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Pepe Vargas: No RS, um governo se desfaz

Imagine que o vice-presidente José Alencar convocasse uma entrevista na Câmara dos Deputados. Lá, botasse para tocar a gravação de uma conversa dele com Dilma Rousseff. E que nessa conversa, a ministra da Casa Civil sugerisse um “preço” para o silêncio

Para quem não acompanhou: o vice-governador gaúcho, Paulo Feijó, inimigo declarado da governadora, soltou a bomba. Ele gravou uma conversa em seu gabinete com Cézar Busatto, secretário da Casa Civil e principal articulador político de Yeda. Na conversa, Busatto fala com invulgar sinceridade dos esquemas de arrecadação de dinheiro montados dentro da administração estadual. A revelação agravou uma crise política que se arrastava há meses e na qual as denuncias vem chegando cada vez mais perto do centro do poder.



Denúncias de corrupção existem em qualquer governo. O que esta coluna vai abordar é mais profundo. Me interessam as raízes de uma crise política que levaram ao caos político uma administração que um ano e meio atrás era saudada como a perspectiva de gestão profissional e inovadora.



Os sinais da crise já estavam presentes nos primeiros tempos, encobertos pela euforia de uma surpreendente vitória eleitoral. A lógica dizia que Yeda não iria ao segundo turno. Faltava a ela e ao PSDB do Rio Grande do Sul sustentação política. A previsão era de um duelo entre o então governador Germano Rigotto (PMDB) e o ex-governador Olívio Dutra (PT). Havia uma polarização entre petistas e anti-petistas no estado.



Na reta final da campanha, diante dos problemas da candidatura de Olívio e do crescimento de Yeda, os anti-petistas viram a chance de um segundo turno puro, sem o PT. Passaram a descarregar na candidata tucana dinheiro e apoio político. Deu-se um resultado surpreendente. Yeda foi para o segundo turno, mas quem ficou de fora foi Rigotto. De segunda opção, a tucana foi transformada em única salvação contra Olívio. Formou-se na última hora um imenso, desorganizado e incoerente palanque. Semanas depois esse palanque seria transformado em equipe de governo. Era a senha do desastre.



O governo começou a desmoronar antes mesmo de tomar posse. O Rio Grande do Sul vive uma situação financeira desastrosa. A proporção dos gastos públicos em relação à arrecadação de impostos inviabiliza a administração. O fenômeno, encontrado por Yeda antes de assumir, é o resultado de décadas de má gestão, responsabilidade de vários partidos. Na campanha, a tucana, uma economista de boa reputação e formação liberal, prometeu resolver a crise financeira sem aumentar impostos. No poder, mudou de discurso e apelou para o receituário de elevação de tributos e corte de gastos.


 



Antes de assumir, ela conseguiu que Rigotto enviasse à Assembléia Legislativa um duro pacote fiscal. Foi um desastre. O vice-governador rompeu com ela, secretários pediram demissão sem sequer tomar posse e metade da bancada governista rebelou-se. Sem sustentação política e às voltas com um governo cheio de intrigas e disputas internas, a governadora viu-se administrando uma crise atrás da outra. As denúncias de corrupção serviram para amplificar os problemas.


 



Yeda fez o que pode para salvar seu mandato. No fim da tarde de ontem, depois de muito pensar, demitiu Busatto. Na mesma leva, afastou o secretário-geral de governo, Delson Martini, e o comandante da Polícia Militar. As demissões dão a dimensão da crise, mas é impossível saber se acabarão com ela.


 



A crise que atinge o governo gaúcho começou em sua formação. Governantes sem base política ou social têm enormes dificuldades de sustentação. Yeda Crusius viu seu governo esfacelar-se um ano em meio depois de tomar posse.


Pepe Vargas (PT-RS) é deputado federal