O Diário: 'Não' ao Tratado de Lisboa é vitória dos europeus
''O Não da Irlanda ao Tratado de Lisboa não foi apenas uma vitória do seu povo — tem o significado de uma vitória dos povos da União Européia'', é a opinião dos editores do site português Diário.info, que analisa mais uma derrota das forças neoliberais eu
Publicado 14/06/2008 18:48
Durante semanas a aprovação foi apresentada como certeza por sondagens encomendadas pelo governo de Dublin. Mas, nos dias que precederam o referendo, Bruxelas (Sede do governo europeu) foi invadida pelo medo.
O temor da recusa do Tratado pelos irlandeses levou os dirigentes das potências hegemônicas da UE com o apoio das principais mídias do Continente a promover pressões ilegítimas para forçar o resultado que permitiria, finalmente, impor a 470 milhões de europeus de 27 países a Constituição (agora recauchutada) que há dois anos fora rejeitada pelos povos francês e holandês, por ampla maioria.
Manobras de chantagem foram utilizadas com despudor numa campanha generosamente financiada pelo grande capital. Até o presidente George Bush, em um 'tournée' pela Europa, achou oportuno intervir e apelar ao Sim.
A Irlanda criava a Bruxelas um problema incontornável porque era o único país da União Européia no qual o referendo sobre o Tratado não podia ser evitado por ser exigência constitucional. Nos demais, em ritmo acelerado, 18 Parlamentos já o haviam aprovado, e os restantes estavam prestes a imitá-los.
As classes dominantes tinham tirado conclusões do Não francês e holandês, concluindo pela necessidade de impedir que os povos se pronunciassem em referendo por um Tratado que faz do neoliberalismo a ideologia da União Européia.
Transferindo a ratificação para parlamentos onde as maiorias alternantes representam os interesses do capital, os governos dos 27 procuravam resolver o problema, privando os povos do exercício do direito a manifestar a sua opinião sobre matérias de fundo constitucional e soberania.
O objetivo, felizmente, não foi atingido graças à excepção irlandesa.
O povo de Bernard Shaw derrotou no referendo, por maioria expressiva, um Tratado que limitava a soberania nacional, lhe impunha uma política externa comum de comprometimento com guerras imperialistas, submetia à ditadura de Bruxelas a política financeira, setores fundamentais da economia como a pesca e a agricultura, e as políticas sociais, que abalam o continente.
O Não irlandês inviabiliza a aplicação do Tratado como os governantes da Alemanha, da França e do Reino Unido sublinharam insistentemente nos seus apelos pelo Sim.
Mas seria uma ingenuidade esperar que eles, respeitando compromissos assumidos, arquivem de vez o seu projeto. A decisão anunciada pelo inglês Gordon Brown de submeter o Tratado a ratificação assume, por si só, um caráter provocatório.
Em Portugal, o primeiro-ministro José Sócrates afirmou na Assembléia da República, anteontem, dia 12 de junho, que o seu futuro político estava indissoluvelmente ligado ao Tratado de Lisboa.
Deveria, agora, tirar as ilações do Não da Irlanda. Mas será não ele mas o povo português a fazê-lo, radicalizando, como sujeito da história, a sua luta em todas frentes contra o governo reacionário do Partido Socialista que é em Portugal o representante e o porta-voz da política imperialista da União Européia.