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Sem projeto, PSDB e DEM acertam normas de autopreservação

Sem rumo, sem projeto para o futuro e sem propostas que signifiquem avanços para o país, a cúpula da oposição de direita (DEM e PSDB) reuniu-se ontem (14), no luxuoso Hotel Crowne Plaza, em São Paulo, para traçar um plano de conduta que garanta a sobreviv

Participaram do encontro os presidentes do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ) e do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), os deputados federais Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), José Aníbal (PSDB-SP) e Rodrigo de Castro (PSDB-MG), os senadores Marco Maciel (DEM-PE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Agripino Maia (DEM-RN) e o presidente de honra do DEM, Jorge Bornhausen (SC).



O evento promovido pelos direitistas foi amplamente coberto pela imprensa, mas o conteúdo mesmo da discussão mereceu pouco destaque na mídia.



O jornal Folha de S.Paulo, tradicional aliado do PSDB, registrou que a oposição decidiu barrar a discussão de qualquer mudança no sistema eleitoral no Congresso. “Numa reunião também marcada por queixas dos democratas quanto ao governador de São Paulo, José Serra, PSDB e DEM articularam a obstrução, especialmente no Senado, da proposta que prevê o fim da reeleição e a fixação de um mandato de cinco anos no país”, diz o jornal paulista.



Segundo a Folha, Rodrigo Maia repetiu argumento usado lá dentro pelo ex-senador Jorge Bornhausen. “A mudança beneficiaria A, B ou C. Não há motivo para que esses casuísmos que estão aparecendo nas palavras de petistas e aliados sejam transformados em realidade no Congresso”, justificou Maia, afirmando que “na hora que se caminha para o terceiro mandato, se diz “pode ser candidato por quantos mandatos quiser'” . “Qualquer mudança nesta área, não vamos votar. É casuísmo”, afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), repercutindo a ladainha do terceiro mandato que vem sendo sustentada por setores da mídia e da oposição sem nenhum respaldo por parte do governo, do PT ou do presidente Lula.



“O bloqueio às reformas eleitorais foi sugerido pelo deputado ACM Neto. E obteve a concordância instantânea de todos os presentes à reunião. Entre eles Fernando Henrique Cardoso. Foi na gestão de FHC, sob denúncias de compra de votos, que o instituto da reeleição foi injetado na Constituição brasileira. Por convicção ou constrangimento, FHC sempre se declarou contrário à alteração da regra”, relata Josias de Souza em seu blog na Folha Online.


 


Outro ponto discutido na reunião foi a estratégia de “redução de danos” que demos e tucanos tentam construir para as eleições municipais de 2008, já que em várias cidades importantes os dois partidos, tradicionais aliados, disputarão com candidaturas distintas, como é o caso de São Paulo, Rio, Salvador, Recife, Porto Alegre e Goiânia. Na reunião, decidiu-se fixar regras de convivência para o primeiro turno que permita não criar fissuras insuperáveis que inviabilizem um acerto no segundo turno. Mas algumas ações tucanas incomodam desde já.



Na reunião, os democratas reclamaram da participação de Serra em ato em apoio à candidatura do PSDB em Salvador. Lá, o líder do DEM na Câmara, ACM Neto, é candidato. Sob pressão, o PSDB concordou em definir o que Guerra chamou de “ajuste de conduta”. “Não queremos nacionalizar. Mas o Serra quer ser candidato de quem em 2010? Se não é para nacionalizar, ele não pode ir a Salvador”, queixou-se Maia, usando como exemplo o apoio dos tucanos ao Verde Fernando Gabeira no Rio.



O encontro demo-tucano deixou claro que à oposição sem projeto alternativo não resta outra opção a não ser tentar abalar o governo Lula. Os dirigentes do PSDB e do DEM avaliam que o sucesso do governo Lula terá forte impacto eleitoral –como, aliás, costuma acontecer em qualquer país democrático: bons governos são bem avaliados e, por consequencia, são recompesados com o voto do eleitor. Mas a oposição quer evitar que esta regra democrática se viabilize e então planeja algumas ações de boicote. Decidiram, por exemplo, expandir sua atuação para além das fronteiras do Congresso. Planejam: a) organizar atos públicos em grandes cidades; b) visitar obras que, embora alardeadas pelo governo, não saíram do papel; c) realçar conflitos agrários produzidos pelo MST, aliado tradicional do petismo;



Decidiu-se também que, no Congresso, a obstrução das atividades dos plenários da Câmara e do Senado será mais seletiva, pois a obstrução irracional que vinham mantedo estava pegando mal até mesmo entre setores alinhados com a oposição, já que muitos projetos importantes deixavam de ser votados por causa da obstrução. Agora, vai-se tentar desencavar projetos de interesse popular que, apresentados por congressistas aliados do governo, não têm o apoio do Planalto. “Uma maneira de constranger o presidente a mobilizar o seu consórcio partidário contra proposições dos próprios governistas”, diz Josias de Souza.



O encontro também fez uma avaliação da conjuntura econômica. Mas ela foi feita com base na apinião de economistas ligados ao PSDB e ao DEM o que, de antemão, já desqualifica a análise. Estes economistas, todos doutrinados pelas políticas do neoliberalismo, são os mesmos que apostavam que o governo Lula traria a hiperinflação de volta, que o país entraria em recessão, que as contas públicas sairiam do controle e que a economia iria quebrar na primeira crise econômica internacional que surgisse. Nenhum destes prognósticos se concretizou.



Estes mesmos economistas agora avaliam que, nos próximos anos, o desempenho do PIB não igualará a marca de 2007, quando o crescimento foi de 5,3%, e que a crise financeira dos EUA terá reflexos na economia da China. E, por tabela, respingará no Brasil. Com base nessas previsões, DEM e PSDB devem “bater bumbo pelo corte de despesas públicas e incremento dos investimentos”. É o máximo que a oposição consegue pautar quando discute alternativas para o desenvolvimento do país.



Da redação,
com agências