Assembléia Legislativa homenageia os 60 anos da UBES
O deputado Raul Carrion (PCdoB) realizou, na tarde desta terça-feira (12), o Grande Expediente em homenagem aos 60 anos da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).
Publicado 12/08/2008 17:01 | Editado 04/03/2020 17:11
A entidade representa 50 milhões de estudantes dos Ensinos Fundamental, Médio, Técnico, Profissionalizante e Pré-Vestibular do Brasil. O parlamentar relembrou, durante discurso, os principais momentos da brilhante história do movimento estudantil brasileiro. Fundada em 25 de julho de 1948, a UBES teve papel destacado nas principais lutas do País como as campanhas O Petróleo é Nosso, Diretas Já e Fora Collor. A UBES lutou ativamente pelas Reformas de Base, inclusive integrando a Frente de Mobilização Popular, criada por Brizola em 1962, que tinha por objetivo acelerar essas reformas. Silenciados pelo golpe militar, em 1964, a UBES permaneceu organizada e batalhou em passeatas e manifestações pela volta das liberdades democráticas e por melhores condições de ensino. Foram os estudantes que assumiram, em atitude de vanguarda, a campanha pelas Diretas Já, em 1984. ''Os estudantes pintaram o rosto de verde e amarelo e saíram às ruas, exigindo a redemocratização do país, conquistada em 1985. Na Constituinte, a UBES conquistou o voto aos 16 anos e lutou pelos avanços sociais e democráticos'', lembrou Carrion. Carrion prosseguiu lembrando que, em 1992, diante dos desmandos do governo de Fernando Collor, que inaugura a aplicação do projeto neoliberal no país, os caras pintadas, na sua maioria secundaristas, tomam às ruas sob a liderança da UBES e da UNE, empunhando a bandeira do FORA Collor, mobilizando os demais segmentos sociais e conquistando o impedimento de então presidente. ''Mais adiante, a UBES não deu trégua ao governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, defendendo a manutenção do ensino público, gratuito e de qualidade, o passe estudantil (meio passe ou passe livre) nos transportes, combatendo as privatizações e as políticas neoliberais'', afirmou o parlamentar comunista. ''Junto com a UNE, as Centrais Sindicais, a Conam, o MST, a Marcha Mundial das Mulheres, a Unegro e outras entidades, construiu a Coordenação dos Movimentos Sociais e a grande Marcha dos 100 mil, em 1999.'' Passeata dos Cem Mil O cortejo do seu enterro, que saiu da Cinelândia, onde foi velado, para o cemitério São João Batista, reuniu milhares de pessoas, comparável somente ao de Getúlio Vargas em 1954. As mobilizações estudantis se espalharam por todo o Brasil, culminando com a ''Passeata dos Cem Mil'', no Rio de Janeiro. Lula na sede da UNE O projeto do novo prédio, a ser erguido na Praia do Flamengo, está pronto e foi realizado e doado pelo arquiteto comunista Oscar Niemeyer.Foi a segunda visita de um presidente da República à sede das entidades em 71 anos de história. Lula ainda assinou o termo de adesão ao Pacto pela Juventude, que consiste em uma iniciativa do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). ''Esta Casa se orgulha de ter contribuído para a reconquista desse espaço histórico da juventude brasileira, através de uma moção assinada por 53 dos 55 deputados estaduais, por ocasião da sua ocupação no início do ano passado. E ciente de que não se pode contar a história do Brasil sem falar da UBES, homenageia seus 60 anos através desse Grande Expediente festivo.'' Isabela Soares Confira a íntegra do pronunciamento: Em primeiro lugar, queríamos agradecer ao Deputado Paulo Odone pela cedência do Grande Expediente do dia de hoje, para que pudéssemos homenagear os 60 anos da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES – na sessão seguinte ao Dia do Estudante, comemorado ontem. Desde as décadas de 30 e 40, os estudantes secundaristas buscavam organizar-se em grêmios estudantis para lutar pelo desenvolvimento nacional e por melhores condições de ensino. No Rio Grande do Sul, importante papel jogou em todo esse processo o grêmio