Perpétua defende contaminados por DDT

Deputada reunirá parlamentares do Norte e levará o caso ao conhecimento do ministro José Gomes Temporão (saúde).

 

O DDT (diclorodifeniltricloretano),  foi sintetizado em 1874 por um pesquisador alemão. Foi muito usado na II Guerra Mundial para proteger soldados contra os piolhos. A partir daí tornou-se um popular pesticida, tanto para combater doenças transmitidas por insetos, quanto para ajudar fazendeiros a controlar pestes agrícolas.


O descobridor dos usos do DDT, o suíço Paul Müller,  ganhou o prêmio Nobel de medicina em 1948, por sua descoberta. O DDT tem efeito prolongado, move-se facilmente pelo ar, rios e solo e acumula-se no organismo dos seres vivos, no caso do homem na glândula tireóide, fígado e rim.
Absorvido pela pele ou nos alimentos, o acúmulo de DDT no organismo humano está relacionado com doenças do fígado, como a cirrose e o câncer. E demora, segundo os cientistas, de 4 a 30 anos para se degradar.


Especialistas afirmam que o principal problema do DDT é sua ação indiscriminada, que atinge tanto as pragas quanto o resto da fauna e flora da área afetada. O veneno também se infiltra na água, contaminando os mananciais. Portanto, além de sua persistência estas substância se concentram através da cadeia alimentar,e,  demora de 4 a 30 anos para se degradar.


Produzido nos E.U.A desde 1943, foi utilizado durante décadas no combate ao mosquito transmissor da malária. Começou  a ser utilizado na Amazônia em 1945, e só deixou de ser usado em 1992, apesar da proibição do governo brasileiro para a fabricação e comercialização do produto datar de 1971.


16 anos depois dos estoques da Funasa acabarem, os contaminados pelo DDT ainda lutam por condições de tratamento.No Acre, pesquisa da Associação de Ex Guardas da Sucam, formada por pessoas que trabalhavam borrifando o DDT, estima que existam mais de 300 contaminados. De acordo com o cadastro da Associação, 39 morreram em conseqüência da contaminação. 12 ficaram mutilados. 11estão com suspeita de câncer. Outros 12 têm problemas cardiovasculares. E outros aguardam ainda a chance de fazer os exames.


Os sintomas da contaminação são dores de cabeça, problemas cardiovasculares, tonturas, dores nas articulações, entre outros. Todos os integrantes da Associação confirmam que só conseguem dormir sob o efeito de fortes analgésicos. Desde 1994, a Associação luta pelo direito à dignidade e o reconhecimento de um trabalho prestado ao país. Quando ficavam meses dentro da floresta, passando fome e frio, lutando com cobras e fugindo das onças.
Aldo Moura de 50 anos de idade, conta que era dito aos agentes que o DDT não causava danos à saúde. “Quando a gente lavava as bombas no rio, aproveitava que os peixes morriam para come-los,sem imaginar que com isso estávamos nos contaminando duplamente”, disse ele à deputada federal Perpétua Almeida em reunião convocada por ela e ocorrida no gabinete da parlamentar, na manhã desta segunda-feira (28).
O veneno é cancerígeno, destrói o sistema imunológico, causa cegueira, surdez, paralisia e em casos de intoxicação grave o coma e a morte, mas como não havia informação a respeito, muitos agentes acabaram contaminando também os familiares, porque os uniformes utilizados por eles nas campanhas eram lavados junto com a roupa da família.


“Eu vi. Duas mulheres de companheiros nossos tiveram câncer nas mãos por causa do contato direto com o veneno. Ambas morreram”, disse Aldo Moura.
Como o trabalho de combate à malária foi realizado em toda a Amazônia, a deputada Perpétua Almeida (PcdoB), afirmou que entrará em contato com parlamentares da Região Norte e pedirá a eles que façam levantamentos sobre os casos de contaminação. Os dados serão apresentados por uma comissão de deputados e agentes da Funasa ao ministro da Saúde.


 Paralelo a isso,a parlamentar se dispôs a marcar uma audiência entre a Associação dos Ex-Guardas da Sucam e o secretário de saúde do estado, além de dar todo o apoio para o resgate da dignidade dessas pessoas.
“Está na hora de voltarmos a olhar para a Amazônia e resolver seus problemas. Vamos levar essa luta adiante. Temos experiência nisso. Quando iniciamos a luta para que os seringueiros pudessem ter suas espingardas, fui acusada de estar armando a Amazônia, enquanto a intenção era desarmar o Brasil. Vencemos a luta. Agora, vamos fazer um projeto de lei parecido com o dos soldados da borracha. Pediremos o reconhecimento do trabalho realizado pelos agentes, além de indenização, via parlamento”, disse a deputada que já agendou uma visita à famílias de agentes de saúde que apresentam sintomas de contaminação.


“Depois de tantos anos de dedicação e trabalho duro, não é justo que essas pessoas não tenham sequer condições de fazer exames e tratamento. É impossível imaginar que o congresso nacional fique insensível a esse problema”, concluiu a deputada comunista.