''Manuela é a esquerda renovada em Porto Alegre'' afirma cientista político
O Vermelho entrevistou um dos coordenadores de marketing da campanha de Manuela d'Ávila à prefeitura de Porto Alegre. Juliano Corbelini é doutor em ciência política e foi presidente da UNE em 1988. Segundo ele, “com Manuela se pode abr
Publicado 18/07/2008 15:53
Como você analisa o quadro político da disputa em Porto Alegre?
Corbellini: Porto Alegre viveu nos últimos 16 anos um ciclo de eleições polarizadas em torno do problema do PT, da manutenção ou não do PT na prefeitura. A cidade praticamente se dividia em dois grandes campos das candidaturas: as candidaturas do PT, que sempre foram muito fortes e fizeram administrações que deixaram um saldo importante para a cidade, e as candidaturas de oposição ao PT.
Em 2004 nós observamos uma derrota eleitoral do PT, mas ao final deste período, ou seja agora em 2008, nós vemos que os mesmos limites que a cidade de Porto Alegre viveu nos 16 ano de gestão do PT, eles continuaram a serem experimentados pelo governo Fogaça,. O que há de novo em Porto Alegre é que hoje, a cidade rompe com esta lógica maniqueísta de eleição.
Hoje o sentimento preponderante que nós temos na cidade é a necessidade de um caminho novo que não é nem o caminho representado pelo PT e nem o caminho representado pelo atual governo, este é o sentimento em toda a cidade. A candidatura da Manuela é uma candidatura que cresce em cima deste sentimento. Porquê? Porque a candidatura de Manuela se conecta com tradição política da cidade, com a cultura política da cidade que é uma cultura democrática, que se preocupa com o combate às injustiças sociais, que é uma cultura de centro-esquerda, isso já desde antes do regime militar, quando a força política hegemônica na cidade era o antigo PTB.
Manuela está conectada com esta cultura política e ao mesmo tempo representa uma esquerda renovada, uma esquerda capaz de dialogar com todos os setores da sociedade, uma esquerda que não olha para trás, que aposta no que une e não no que divide a cidade. Essa é a perspectiva nova que está se abrindo para Porto Alegre. E a aliança construída em torna da candidatura da Manuela expressa exatamente isso. A cidade está percebendo que este período de polarização foi um período em que a cidade perdeu muito e com Manuela se pode abrir uma nova etapa na história política da cidade.
A aliança em torno da candidatura de Manuela é formada pela maior coligação, que envolve 7 partidos, porém alguns setores do PT criticaram a participação do PPS na chapa, como você vê estas críticas?
Corbellini – Em primeiro lugar vamos analisar esta crítica. A crítica que nós recebemos do PT é uma crítica do PT de Porto Alegre, pois se nós andarmos 20 km em Canoas o PT está coligado com o PPS, e com o PCdoB e com o PSB. Se nós andarmos mais 40 km e formos a Guaíba, temos uma chapa com o PPS na cabeça e o PT na vice. O que nós vemos aqui é uma incapacidade do PT de Porto Alegre de construir alianças, uma postura hegemonista, de dividir a cidade entre aqueles que são do bem, os que concordam com eles, e aqueles que são do ''mal'', os que não concordam com eles.
Onde o PT no RS se abre para uma política de alianças mais ampla, tal qual o governo Lula faz, ele incorpora o PP, o PTB e o PMDB nas suas alianças, mesmo eles estando no governo da Yeda Crusius, e incorpora também o PPS. A aliança dos sete partidos em torno da candidatura da Manuela reflete uma crença que é importante, que da diversidade, da diferença de experiências, do reconhecimento sincero das diferenças que existem entre os partidos da coligação. Ninguém aqui está fingindo que sempre pensou a mesma coisa. A aposta é que desse reconhecimento das diferenças, dessa somanós podemos gerar um programa novo para a cidade, nós podemos gestar saídas novas para os problemas de Porto Alegre e é isso que a cidade precisa. A pesquisa do Correio do Povo mostra que há uma compreensão com isso, quando o nome do vice Berfan Rosado e submetido a teste, Manuela tem um acréscimo de votos que a coloca inclusive a frente da candidata do PT.
Como você analisa a fraca atuação do atual prefeito frente à Prefeitura? Isso influencia também a desarticulação deste esquema maniqueísta na eleição?
Corbellini – É uma coisa interessante, o prefeito Fogaça teve uma atitude, num certo sentido inovadora, porque se apresentou na eleição e disse que ''as coisas boas do PT nós vamos manter'', ele não fez uma campanha que atirou pedras no passado e efetivamente no seu governo ele deu continuidade a muitos dos programas importantes que o PT implementou na cidade como o Orçamento Participativo. O que faltou ao governo Fogaça foi mais ousadia para implementar uma agenda de mudanças que a
cidade precisava e continua precisando. Eu acho que está postura do governo desradicaliza o ambiente político na cidade, além disso a eleição para as pessoas só vai se iniciar para as pessoas em agosto.
Então por enquanto é normal que nós tenhamos este ambiente mais morno. Embora o que nós temos percebido na campanha da Manuela, nas ruas é muito diferente, onde ela se apresenta ela desperta interesse, ela desperta simpatia, desperta a vontade nas pessoas de conversar, de perguntar o que nós vamos fazer. Então nós estamos muito otimistas sobre o impacto e o sentimento que esta campanha desperta na cidade.
O governo Yeda, está em crise, de que forma isso influencia a disputa política em Porto Alegre?
Corbellini – Eu acho que a reação da população em geral ao conjunto de crise que envolvem o governo Yeda é aquela reação de aumento da descrença na política em geral. O primeiro impacto gera este sentimento de revolta nas pessoas com a política, estas crises alimentam isso. Agora sob o ponto de vista da eleição, o eleitor tem maturidade para saber quando ele está decidindo os destinos de sua cidade, de seu estado ou do seu país. Eu não acredito numa confusão de agenda da eleição municipal com a crise no governo estadual . Sob o ponto de vista do governo Yeda eu acho que ele entrou num caminho que dificilmente terá volta. Ele queimou o seu capital eleitoral e político muito rápido e acho muito difícil ele se recuperar , mas este é um assunto para depois da eleição.
De Porto Alegre,
Gustavo Alves.