Espanha recebe lista com 130 mil desaparecidos no franquismo

As associações que lutam pela recuperação da memória histórica espanhola entregarão nesta segunda-feira (22) ao juiz Baltasar Garzón um relatório contendo os nomes de 130 mil pessoas desaparecidas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e o franquism

O juiz Garzón decidiu, em 28 de agosto, abrir uma investigação sobre as vítimas da guerra civil e do franquismo, e solicitou informações a quatro ministérios (Cultura, Justiça, Defesa e Interior), à Conferência Episcopal Espanhola, à Abadia do Vale dos Caídos (onde está enterrado o ditador Francisco Franco) e a quatro governos municipais (Córdoba, Sevilha, Granada e Madri).



Nunca havia sido aberto um processo de tais dimensões na democracia espanhola. A intenção de Garzón é recolher informações antes de se pronunciar sobre a competência ou não de seu tribunal para investigar denúncias apresentadas por 13 organizações. Elas acusam o regime do general Franco de crimes contra a humanidade, executados entre 1936 e o começo dos anos 50.



O historiador Francisco Espinoza é o autor do relatório que será apresentado a Garzón, no qual se contabiliza a cifra de 130 mil desaparecidos. “E eles são apenas a ponta do iceberg”, afirma Espinosa, que desde o início de suas pesquisas, 30 anos atrás, denuncia haver encontrado inúmeros obstáculos para obter acesso aos arquivos da repressão franquista.



Restam ainda muitas valas comuns não descobertas espalhadas pela Espanha, tantas que as associações nem se arriscam a oferecer números aproximados. “Em Málaga, estamos escavando há um ano e meio uma vala comum contendo 5.000 ossadas”, diz Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica e neto do desaparecido Emilio Silva Faba. Os descendentes de pessoas desaparecidas durante o franquismo começaram a se associar no final dos anos 90 para impedir que seus antepassados fossem extirpados da memória coletiva e institucional.



Emilio Silva afirma que a intenção da associação que preside é tanto divulgar a verdade quanto conseguir que o Estado assuma e custeie a exumação e identificação de ossadas, como fizeram outras democracias.



Fonte: Folha de S.Paulo