Por que nossas oligarquias políticas se incomodam com Manuela?

Nas eleições de Porto Alegre, temos um Prefeito que concorre à reeleição e uma candidatura que representa a administração que esteve por 16 anos à frente da Prefeitura até o ano de 2004. Mas, se você parar para notar, não é nenhum deles que concentra a at

O candidato que tenta, legitimamente, a sua reeleição, além de mostrar o que fez, se preocupa em mostrar que também é “o novo” (“o novo não é prometer, é fazer”, como se fosse possível a um candidato de oposição mostrar “o que fez” se ele não esteve no governo, e como se o próprio Fogaça não tivesse feito promessas em 2004…). Em sua carga de mídia, dispensa um tempo generoso para alfinetar Manuela: “Não podemos dar um passo maior que as pernas” e “tudo na vida tem hora” são as suas mensagens subliminares de ataque à Manuela.
 


A representante do PT, invés de abrir sua campanha cotejando o seu governo e o governo de Fogaça, também se esforçou para parecer “o novo”, massificando o slogan “experiência para fazer o novo”. Subliminarmente, reproduz contra Manuela o mesmo preconceito que por anos se alimentou contra Lula, que era acusado de “não ter experiência para governar”. Isso sem falar na critica incongruente contra a aliança de Manuela: o PT pode fazer aliança com o PPS em 61 municípios gaúchos; Lula pode ter partidos que apoiaram a Fernando Henrique em sua base de sustentação (e isso é um elogio, Lula é um conciliador e assim entrou para a história como um dos melhores Presidentes que o país já teve), mas Manuela não pode ter o PPS em sua aliança. Será que eles não percebem que o povo sente que eles dizem uma coisa e fazem outra? Todos atacam Manuela, mas no fundo querem ser um pouco Manuela.
 


Manuela é o fato da eleição e incomoda os seus adversários. Ela não ataca ninguém. Faz críticas exclusivamente políticas, propõe um debate de alto nível na eleição, mas ela é a mais atacada: porque é jovem; pelo fulminante sucesso de sua carreira política; porque aposta em unir e não em dividir. Numa suprema prova do anacronismo da política tradicional, Manuela é atacada por suas virtudes.
 


Quem se incomoda com Manuela são as oligarquias políticas tradicionais da cidade, seja de um lado ou do outro: candidatos, dirigentes partidários, coordenadores de campanha, jornalistas militantes e, é claro, quem ocupa CC's hoje ou ocupava até pouco tempo. Ela incomoda porque altera um ciclo de polarização que era bom para seus dois protagonistas.
 


A polarização da política porto-alegrense entre o PT e uma ampla frente anti-PT era a garantia de alternância de governos de condomínio e partilha da máquina pública. Entre tendências petistas num caso, entre partidos políticos no outro. Era a garantia da subserviência de partidos pequenos, como o PSB, o PCdoB, o PPS, o PTB ou o PP, aos dois grandes partidos do estado, o PT e o PMDB. No fundo, uma polarização que produzia a mesma lógica do bi-partidarismo americano: os dois se alternam no poder e ninguém de fora entra no jogo. A presença de Manuela irrita justamente porque ela quebra essa cartelização da política na cidade. Para quem ainda não entendeu, esse é o caminho novo que ela propõe para Porto Alegre.
 


A vitória de Manuela na eleição terá profundas conseqüências.  Poderá ser o fim da era dos “governos mornos”, que se limitam ao “mais do mesmo”, porque a própria Manuela auto-impôs metas ousadas para sua administração e sabe que será cobrada por isso. Será o fim do debate político maniqueísta entre o bem e o mal. Será um passo à frente no sentido da modernização da gestão pública e da nossa política; de sua dinâmica de alianças; de suas possibilidades pluralistas. Será a oportunidade de vermos um governo que agrega, não por causa dos cargos que distribui, mas pelo carisma da Prefeita e os valores que ela inspira. O debate político em Porto Alegre vai olhar para frente, ao invés de se alimentar do passado. A vitória de Manuela será a vitória da alegria contra o rancor. Sim, esses elementos anímicos também fazem parte da política e da vida de uma cidade.
 


Manuela não é produto do marketing. Aliás, a nossa principal função (dos marqueteiros de Manuela) é não inventar e não atrapalhar nossa candidata. Ao contrário, o segredo da campanha é mostrar Manuela como ela realmente é, sem se preocupar se ela deve ou não usar óculos, alisar o cabelo ou deixá-lo crespo. Manuela é uma rara expressão da política autêntica. Por isso, ela incomoda tanto. É por isso que Porto Alegre não pode perder essa chance.
 
 


Juliano Corbellini
Doutor em Ciência Política
Membro da coordenação de marketing da coligação “Porto Alegre é Mais”.