John Hemingway: 'Presidente Palin'
As pesquisas mais recentes indicam que Obama e McCain estão cabeça a cabeça e qual deles vai ganhar a eleição em novembro só na advinhação. É difícil acreditar que algum americano inteligente, depois de oito anos da administração devastadora de Bush, p
Publicado 08/09/2008 17:59
Fundamentalmente não há muita diferença entre os dois candidatos. Ambos apoiam a guerra contra o terror (Obama até elogia o avanço de Bush no Iraque, dizendo que tem sido um “grande sucesso”). Ambos devem favores às grandes corporações e aos bancos, responsáveis pela atual crise econômica nos Estados Unidos. Nenhum é a favor de um sistema nacional de saúde administrado pelo governo (uma espécie de medicina socializada), similar ao que existe no Canadá e em países europeus. Claro, como políticos bem sucedidos, eles logo aprenderam que você não morde a mão de que alimenta você, e isso significa que o HMO (atual sistema privado de saúde nos EUA) e todos que o defendem continuarão a acumular seus lucros obscenos, não importa quem chegue à Casa Branca.
A verdadeira diferença está na escolha do vice-presidente. Obama escolheu Joe Biden, que é uma espécie de “insider”, que consegue informações privilegiadas em Washington. Ele também é ligado umbilicalmente às maiores companhias de cartão de crédito dos EUA. Ele liderou a S-256, uma lei que tira das pessoas todo tipo de proteção que tinham, deixando-as nas mãos de seus credores, quase sempre companhias de cartão de crédito. Ele é um homem que foi comprado e pago por essas corporações e a América sendo como é, não há nada de excepcional nisso. É apenas a maneira como as coisas são feitas.
A escolha de McCain, porém, é uma lembrança, se é que alguém precisa ser lembrado, de como a elite da América pode ser nojenta quando é necessário. Quando os democratas terminaram sua convenção em Denver, com a indicação de Obama, num estádio lotado com 80.000 espectadores de todas as partes do país e do mundo, os republicanos ficaram em apuros. Seu candidato estava caindo em algumas pesquisas em quase dez pontos percentuais e tudo o que tinham a fazer era admirar o estilo bombástico do discurso de Obama e compará-lo ao jeito tímido de McCain quando ele falava, para saber que ele perderia. McCain era velho (e cheio de câncer), enquanto Obama era jovem e exuberante. A escolha era clara, e foi aí que McCain decidiu atirar uma bola de curva nos democratas e revelou Sarah Palin, a governadora do Alasca.
Palin é uma jacobina. Uma radical fundamentalista cristã que acredita que a invasão e ocupação do Iraque pelos EUA é uma “guerra de Deus” e alguém que acha que todos os jovens da América devem estar lá, lutando contra o Islam, como um dos filhos dela. Ela também acha que os homossexuais devem ser presos (e talvez até mesmo queimados na estaca) e que o “criacionismo” (uma pseudo-ciência que prega a criação do mundo em apenas sete dias) deve ser ensinada em todas as escolas públicas. Tão convencida está das satânicas idéias de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, que ela tentou banir o livro da biblioteca da pequena cidade onde foi prefeita, e como isso não funcionou ela tentou demitir o bibliotecário.
Ela é, como todos sabem, contra o aborto e orgulhosamente anunciou, antes da convenção republicana começar, que sua filha de 17 anos, grávida, concordou em assumir o bebê e que o “pai” fora convencido a casar-se com a namorada, embora ele tenha citado numa entrevista que não “tinha nada a ver com crianças”.
Palin é a favor da extração ilimitada de petróleo no seu estado (mesmo em áreas de preservação) e se diz uma ávida caçadora e comedora de carne de moose (uma espécie de veado). O que muitas pessoas não sabem é que ela também é a favor da caça aérea de predadores como ursos e lobos e assinou leis no Alasca transformando esse sujo e covarde assassinato mais fácil.
Então, por que McCain escolheria uma anti-ambientalista, uma autoritária que é contra os gays, como Palin, quando mais de 70% dos americanos são contra a guerra no Iraque e estão preocupados com os efeitos do aquecimento global? Simples, porque o Partido Republicano não é uma organização democrática, mas uma teocracia, cujos membros acreditam, em sua maioria , como a Bíblia ensina, na Segunda Vinda, no reino da Besta e no número 666. Eles são Dominionists (cristãos políticamente conservadores) e estão preparando o mundo para o dia em que o Cristianismo triunfará sobre o mal.
Uma fanática cristã fascista está a apenas um batimento cardíaco de distância da Presidência. Que pensamento confortante!
John Hemingway é escritor e tradutor, formado pela Universidade da Califórnia (UCLA). Neto do célebre escritor Ernest Hemingway, John está escrevendo um livro sobre o relacionamento entre o pai dele, Gregory, e o avô.
Fonte: Direto da Redação (http://www.diretodaredacao.com/)