Evaldo Lima: Che Guevara, “Heroi da Latino-América na Morada Fortaleza”

08 de outubro de 1967. O poeta Capinan escutou pelo rádio a notícia do assassinato de Che Guevara. O Brasil vivia o obscurantismo da Ditadura Militar.

A palavra franca era perigosa, a censura era rigorosa.


 


Capinan fez uso de belas metáforas para homenagear o comandante, mesmo sem dizer o “nome do homem morto”.


 


Agora nós podemos: seu nome era Ernesto “Che” Guevara de la Serna.



 
SOY LOCO POR TI, AMÉRICA



 
“(…)Sorriso de quase nuvem
Os rios canções , o medo
O corpo cheio de estrelas
Soy loco por ti de amores
Como se chama a amante deste país sem nome
Este tango,este rancho,este povo dizei-me
Arde o fogo de conhecê-la
O fogo de conhecê-la



 
Soy loco por ti, América
soy loco por ti de amores



 
El nombre dei hombre muerto
Ya não se puede decirlo
Quien sabe
Antes que o dia arrebente
Antes que o dia arrebente
El nombre dei hombre muerto
Antes que a definitiva noite
se espalhe em latinoamérica
El nombre dei hombre es pueblo.



 
Espero amanhã que cante
El nombre dei hombre muerto
Não sejam palavras tristes
Soy loco por ti amores
Um poema ainda existe
Com palmeiras, com trincheiras
canções de guerra, quem sabe 
canções de mar.(…)”


 



Existem muitas histórias generosas de uma face quase desconhecida de Che. Por exemplo, as histórias do período em que dirigiu o Instituto Nacional de Reforma Agrária, presidiu o Banco Nacional e foi Ministro da Indústria de Cuba entre 1961 e 1965.


 


Durante este tempo Che não teve nenhuma regalia, era o primeiro a chegar ao trabalho, o último a sair, prestou inúmeros trabalhos voluntários no campo. 
Para dimensionar o caráter do Comandante: Um dos seus assassinos estava ficando cego. Foi curado por uma operação realizada por um dos médicos cubanos, discípulo de Che.  Che dizia que não queria morrer como burocrata.


 


Esse desconforto hoje é um desafio para os partidos de esquerda que venceram eleições na Latino-América: Como gerenciar o Capitalismo, apontando no sentido de sua destruição? Como imprimir uma perspectiva revolucionária nas estruturas do Estado? Como descontaminá-las da burocracia, do nepotismo, da corrupção, das vaidades de alguns cargos? Ou como dizia Frei Betto,como não ser picado pela mosca azul do poder?



Che não foi apenas um líder guerrilheiro, rebelde e romântico, mas sim projetista, construtor e inspirador daqueles que lutam para construir um mundo melhor. Che continua uma ameaça aos poderosos.


 


Não é um signo POP, comparável a Elvis ou Pato Donald. Che inspira sonhos, utopias, revolução, solidariedade e amor.


 


Recentemente uma publicação semanal neo-conservadora, tradicionalista e cada vez mais fascista fez uma pseudo-reportagem criminosa sobre CHE. Eduardo Galeano, escritor faz uma bela reflexão sobre o tema no poema “O Nascedor”:



 
“Por que será que o Che
tem esse perigoso costume
de seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam, o manipulam, o traicionam,
mais renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será porque o Che dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso, que segue sendo tão extraordinário
num mundo em que as palavras e os fatos raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam,
porque não se reconhecem?”


 


 


Evaldo Lima é professor e colaborador do Vermelho/Ce