano seguinte. Pressões do governo britânico fizeram com que as Nações Unidas impusessem sanções ao regime racista.
A situação política e econômica do país levou a uma guerra civil que durou sete anos. No final não foram apenas as forças da guerrilha mas também o próprio Reino Unido e o regime racista da África do Sul que forçaram Smith a aceitar eleições gerais.
Numa entrevista à BBC em 1998, Ian Smith, ''explicava'' assim o conflito sangrento que se seguiu à autoproclamação da independência em 1965:
''A guerra civil foi causada por indivíduos que deixaram o país e que foram sujeitos a uma lavagem cerebral na Rússia e na China. Eram pessoas com sede do poder e que queriam tomar as sua rédeas e que não quiseram esperar pela evolução normal das coisas''.
A violência pós-independência esteve sempre relacionada com as ações do governo racista de Smith, que administrava o domínio político de uma minoria de 200 mil brancos sobre uma população maioritária de 5 milhões de negros.
''O medo e o ódio estão a destruir o nosso país. Eu, enquanto branco receio o poder negro porque julgo que vou sofrer com isso e o homem negro odeia o homem branco. Mas este ódio é justificado, basta-me olhar para África e encontro amplas razões para esse ódio”, declarou na década de 1980 Ian Smith.