Artigo: A CTB, as lutas e o 1º de maio – uma reflexão

Leia artigo de George Câmara, petroleiro, advogado e dirigente sindical do SINDIPETRO-RN.


 



Na natureza e na sociedade, é freqüente nos depararmos com o confronto entre a aparência e a essência em cada fenômeno. No movimento si

Nessa questão, o que é aparência e o que é essência? Vejamos o que diz o Mestre Aurélio a respeito de ambas. Aparência é o que se mostra à primeira vista, ou seja, é ilusão. Essência é substância, é o fundamental, é inerente à natureza de determinado fenômeno. Nas palavras de Vladimir Lênin, “se não houvesse diferença entre aparência e essência, não haveria necessidade de ciência”.



Percorrendo recentemente o ambiente sindical, ouvindo vários comentários entre os trabalhadores e trabalhadoras de inúmeras categorias, por ocasião desse debate sobre a CUT e a CTB, salta aos olhos essa encruzilhada. Perguntam alguns: mas por que desfiliar da CUT, que já tem quase 25 anos, e filiar à CTB, que não completou sequer o seu 1º aniversário? Não seria muito cedo para isso? Afinal, nem conhecemos a CTB ainda!



Tais indagações podem nos conduzir apenas à superficialidade dessa matéria. Melhor dizendo, apenas à aparência desse fenômeno. A existência das várias concepções no movimento dos trabalhadores não é coisa recente. Ainda bem. Do contrário, seria a negação da própria história das lutas sociais em toda a humanidade. Vejamos as principais, atualmente, no meio sindical.



A concepção trade-unionista, presente nos primeiros passos do sindicalismo na Inglaterra na época da Revolução Industrial. A reformista, muito em voga nos dias atuais, sobretudo em ambientes de governos democráticos. A concepção cristã, a anarquista, a trotskista, e finalmente a concepção classista, também chamada de marxista, corrente de opinião que abriga, no movimento sindical, a contribuição dos comunistas, na sua luta em defesa dos trabalhadores.



Segundo a concepção classista, defendida pela CTB, os trabalhadores devem lutar pelos objetivos imediatos, sem perder de vista os objetivos futuros. A vocação dos trabalhadores vai além da luta econômica, por um salário digno. O que faz tremer o capital não é a luta pelo salário. É a luta pela conquista do poder político. Quem produz a riqueza, deve tomar as decisões, ou apenas obedecer?



Segundo Rosa de Luxemburgo, “os reformistas, nem as reformas conseguem; até as mais elementares das reformas por eles preconizadas só serão possíveis com a ação dos revolucionários”. Por essas e outras razões, é fundamental a independência de classe frente aos governos. Mesmo os governos do nosso campo.


 


Quando surgiu a primeira central sindical no Brasil, em 1906, no I Congresso da Confederação Operária Brasileira – COB, sob forte influência dos anarquistas, aí já havia um embrião da presença dos comunistas. Guiados pelo Manifesto Comunista de Marx e Engels, de 1848. “Proletários de todos os países, uni-vos”, foi a frase cunhada muito antes de se pensar na CUT, em nosso país, criada em 1983. Lá se vão 160 anos.



Será que devemos nos limitar à aparência? A CTB não surge apenas em dezembro de 2007. Os classistas, no Brasil, estão presentes na COB, em 1906, no Bloco Operário e Camponês, o chamado BOC, em 1927. Na Confederação Geral dos Trabalhadores de 1929. Na Confederação Sindical Unitária do Brasil, em 1934, duramente reprimida pelo Estado Novo. No Movimento Unificado dos Trabalhadores – MUT, em 1945, que criou as bases, no ano seguinte, para a organização da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB, fechada em seguida pelo governo Dutra.



Na década de 1950, no Pacto de Unidade Intersindical – PUI, transformado posteriormente em Pacto de Unidade e Ação – PUA. No Comando Geral dos Trabalhadores, o CGT, criado em 1962 e fechado em 1964, após o golpe militar. Nos debates da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras – CONCLAT de 1979 e 1981, dentro da luta de resistência contra a ditadura militar fascista.



A História do sindicalismo brasileiro não começou em 1979, com o advento das greves do ABC paulista, como ingenuamente pensam alguns. Tem muito chão anterior. E muito chão ainda teremos pela frente.



Desse tempo para cá, não há uma luta sequer do nosso povo que não tenha a presença e a participação efetiva dos comunistas. Na linha de frente. A CTB, que não reúne apenas sindicalistas filiados ao PCdoB, mas de inúmeros outros partidos, não é a filha caçula dessas lutas, como sugerem as aparências. Em sua essência, reúne a experiência e a história de uma irmã mais velha. Ou talvez de uma mãe, ou mesmo avó. Combina o florescer revolucionário da juventude com a força inquebrantável dos princípios. Extraordinário patrimônio que a escola da vida nos traz.



Os classistas, com a sua trajetória de lutas, com acertos e erros vivenciados nessa rica experiência acumulada, firmaram uma marca: o compromisso com o povo e com os trabalhadores. Muitos deles deram a própria vida, maior testemunho de compromisso de classe.



Assim como a luta de idéias, o primeiro de maio também não surgiu de pára-quedas, por obra do acaso, mas da própria experiência histórica da luta dos trabalhadores, ao longo dos últimos 122 anos. Para citar somente os acontecimentos de maio de 1886 em Chicago, na luta heróica pela redução da jornada de trabalho, bandeira universal dos que fazem a riqueza da humanidade, “inexplicavelmente” atual até os dias de hoje.



Nesse Primeiro de Maio de 2008, os trabalhadores brasileiros e o povo já podem identificar, nas bandeiras da CTB, o tremular de uma nova etapa da luta pelos legítimos interesses dos trabalhadores. De hoje e do futuro. Do salário à luta pelo socialismo, verdadeira aspiração de todos os povos.


 


George Câmara é petroleiro, dirigente estadual do PCdoB, advogado e dirigente sindical do SINDIPETRO-RN.
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