Falta de política pública para a cultura encolhe Festival Internacional de Inverno

O Festival Nacional de Inverno, realizado todo ano pela UNB, esse ano será mais curto. Por falta de investimento do setor público a programação do festival teve que ser drasticamente reduzida.

O programa ficou reduzido. Neste ano, não haverá oficinas para jovens instrumentistas, artistas internacionais convidados para a série de master class nem programa de concertos noturnos na Sala Martins Pena. A edição de 2008 do Festival Internacional de Inverno de Brasília (FIB) foi podada por falta de recursos e apoio. No ano passado, a coordenadora Beatriz Salles contou com R$ 600 mil para realizar uma programação de 21 oficinas de instrumentos para jovens e 85 concertos divididos por 12 dias. Na lista de convidados, estavam 33 professores. Agora, o orçamento passou para R$ 150 mil, patrocínio de Petrobras, a única a colocar dinheiro na edição do FIB, que começa hoje e dura apenas cinco dias. A Secretaria de Cultura do Distrito Federal prometeu complementar com R$ 35 mil, mas o valor ainda não chegou ao caixa do evento.

O FIB é inteiramente dedicado à comunidade. No ano passado, levou 3.095 crianças e jovens às oficinas de música realizadas na Universidade de Brasília (UnB), que abriga o projeto, e em escolas da rede pública do Distrito Federal. Com programação gratuita e foco na inserção social por meio da música, o evento contava ainda com agenda de concertos noturnos no Teatro Nacional Claudio Santoro, todos gratuitos e abertos à comunidade. Em 2008, no entanto, o FIB sofreu o mesmo golpe desferido a outros eventos que integravam a agenda cultural da cidade.

Beatriz credita a falta de patrocínios e a ausência do estado à desarticulação entre a classe artística e o governo local. “A gente está vendo que vários projetos reconhecidamente culturais de formação e inclusão não conseguem se sustentar. O Cena Contemporânea está com muitas dificuldades, o Seminário de Dança também, o Festival da Nova Dança não aconteceu, a Feira de Música Independente acabou. É uma questão coletiva. A forma do fazer cultural no Distrito Federal tem que ser repensada. Eu, particularmente, tive a sorte neste ano de conseguir fazer o FIB”, lamenta Beatriz, que integrou a equipe de produção dos musicais Os miseráveis e A Bela e a Fera, em São Paulo.

Ao se deparar com o orçamento catastrófico, a coordenadora precisou reformular o festival sem deixar de lado as características originais. O diálogo com as comunidades carentes e a música clássica como instrumento de inclusão social foram os únicos itens da lista que Beatriz se negou a cortar. Nesta edição, as atividades de formação ficam restritas ao ambiente escolar com minicursos de formação para professores de música da rede pública e oficinas de mediação de conflito e gestão da violência nas escolas. Um programa de aulas para crecheiras e mães-sociais de quatro cidades do DF também foi montado pelos coordenadores do FIB, além de calendário de atendimento em musicoterapia para gestantes e dependentes químicas do presídio do Gama.

Oficinas de violino para crianças também fazem parte da programação do festival, cuja abertura ocorre hoje, às 10h, na Escola Parque 210 Norte, com apresentações do Coral de Sobradinho, musical realizado pelos alunos da escola, além de debate com profissionais da área de música, o secretário de Educação, José Valente, e o de Cultura, Silvestre Gorgulho. Formada em piano e ex-chefe do Departamento de Música da UnB, Beatriz realizou o primeiro FIB em 2005. Na época, dividiu o festival no programa música nas escolas academias e nas aulas gratuitas ministradas por professores e artistas brasileiros e estrangeiros. Canto, orquestra e choro integravam o programa aberto a jovens músicos e a iniciantes. Os alunos puderam ter aulas com o Quarteto de Praga, em 2007, os músicos do Spanish Brass e o pianista brasileiro André Mehmari, em 2006.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE INVERNO DE BRASíLIA – FIB 2008
Inscrições podem ser feitas a partir das 14h de hoje na Escola Parque 210 Norte ou também pelo site www.festivaldeinvernodebrasilia.com. Taxa: R$ 30. Professores da rede pública de ensino do Distrito Federal estão isentos da taxa

Fonte: Correio Braziliense