O futebol não pode sair dos Jogos Olímpicos

Toda edição dos Jogos Olímpicos é a mesma ladainha: “o futebol é esquisito”, “o futebol não tem lugar” ou “se é para ser assim, é melhor nem ter”. No calor dos eventos, parece fazer sentido. Afinal, para que se esforçar para ter o futebol se o esporte

As Olimpíadas são, antes de tudo, um encontro entre atletas e esportes de todo o mundo. Ainda que patrocinadores e a competitividade natural de cada concorrente criem uma exigência por vitórias, o evento tenta manter um mínimo de espírito amadorístico. Por exemplo, aceita atletas – normalmente corredores e nadadores – claramente sem nível técnico só para que todos os países do mundo enviem alguma delegação. Por isso, dá para dizer que os Jogos celebram o esporte como manifestação cultural universal.



Tendo isso em vista, não faz sentido um evento com esse fim deixar de lado a modalidade mais popular do mundo. As Olimpíadas devem servir de referência do que é o esporte mundial. Como uma feira do esporte. E é preciso que os mais importantes estejam lá, como o futebol (e o beisebol, o rúgbi e o golfe só para citar outras modalidades muito populares no mundo que estão fora do programa olímpico para 2012).



Uma saída do futebol não tiraria a legitimidade dos Jogos. Também não teria um grande impacto na popularidade do evento, até porque as modalidades que mais chamam a atenção são as individuais, notadamente atletismo, natação e ginástica artística. No entanto, é derrotismo simplesmente aceitar a incompatibilidade do futebol.



A questão da limitação de idade é realmente desagradável. Mas algumas das “particularidades” do futebol olímpico são justificáveis. Por exemplo, as competições começarem antes da cerimônia de abertura. Não é possível encaixar um torneio com seis datas em 15 dias, a não ser que se passe por cima da necessidade básica de dar aos atletas três dias de descanso entre um jogo e outro.



Do mesmo modo, fazer todos os jogos de futebol na cidade-sede é inviável. Ao contrário de basquete, vôlei e handebol, que são praticados em ambiente fechado (e climatizado), o futebol não permite que se realizem quatro partidas em seqüência no mesmo dia e local. Alguns jogos seriam realizados na hora do almoço e os jogadores morreriam em campo. Assim, é preciso que se usem vários estádios diferentes e poucas cidades do mundo comportam quatro ou cinco arenas de futebol com modernidade e capacidade para receber os Jogos Olímpicos.



Por isso, é apenas questão de COI e Fifa negociarem. O COI deseja um torneio com estrelas mundiais e a Fifa quer o contrário. Mas há modos de se caminhar. Por exemplo, se o futebol olímpico fosse uma espécie de Copa das Confederações melhorada, com os campeões de cada continente e mais uma ou outra equipe. Uma competição nesses moldes jamais faria frente à Copa do Mundo, mas teria legitimidade esportiva que poderia agradar ao COI.



O debate sobre o futebol olímpico ainda tem muito a progredir antes que o considerem encerrado. E é importante que tal conversa prossiga, porque o futebol precisa estar nos Jogos Olímpicos. Não pela atenção do público, mas porque é o esporte mais popular do mundo, algo que o maior evento poliesportivo do mundo precisa ter.