CTB: O banqueiro Meirelles sabota o desenvolvimento

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), liderado pelo banqueiro Henrique Meirelles, promoveu na noite de quarta-feira (10) mais um abusivo aumento da taxa básica de juros (Selic), elevando-a de 13% para 13,75% ao ano. Foi o quarto aume

Condenados à mediocridade



Como que por ironia a decisão foi adotada, por cinco votos a três, no mesmo dia em que o IBGE divulgou o robusto crescimento do PIB no segundo bimestre do ano, de 6,1%.



A notícia, alvissareira para a classe trabalhadora e a maioria da sociedade, certamente causou calafrios no banqueiro Meirelles e nos monetaristas do BC. Ali reina, absoluta, a convicção de que o Brasil está condenado à mediocridade e não pode crescer mais do que 2% a 3% ao ano sem sacrificar a estabilidade da moeda.



Falsa ciência



O pretexto de combate à inflação já não convence. A alta dos preços das commodities é um fenômeno internacional, provocado principalmente pela crescente volatilidade do padrão dólar, que ainda se mantém como a precária unidade de referência para a determinação dos preços no comércio exterior.



Tanto é assim que a recente revalorização das verdinhas emitidas pelo Tio Sam derrubou as cotações do petróleo e dos alimentos em todo o mundo, repercutindo por aqui numa queda generalizada dos diferentes índices de inflação.



É importante que os sindicalistas e a classe trabalhadora se conscientizem de que à sombra da suposta sabedoria técnica de que se reveste a decisão do Copom, desta vez com a dissidência de três integrantes, movimentam-se interesses outros, obscuros, poderosos e inconfessáveis – embora sob o disfarce de ciência.



Transferência de renda



Estima o Dieese, em sua mais recente Nota Técnica sobre a Inflação, que ''cada ponto percentual de crescimento na taxa básica de juros pode acrescentar, anualmente, 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ao estoque da dívida, ou seja, algo como R$ 13 bilhões''.



Tendo em vista que, desde o dia 16 de abril até a última quarta-feira, o Copom elevou a Selic de 11,25% para 13.75%, ou seja, em 2,5 pontos percentuais, podemos concluir que a brincadeira já resultou num incremento de R$ 32,5 bilhões à dívida interna, cujo estoque não pára de crescer. Trata-se de uma transferência de renda cavalar do erário público (equivalente a mais de três orçamentos anuais do Bolsa Família) em benefício da oligarquia financeira.



Sacrificando o futuro 



A operação, eminentemente financeira, pode até parecer fictícia, mas não é. O pagamento de juros extorsivos aos credores é um fenômeno muito real e que custa caro ao contribuinte brasileiro. ''É uma conta que se arrasta para o futuro e pode exigir novas metas ampliadas de superávit primário para impedir seu descontrole'', conforme observa o Dieese na nota técnica.



Como o movimento sindical está careca de saber a economia de gastos e investimentos estatais para pagar os juros da dívida pública e impedir a deterioração da relação dívida/PIB, incluindo a DRU, é realizada com o sacrifício de verbas que deveriam ser destinados à infra-estrutura, à valorização do salário mínimo, ao funcionalismo, ao saneamento, à habitação, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer e outros serviços públicos essenciais e (para nós) absolutamente prioritários.



União das centrais



Juros em alta também comprometem o crescimento do consumo e dos investimentos, afetando a produção. O Brasil tem crescido ao longo dos últimos anos e isto é muito positivo para os trabalhadores e trabalhadoras. Porém, é preciso que se diga que outros países do antigo Terceiro Mundo e as economias ditas emergentes, têm registrado um desempenho melhor. É o caso da China, da Índia, da Rússia, da Venezuela e da Argentina, entre outros.



O PIB da Rússia, por exemplo, avançou 8% no primeiro semestre deste ano; o da Venezuela cresceu 7,1% no segundo trimestre. O Brasil exibiu uma taxa robusta no segundo trimestre, de 6,1% segundo o IBGE, mas ainda assim inferior aos dos dois outros exemplos citados. Nosso potencial de crescimento é grande, como de resto ficou provado no passado (entre 1948 a 1980 nosso PIB cresceu 7,1% ao ano em média), porém o desempenho da produção vem sendo artificialmente contido pela orientação econômica conservador.



É o futuro da nação, bem como do emprego e dos salários da classe trabalhadora, que está em jogo e corre o sério risco de, mais uma vez, ser frustrado e sacrificado no altar dos juros altos, sob as benções do banqueiro Henrique Meirelles. O fórum das centrais deve voltar a se reunir, deixando por ora de lado temas e concepções que dividem, para unificar forças e desencadear uma luta mais ampla e efetiva pela redução dos juros e em defesa do desenvolvimento nacional com soberania e valorização do trabalho.  



* Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil