Conselho da UnB aprova lista de indicações para reitor
O Conselho Superior da Universidade de Brasília (Consuni) aprovou na tarde desta terça-feira (15) a lista tríplice com as indicações para o cargo de reitor da instituição. O documento deve ser entregue ainda esta tarde ao ministro da Educação, Fernando Ha
Publicado 15/04/2008 18:36
Os nomes aprovados na reunião são o do jurista e filósofo Roberto Aguiar, do departamento de Direito da UnB; o da doutora em sociologia Lurdes Bandeira, diretora do Instituto de Ciências Sociais da universidade; e o do professor de Administração Gileno Marcelino, que dirigiu a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade, Ciência da Informação e Documentação (Sace).
O ex-reitor da UnB Timothy Mulholland formalizou na segunda-feira (14) sua renúncia, após os protestos dos estudantes que já duram mais de dez dias.
Em apoio a ocupação da UnB e pela regulamentação das fundações nas universidades públicas a UNE estará realizando na quinta-feira (17) o Dia Nacional de Mobilizações nas universidades públicas. Na pauta estará também as eleições paritárias para reitor.
Ocupação continua
Os estudantes que ocupam a reitoria da UnB decidiram em assembléia que vão permanecer no local até que haja a convocação de um Congresso Estatuinte e que possam ser atendidas outras reivindicações.
Os estudantes pedem eleições paritárias (em que os votos de professores, alunos e servidores têm o mesmo peso), construção de novos prédios de moradia estudantil, realização de concurso para contratação de professores e funcionários técnicos, construção de um restaurante universitário no campus de Planaltina, além da dissolução do conselho da Fundação Universidade de Brasília (FUB).
Pelo sistema atual de eleições na UnB o voto dos professores pesa 70%, dos alunos 15% e dos servidores 15%.
Para Diogo Ramalho, estudante de letras e membro do comitê de comunicação do movimento, “é preciso ficar bem claro que a gente entrou aqui com 18 pautas. A saída do reitor e do vice foi apenas uma delas”.
Os estudantes acompanharam na tarde desta segunda-feira a reunião do Consuni que decidiu pela abertura de inquérito administrativo para apurar possíveis irregularidades cometidas durante a gestão do ex-reitor Timothy Mulholland.
Ocupação 'perder o sentido', diz Haddad
Em meio à indefinição de um nome temporário para responder pela reitoria da Universidade de Brasília (UnB), o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (14), que o movimento estudantil vai “perder o sentido” se continuar ocupando o prédio da reitoria da instituição.
Ele avaliou que existe o risco dos estudantes “transformarem uma bela vitória numa derrota”, se não for desocupado o prédio, já que o reitor, Timothy Mulholland, e o seu vice, Edgard Mamyia, se afastaram do poder, como reivindicavam os alunos.
“Todo mundo se portou muito bem até aqui. Os estudantes tinham uma reivindicação legítima com apoio social. Reitor e vice-reitor compreenderam que do ponto de vista político era insustentável sua permanência à frente da UnB”, disse.
“Imaginavamos que uma vez atendida a principal reivindicação, o caso era de se retirar da reitoria, e negociar, com o reitor pro tempore, as regras da nova eleição.
Negociações com cautela
O ministro da Educação informou ainda que as negociações com os estudantes prosseguem com “cautela”. “Estamos, com toda a cautela, conduzindo essas negociações para um desfecho satisfatório. [A UnB] vai voltar a funcionar normalmente com o reitor pró-tempore. Vai poder pagar bolsas, abrir concurso público e pagar salários. Ninguém é contra que volte a funcionar normalmente. A negociação política está em aberto. Vamos continuar dialogando e procurando os caminhos da solução”, disse ele a jornalistas.
Segundo o ministro Haddad, as universidades têm adotado, cada uma, uma regra distinta sobre eleições paritárias.
“A paridade existe em várias universidades. Existem outras que caminham muito bem sem paridade. O MEC não tem como alterar as regras, uma vez que há uma legislação em vigor”, disse ele. Segundo a assessoria de imprensa do MEC, o Conselho Universitário da universidade é quem tem poder de alterar essa regra e permitir eleições paritárias na UnB.
O ministro da Educação disse ainda acreditar que a renúncia de Mulholland e de Edgar Mamyia dará “outra condição de diálogo dentro da instituição”. “Entra uma Reitoria em outra condição de diálogo e vai buscar sensibilizar pela volta da normalidade. Eu diria que estamos conseguindo avanços significativos nos últimos dias”, concluiu.
Professores querem desocupação
Procura-se consenso entre os professores da UnB e bom senso entre os estudantes acampados na reitoria. Nesta segunda, docentes, técnicos e alunos passaram quatro horas trancados na reunião do Consuni.
Entre os nomes citados na reunião, estavam o do ex-secretário de Educação do Distrito Federal Antonio Ibañez Ruiz, reitor da UnB de 1990 a 1994, além do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence e do professor e economista Décio Garcia Munhoz. O professor Isaac Roitman e o senador Cristovam Buarque também foram muito citados. Nenhum deles aceitou a missão.
“As imposições dos estudantes podem colocar por terra todas as conquistas que o movimento estudantil conseguiu até agora”, analisa. “Os estudantes conseguiram derrubar um reitor, um vice-reitor e conquistaram o apoio da comunidade e da cidade. Mas insistir na ocupação e condicioná-la à paridade é colocar uma faca nas costas dos professores. Não é uma medida sensata”, disse Luiz Gonzaga Motta, professor titular da Faculdade de Comunicação e segundo colocado nas últimas eleições para reitor.
Representantes de grupos adversários de Motta na disputa de 2005 pensam da mesma forma. “Se na próxima assembléia de docentes os estudantes continuarem acampados, vou defender a retirada do apoio dos docentes ao movimento dos alunos”, diz Maria Francisco Pinheiro, socióloga, ex-presidente da Adunb.
Estudantes defendem democracia
Na reunião do Consuni, desta segunda, os professores tiveram uma postura conservadora. Insistiram para que os jovens desocupem a reitoria em nome da democracia. O professor Davi Renault, do curso de jornalismo, protestou: “Os atuais estudantes não têm o monopólio da democracia”.
“Nós queremos democracia na UnB. Nem mesmo este conselho aqui é democrático”, afirmou Luiza Oliveira, 18 anos, a moça de cabelos vermelhos que é uma das lideranças do DCE.
Luiza argumentava que a preocupação dos estudantes não era o nome do reitor temporário, mas em que termos será feita a próxima eleição. Ela foi interrompida por um professor que a chamou “autoritária”.
O coordenador geral do DCE, Fábio Félix, a defendeu atacando os mestres. “Os professores não respeitam os estudantes. Mas nós estamos aqui para mostrar que temos de ser respeitados como formuladores de políticas para a UnB”, afirmou.