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Cerca de Bush na fronteira destrói meio ambiente

A administração Bush está levando adiante o que os críticos dizem ser um último gesto de vandalismo ambiental: descartar mais de 30 leis e regulamentos para completar um trecho de mil quilômetros na cerca ao longo da fronteira com o México, até o fim d

O trecho da cerca anti-imigrantes que falta completar tem 500 km e irá do Rio Colorado até as longínquas Peloncillo, na fronteira do Novo México. Ele corta o delicado bioma de uma extensa rede de parques nacionais, monumentos, refúgios da vida selvagem e áreas de deserto.



A natureza em perigo



A controvertida cerca vai segmentar reservas nacionais americanas e também cortará terras apossadas por famílias desde os tempos coloniais espanhóis.  Os buldôzeres e as equipes de construção serão enviados em breve para áreas protegidas pela lei ambiental federal, que possuem alguns dos mais ricos e diversificados habitats naturais dos EUA.



A muralha resultante, que incluirá baterias de holofotes para iluminar os céus do deserto, será intransponível para muitos mamíferos. Mas não necessariamente para os humanos.



Um tema da campanha eleitoral



A imigração ilegal é um dos temas mais quentes da atual campanha presidencial nos EUA, e um ponto vulnerável para o candidato republicano, John McCain. A administração Bush deseja mostrar progresso em um tema que, conforme mostram as pesquisas, é importante para o eleitorado conservador. Depois de pesadamente criticado por sua ''fraqueza'' face à imigração, McCain recentemente fez uma flexão e passou a apoiar a controvertida cerca.



O governo Bush argumenta que a barreira é necessária a uma maior segurança nacional e o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff, defendeu a decisão a despeito da legislação ambiental, por permitir que ''importantes projetos de segurança continuem a avançar''. Em meados de março, 497 km da cerca já estavam erguidos, faltando completá-los com mais 580 km, dos quais 420 km são em terras federais. Chertoff disse que foram feitos mais de cem reuniões com entidades ambientalistas e indígenas americanos, tentando chegar a compromissos face às objeções a esse último e mais difícil trecho.



O grande isolamento da região de fronteira do Arizona fez de suas terras públicas um lugar de abundante vida selvagem e de flora, com muitas espécies que não são encontradas em outras partes dos EUA. A cerca cruzará vastos vales desérticos cobertos de cactos saguaro e antigos pés de pau-ferro, assim como picos montanhosos com florestas e rios, flanqueados por graciosos bosques de paineiras.



Denúncias dos ambientalistas



Uma coalizão de organizações ambientalistas afirma que a obra vai colocar em perigo as cabeceiras do Rio Sonora, derrubar carvalhos e colocar em risco de extinção duas espécies de felinos – o ocelote e o jaguarundi –, ao impedi-los de cruzar o Rio Grande para procriar.



Nos últimos dez anos, o dramático aumento do policiamento anti-imigração em áreas populosas como San Diego e El Paso empurrou os imigrantes, e também os narcotraficantes, para as longínquas fronteiras do Arizona, de onde eles tentam ingressar nos EUA. A Guarda de Fronteiras americana seguiu no rastro dos imigrantes, empregando veículos fora-de-estrada e helicópteros capazes de voar a baixa altitude. A organização Defender of Wildlife sustenta que isso ''resultou em significativa degradação ambiental em alguns dos mais preservados e valiosos habitats da vida selvagem na nação''.



Embora a cerca continue em construção, continua o debate sobre sua capacidade de conter a imigração ilegal. Fernando Carrillo, um operário da construção civil com 32 anos, deportado do Arizona seis meses atrás, disse para a Associated Press que o obstáculo não o impedirá de tentar voltar para junto de sua mulher e filhos, em Phoenix. ''Eles podem fazer o que quiserem, mas vamos continuar tentando'', disse ele, diante da nova cerca, em Nogales.