Evaldo Lima: Seu Lunga, um sertanejo sincero e desaforado

Na Morada, Fortaleza


A coluna “Na Morada, Fortaleza” espia um pouco para além do próprio umbigo e faz uma visita ao Cariri para conhecer um pouco mais o bodegueiro Joaquim Rodrigues dos Santos, conhecido como Seu Lunga.

Seu Lunga tem 80 anos de idade, é dono de um sítio onde cria um “gadin” e planta frutas que vende na sua budeguinha em Juazeiro do Padim Ciço. Seu Lunga nasceu nas brenhas, perto de Assaré, terra do Patativa. Sertanejo forte, sobreviveu com os pais e mais sete irmãos. O apelido vem desde criança, quando uma vizinha, identificada como “preta velha”, começou a lhe chamar de Calunga, que virou Lunga e ficou. Não se recorda de nenhuma brincadeira de criança, mas já faz tempo que é alvo da alegria de muitos pelo seu jeito de ser.



Seu Lunga é conhecido como um homem brabo, rude que provoca risos por suas respostas grosseiras. O único que não ri deste arsenal de anedotas é o próprio Lunga que atribui “estas mentiras” à gente que não tem o que fazer. “Só acontece isso, porque no Brasil não tem justiça”, afirma. Seu Lunga não gosta de brincadeiras, mas não tem jeito. As piadas sobre suas respostas engraçadas e intempestivas estão nas mesas dos bares e nas conversas entre amigos. As histórias de Seu Lunga já não lhe pertencem e sim ao imaginário popular. Ele não é mais o resultado das suas peculiaridades, mas a soma das elaborações dos outros: símbolo do sertanejo sincero, que não leva desaforo pra casa.



Seu Lunga é tão brabo como seu parente Tenório Cavalcanti, “o homem da capa preta”.



Seu Lunga ao mesmo tempo em que critica os divulgadores de seu comportamento inusitado, admite que pergunta besta merece uma resposta à altura. Ele diz que quando jovem, se apresentou à Marinha para a entrevista: – Você sabe nadar? Pergunta o oficial. – Sei não senhor. – Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à Marinha? – Quer dizer que se eu fosse pra Aeronáutica, tinha que saber voar!!
Que delicado!!


 


Outra história: o cliente que entra na loja e pergunta. “Este ventilador está funcionando?”. Indignado seu Lunga devolve: “Como é que ele pode estar funcionando se não está ligado?”. Este tipo de resposta fez de Lunga um personagem querido e incorporado a cultura popular cearense.