Unasul tem que se reunir e dizer: “Todos estamos com Evo!”

Os governos sul-americanos, que se reunirão nesta segunda-feira (15), em Santiago do Chile, devem dar uma contundente resposta ao governo agonizante de George W. Bush, por seu apoio solapado, mas provado, a favor dos separatistas da Bolívia, que buscam

Ainda que as chancelarias de Argentina, Brasil, Venezuela e outros países da região já tenham expressado seu apoio à democracia, à paz e à integridade dessa nação tão castigada e de tanto valor estratégico, é preciso que o conjunto da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) faça com que os Estados Unidos sintam que a realidade hemisférica é muito diferente da que imperava em 1973, quando a CIA e Henry Kissinger permitiram o golpe contra Salvador Allende.



A dureza da resposta diplomática é imprescindível para que os candidatos presidenciais Barack Obama e John McCain saibam que, além das diferenças políticas e ideológicas, a diplomacia norte-americana esta mais que desacreditada em nossa região, porque o modelo econômico que propiciam converteu a América Latina na zona mais desigual do planeta.



Tanto McCain como a incógnita chamada Obama devem saber que por este caminho vão mal e só conseguiram alentar o sentimento profundo anti-EUA que impera na maioria de nossas sociedades.



O exemplo da Cúpula de Mar del Plata, em novembro de 2005, deveria resultar em algo construtivo. Lá, a mobilização popular do “Stop Bush”, gerou o contexto adequado para que os presidentes do Mercosul rechaçassem completamente a intenção de implantação da Alca.



Todos somos Evo. O que está ocorrendo na Bolívia pode acontecer a qualquer presidente latino-americano que pretenda fazer valer a soberania nacional, especialmente se tentar defender seus recursos naturais.



A estabilidade democrática na Bolívia é essencial para toda a América do Sul, mas de maneira muito especial para a Argentina e o Brasil, que depende em grau muito elevado do gás boliviano.
 


Sobram aos presidentes da região argumentos para defender Evo Morales. Suas credenciais são absolutamente impecáveis. Acaba de ganhar o referendo com quase 68% dos votos e a ninguém cabe dúvidas de que as massas populares do país o apóiam decididamente.



Além disso, ele vem procedendo com uma clara vocação pacifista, que exclui a repressão violenta dos opositores, apesar do fato de um dos governadores separatistas – o feudal Leopoldo Fernández, ex-funcionários dos ditadores militares García Meza e Banzer –  ter organizado ao recente massacre de Porvenir, onde ao menos 15 camponeses foram assassinados, além de inúmeros desaparecidos.



Evo somente apelou a seu último recursos, o Exército, quando os separatistas da “meia-lua” se lançaram para ocupar aeroportos, estações de ônibus, aduanas e áreas em redor dos campos petroleiros e de gás – atitude que está mais do que justificada pela índole criminosa e racista das minorias oligárquicas que ameaçam a Bolívia.



Mais que isso: a resposta do Evo foi eminentemente pacífica: enviou uma carta aos cinco governadores separatistas de Beni, Pando, Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca, chamando-os ao diálogo.



Tampouco houve imprudência alguma na decisão de expulsar o embaixador norte-americano Philip Goldberg, diga o que diga o Departamento de Estado. Goldberg, a quem já classificamos aqui como um “expert em separatismos”, foi um dos protagonistas do processo que culminou na Guerra de Kosovo.



Muitos meses antes de Evo o expulsar, o embaixador já teve que se desculpar ante o presidente boliviano, quando um de seus assistentes norte-americanos foi acusado judicialmente de contratar agentes locais para espiar cubanos e venezuelanos em território boliviano.



Antes e depois desse escândalo, o embaixador havia financiado os grupos opositores por meio de agências usualmente utilizadas por Washington para esses fins, como a Usaid. Em janeiro de 2007, promoveu um interessante seminário sobre segurança e defesa, do qual participaram militares norte-americanos, com a clássica desculpa da “ajuda humanitária ao povo boliviano”.



Os camponeses de Porvenir já viram como se dá essa “ajuda humanitária”.



Com essas e outras cartas na mão, os presidentes sul-americanos que se reunirão nesta segunda-feira deveriam mostrar aos Estados Unidos que já não há espaço na região para tolerar ingerências golpistas.



Tradução: Fernando Damasceno