Segunda-feira maldita após falência do banco Lehman

O anúncio da falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers provocou nesta segunda-feira (15) um novo terremoto na cena financeira mundial. Há quem compare a crise atual com a de 1929, enquanto as autoridades financeiras mundiais tentam evit

O banco, que solicitou proteção contra seus credores com base no Capítulo 11 da lei americana de falências, anunciou dívidas que sobiam a US$ 613 bilhões em 31 de maio, e um total de ativos da ordem de US$ 639 bilhões. A dívida exigível pelos 30 primeiros credores do banco de investimentos atingia US$ 158 bilhões em 2 de julho, compondo-se essencialmente por obrigações bancárias (US$ 155 bilhões), além de empréstimos bancários, o mais elevado deles da ordem de US$ 463 milhões, junto ao banco japonês Aozora.



Um fundo de US$ 70 bi



As bolsas asiáticas, que são as primeiras a fechar, deram o tom de umna segunda-feira maldita nas praças financeiras mundiais. Mumbai caíu 3,35%, Taiwan 4,09%. A queda prosseguiu mais tarde nas bolsas européias: a Bolsa de Franckfurt registrava no fechamento um recuo de 2,74%, a de Londres de 3,92%. Em Paris, o índice CAC 40 conheceu a sua quarta maior baixa do ano e fechou em -3,78%.



A fim de evitar uma crise maior, as autoridades financeiras se esforçaram por transmitir segurança aos mercados, com os bancos centrais tomando medidas para elevar a liqüidez. O Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra intervieram na manhã de segunda-feira, injetando respectivamente 30 bilhões de euros e 5 bilhões de libras (US$ 43 bilhões e 9 bilhões, respectivamente).



Desde o domingo, o Federal Reserve (banco central dos EUA) adotara por sua vez medidas técnicas, aceitando títulos bancários de risco e dificilmente vendáveis e fornecendo dinheiro vivo para os bancos em dificuldades. Dez bancos americanos e estrangeiros também levantaram em tempo recorde um fundo de US$ 70 bilhões ao qual poderão recorrer caso se vejam em perigo de ficar sem liquidez.



“Grande Depressão”



O ex-presidente do Federal reserve americano, Alan Greenspan, analisava no domingo a crise atual como “um acontecimento que se produz uma vez em cada cinquenta anos, provavelmente uma vez por século”. E o candidato democrata na eleição presidencial dos EUA, Barack Obama, evocava “a mais grave crise financeira desde a Grande Depressão [de 1929]”. Porém outros observadores foram mais tranqüilos.



O Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz avaliou que a crise financeira atual deve ser menos grave que a da década de 30. “Sempre é possível errar, mas o ponto de vista geral é que dispomos atualmente de ferramentas em matéria de política fiscal e monetária para evitar uma outra grande depressão”, declarou ele à AFP.



O economista prevê que a situação deve continuar a se deteriorar nos mercados financeiros internacionais, mas que a mundialização tenderia a jogar o papel de um amortecedor.  Otimista, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, assegurou que o sistema bancário estava “sadio e sólido” e que os americanos podiam confiar em suas contas bancárias.



Outros esperavam que a liquidação do Lehman Brothers acelera a reforma que parece conduzir a uma reconcentração do mercado financeiro. Depois da compra do Bear Starns pelo JP Morgan, em março, o Bank of America oficializou, nesta segunda-feira, a compra de outro grande nome de Wall Street, o Merrill Lynch, por US$ 50 bilhões.
Conforme o diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, “um longo processo” parece conduzir à “consolidacnao do setor financeiro”.



“A posteriori, uma vez passada a tempestade, essa recomposição (das finanças) poderia ser percebida como o início de uma cura e marcar o fim do risco moral que pesa sobre o setor”, estimam analistas da CM-CIC Securities, que chamaram de risco moral a noção, por parte dos operadores financeiros, de que os poderes públicos sempre intervirão no último momento para evitar uma crise generalizada, o que os estimula a assumir operações perigosas.



No caso do Lehman Brothers, as autoridades federais americanas rcusaram-se a aportar dinheiro fresco, depois de terem desembolsado US$ 29 bilhões para garantir a compra em regime de urgência do Bear Stearns, e se comprometer com US$ 200 bilões na semana passada para manter de pé os bancos hipotecários Fannie Mae e Freddie Mac.



Fonte: Le Monde