do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Posteriormente surgiram as uniões municipais e as entidades estaduais. Nessa época, crescia rapidamente o número de estudantes assim como a sua participação na vida política do país. Até então organizados em um departamento da União Nacional de Estudantes (UNE) – que havia sido criada em 1937 e representava os universitários – os secundaristas aspiravam uma entidade nacional própria, para unificar o movimento e fortalecer a sua representação. Depois de muitas tentativas e contatos, foi marcado o primeiro Congresso Nacional dos estudantes Secundários, no Rio de Janeiro. A UNE forneceu toda infra-estrutura e a própria sede para a sua realização. A entidade máxima dos estudantes secundários brasileiros nasceu no dia 25 de julho 1948, com a denominação de União Nacional dos Estudantes Secundários (UNES), mas já no seu segundo Congresso, em 1949, mudou o seu nome para União Brasileira de Estudantes Secundários (UBES). Desde a sua criação, a UBES estabeleceu uma estreita colaboração com a UNE, inclusive tendo uma sede conjunta, no antigo Clube Germânia, na Praia do Flamengo, ocupado pela UNE em 1942, durante a guerra com a Alemanha. A UBES teve um papel destacado nas grandes lutas de então, como a campanha “O PETRÓLEO É NOSSO” – que culminou com a criação da Petrobrás –, a luta pelo fim das bases militares norte-americanas em solo brasileiro, contra o envio de nossos soldados à guerra da Coréia, pelo ensino público, gratuito e de qualidade e por melhores condições de vida para o nosso povo. Grande repercussão teve a campanha dos estudantes contra o aumento das passagens nos bondes, que em 1956 parou o Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1954, quando Vargas se suicidou, os secundaristas uniram-se a outros setores populares contra o golpe em andamento, em defesa da democracia e pela realização das eleições. Nos anos seguintes, a UBES se fortaleceu e ampliou suas bandeiras, defendendo uma escola democrática a serviço do desenvolvimento nacional, por um ensino de melhor qualidade, por mais vagas e bolsas para os alunos carentes. Em 1951, após seu 4º Congresso, em Salvador, ocorreu uma divisão no movimento secundarista, passando a coexistir a UBES e a antiga UNES. Somente em 1956, no Congresso de Porto Alegre, houve a reunificação, novamente sob a denominação UBES. Em 1961, quando os militares tentaram impedir a posse de João Goulart na Presidência da República, os estudantes de todo o país se mobilizaram contra o golpe. No Rio Grande do Sul, os estudantes do “Julinho” saíram às ruas com faixas “Em defesa da Legalidade”, expressão que daria o nome ao movimento que garantiria a posse de Jango Nos anos que se seguiram, a UBES lutou ativamente pelas Reformas de Base, inclusive integrando a Frente de Mobilização Popular, criada por Brizola em 1962, que tinha por objetivo acelerar essas reformas. Quando ocorreu o golpe militar, em 1964, a sede da UBES e da UNE – que funcionavam no mesmo prédio, na praia do Flamengo, 132 – foi atacada e incendiada e, 16 anos depois, demolida. os líderes estudantis passaram a ser perseguidos e presos. Muitos tiveram que ingressar na clandestinidade ou exilar-se. Como disse a poeta: “Partiram os que cantavam / e os que cantando despertavam. / Partiram os que falavam / e que falando explicavam. / (…) Partiram. E no entanto / Havendo gente de menos / O mundo ficou mais apertado”. Mas, isso não impediu que os estudantes continuassem organizados clandestinamente, na UBES e na UNE. Nas escolas, nos grêmios, nas passeatas, nas manifestações de rua – desafiando cassetetes, bombas ou fuzis – a juventude estudantil foi a primeira a levantar-se em defesa das liberdades democráticas, contra os acordos MEC-USAID, por melhores condições de ensino. O cortejo do seu enterro, que saiu da Cinelândia, onde foi velado, para o cemitério São João Batista, reuniu milhares de pessoas, comparável somente ao de Getúlio Vargas em 1954. Arthur Poerner, em seu livro O Poder Jovem, nos relata: “coberto pela bandeira nacional, o caixão desceu as escadarias da Assembléia sob os acenos de milhares lenços brancos. O povo entoava o Hino Nacional. Do alto dos edifícios caíam pétalas de flores e papéis picados, a multidão gritava ‘desce’, ‘desce!’ para os que, nas janelas, se limitavam a içar bandeiras negras. Muitos desciam e se integravam ao acompanhamento. Mas os gritos mais ouvidos – igualmente inscritos em centenas de faixas – eram ‘Poderia ser seu filho!’, ‘Fora assassinos!’, ‘Brasil, seus filhos morrem por você! e “Povo Organizado Derruba a Ditadura!”. As mobilizações estudantis se espalharam por todo o Brasil, culminando com a “Passeata dos Cem Mil”, no Rio de Janeiro. A resposta dos militares a essa crescente mobilização popular contra o regime foi o fechamento do Congresso Nacional, milhares de cassações e a edição, em dezembro de 1968, do AI-5. O terrorismo de Estado foi implantado contra os opositores ao regime. Todas as atividades estudantis foram colocadas na ilegalidade e a repressão tornou-se ainda mais bárbara. Muitos jovens foram presos, torturados e assassinados. Os grêmios estudantis foram transformados em “centros cívicos”. Para não ser exterminada, a UBES se manteve através de congressos clandestinos, com pequeno número de participantes, conservando acesa, a duras penas, a chama da luta estudantil. Em 1979, teve início a reconstrução da UBES. Algumas entidades secundaristas haviam conseguido fortalecer-se em algumas cidades, fazendo surgir um movimento nacional pelo renascimento da UBES. A consolidação aconteceu em 1981, em Curitiba. Um antigo galpão, sem teto, banheiros, salas e cadeiras, serviu de base pra os debates. Muitos estudantes foram para lá sem dinheiro para voltar. Pedágios tiveram que ser feitos para levantar recursos. A polícia chegou a invadir o Congresso com a cavalaria. Apesar das dificuldades, a UBES renasceu, qual o fênix das cinzas. Em 1984, os estudantes brasileiros – dirigidos pela UBES e pela UNE – assumiram a vanguarda da campanha das DIRETAS JÁ, mobilizando-se pelo fim da ditadura e pela convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. O então presidente da UBES – Apolinário Rebelo – foi o primeiro a discursar no famoso Comício da Candelária que reuniu mais de um milhão de pessoas. Os estudantes pintaram o rosto de verde e amarelo e saíram às ruas, exigindo a redemocratização do país, conquistada em 1985. Na Constituinte, a UBES conquistou o voto aos 16 anos e lutou pelos avanços sociais e democráticos. Em 1987, divergências entre as lideranças secundaristas levaram a uma divisão na entidade, passando a coexistir duas diretorias falando em nome da UBES, situação só superada em um congresso de reunificação, em 1993. Em 1992, diante dos desmandos do governo de Fernando Collor, que inaugura a aplicação do projeto neoliberal no país, os caras pintadas, na sua maioria secundaristas, tomam às ruas sob a liderança da UBES e da UNE, empunhando a bandeira do FORA COLLOR, mobilizando os demais segmentos sociais e conquistando o impedimento de COLLOR. Da mesma forma, a UBES não deu trégua ao governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, defendendo a manutenção do ensino público, gratuito e de qualidade, o passe estudantil (meio passe ou passe livre) nos transportes, combatendo as privatizações e as políticas neoliberais. Junto com a UNE, as Centrais Sindicais, a CONAM, o MST, a Marcha Mundial das Mulheres, a UNEGRO e outras entidades, construiu a Coordenação dos Movimentos Sociais e a grande Marcha dos 100 mil, em 1999. Com a conquista da Presidência da República pelas forças populares, através da eleição de Lula, a UBES apoiou desde o início o seu esforço para melhorar as condições de vida da maioria da população, para fortalecer a soberania nacional e o papel do Estado. Mas nunca abriu mão de defender mudanças na atual política econômica – até hoje incapaz de superar as cadeias neoliberais que ainda a tolhem – e de lutar por mais recursos para a educação e a cultura. Após 60 anos de história, a UBES está enraizada na sociedade brasileira e presente nos grandes debates em curso no país. Suas principais lutas de hoje, entre outras, são: defesa de um projeto de desenvolvimento nacional soberano, democrático e com inclusão social; uma escola crítica e reflexiva, com gestão democrática; maiores investimentos em educação, de forma a chegar a 7% do PIB; Passe Estudantil (Meio Passe ou Passe Livre) no transporte público municipal e intermunicipal; meia-entrada nas atividades culturais; efetivação da obrigatoriedade do ensino de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio; reserva de vagas para estudantes da rede pública nas universidades e ampliação do PROUNI; contra a redução da idade penal. Seu 37º Congresso, realizado em dezembro de 2007, contou com a presença de mais de 2.500 estudantes, das 27 unidades da Federação. A Chapa 4 – “Estudantes Brasileiros por uma Educação de Qualidade”, presidida por um filiado à União da Juventude Socialista, o carioca Ismael Cardoso, e composta por lideranças das mais variadas correntes políticas, obteve 84% dos votos. Nessa nova diretoria foi garantida pela primeira vez a reserva de 30% das vagas para mulheres. No momento em que realizamos esse Grande Expediente em homenagem aos 60 anos da UBES, o Presidente Lula assina no Rio de Janeiro, na Praia do Flamengo nº132, um Projeto de Lei que reconhece a responsabilidade do Estado Brasileiro no incêndio e demolição da sede da UBES e da UNE, ali localizada. O evento – altamente simbólico e que abre o caminho para a construção da nova sede da UBES e da UNE, com projeto de Oscar Niemeyer – marca também a segunda visita de um Presidente da República à sede das entidades em 71 anos de história (o primeiro foi João Goulart, em 1962). Senhores! Esta Casa se orgulha de ter contribuído para a reconquista desse espaço histórico da juventude brasileira, através de uma moção assinada por 53 dos 55 deputados estaduais, por ocasião da sua ocupação no início do ano passado. E ciente de que não se pode contar a história do Brasil sem falar da UBES, homenageia seus 60 anos através desse Grande Expediente festivo. Parabéns, UBES! Parabéns estudantes secundaristas de nosso Estado e de todo o país! Muito Obrigado.
No dia 28 de março de 1968, um episódio marcou a história da UBES e do país. Uma manifestação contra o fechamento do Restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, onde os estudantes faziam suas refeições a baixo preço resultou no assassinato, pela polícia, do estudante secundarista Edson Luiz Lima Souto, de 16 anos. ''Edson Luiz tornou-se o símbolo da resistência não só para os estudantes, mas para todos os que lutaram e sonharam com o fim da ditadura e a recuperação da liberdade'', afirmou o deputado.
Por fim, Carrion lembrou a simultaneidade das ações em homenagem ao movimento estudantil. No mesmo dia e horário, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará um projeto de lei (PL), que reconhece a responsabilidade do Estado no incêndio, em 1964, e demolição da sede da UNE e da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), em 1980.
A UBES – que representa 50 milhões de estudantes dos Ensinos Fundamental, Médio, Técnico, Profissionalizante e Pré-Vestibular – foi fundada em 25 de Julho de 1948, há exatos 60 anos. Reúne em torno de si todos os grêmios das escolas públicas e particulares, além das entidades municipais e estaduais secundaristas.
No dia 28 de março de 1968, um episódio marcou a história da UBES e do país. Uma manifestação contra o fechamento do Restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, onde os estudantes faziam suas refeições a baixo preço resultou no assassinato, pela polícia, do estudante secundarista Edson Luís Lima Souto, de 16 anos. Edson Luís tornou-se o símbolo da resistência não só para os estudantes, mas para todos os que lutaram e sonharam com o fim da ditadura e a recuperação da liberdade.